É interessante ver em “Caterpillar” a diferença entre a vida pública e vida privada do casal. Fora de casa, o guerreiro é admirado e a mulher, apesar de pressionada, é vista como um exemplo para toda as outras esposas da guerra. Dentro de casa ele só transa, come, dorme e faz as necessidades físicas. Talvez porque o sexo seja a única forma de se comunicar ou, também, porque sem os membros sai do “estado humano” e entre em um “estado animal”. Afinal, a tradução de “Caterpillar” é “larva”, a larva que se transforma em uma borboleta. No caso do jovem, o caminho foi inverso.
As cenas de sexo – que são muitas – incomodam. Não só pela condição física do marido, mas por a esposa satisfazê-lo sem a menor vontade. Logo descobrimos que este Deus da Guerra não é um indivíduo exemplar. E, acima de tudo, não é um caterpillar. Afinal tem consciência, tem sentimentos.
Mas a grande importância do filme é a esposa. O processo pelo qual ela passa durante todo o longa, de devoção ao marido, mesmo que de forma obrigatória, à humilhação ao homem que um dia abusou dela e que hoje não pode fazer mais nada, apesar de interessante é, às vezes, um pouco forçada e um pouco “já vi isso antes” demais. Em uma estante do lar do casal, estão dispostas as medalhas que ele recebeu e uma notícia de jornal emoldurada que enaltece os feitos do ex-soldado. É claro que terá uma cena na qual a esposa, ao explodir, destrói e quebra todas essas lembranças de que seu marido é, agora, um herói, um “Deus da Guerra”. Aliás, dá para entender porque a atriz ganhou o prêmio no Festival de Berlim. Ela expressa todos os tipos de sentimentos imagináveis durante a 1 hora e 25 minutos de filme. Sabe quando alguém quer mostrar como os sentimentos são contraditórios e, em uma cena, a personagem troca de um para o outro como se estivesse trocando de sapato? Então.
Há ainda, no longa, uma crítica sobre como a sociedade em guerra forma seus membros. Apesar de pertinente e atual, é tratada de forma óbvia. Aliás, este é um problema constante em “Caterpillar”. Apesar do começo promissor, a falta de personalidade da narrativa compromete o restante do filme.
Caterpillar (2010, Japão)
direção: Koji Wakamatsu; roteiro: Hisako Kurosawa, Deru Deguchi; fotografia: Tomohiko Tsuji, Yoshihisa Toda; montagem: Shuichi Kakesu; música: Sally Kubota, Yumi Okada; com: Shinobu Terajima, Shima Ohnish, Ken Yoshizawa, Keigo Kasuya, Emi Masuda. 85 min