Dois filmes sobre a estilista francesa Coco Chanel chegaram aos cinemas recentemente. O primeiro, “
Coco Antes de Chanel”, dirigido por Anne Fontaine e estrelado por Audrey Tautou, se concentra no lado biográfico de Chanel, o começo de sua carreira e sua importância para a moda. Já o segundo filme, “Coco Chanel e Igor Stravinsky”, serve praticamente como um complemento, sendo centrado no relacionamento amoroso de Chanel com o compositor russo Igor Stravinsky.
Além de obviamente serem filmes sobre a mesma personagem, uma curiosa relação pode ser notada entre as duas produções, tanto na temática quanto na abordagem. “Coco Antes de Chanel” fala mais sobre a estilista e suas ideias que revolucionaram o modo de vestir da mulher do século 20. Já em “Coco Chanel e Igor Stravinsky”, a estilista já está estabelecida profissionalmente e vemos como ela criou o famoso perfume Chanel Número 5. Ou seja, é um filme que fala mais sobre a essência, nos dois sentidos da palavra, de Coco Chanel. Enquanto o primeiro é sobre o que se vê, isto é, as roupas e a biografia, o segundo é sobre o que é invisível, a fragrância e as emoções.
Daí a presença de Igor Stravinsky no título. É também um filme sobre ele, que foi uma pessoa tão influente para a música quanto Chanel foi para a moda. Na tela, a relação entre essas duas figuras surge de uma atração que não é apenas sexual, mas que está intimamente ligada à compreensão que ambos possuem da grandeza artística de cada um.
O diretor holandês Jan Kounen é pouco conhecido, mas já havia feito, em 2004, um faroeste bastante peculiar chamado “Blueberry – Desejo de Vingança”, com Vincent Cassel, Michael Madsen e Juliette Lewis. E Kounen dá ao romance de Chanel e Stravinsky uma aura similar, que transcende o rótulo atribuído a filmes do gênero. Daí temos poucos diálogos e muitas cenas onde os olhares e as ações – dos personagens e da câmera – é que procuram explorar a natureza dos personagens e, principalmente, desse momento particular em que eles se encontram em suas biografias.
É um filme bonito, e bem interpretado por seus protagonistas Anna Mouglalis de “A Teia de Chocolate”, e o dinamarquês Mads Mikkelsen, o vilão de “007 – Cassino Royale” e não menos brilhante como o protagonista de “Depois do Casamento”. E a trilha sonora, como não podia deixar de ser, traz as composições de Stravinsky e usa como tema principal a consagradíssima “Sagração da Primavera”. Um primor de música, bastante adequada para a atmosfera do filme.
Coco Chanel e Igor Stravinsky (2009, França)
direção: Jan Kounen; roteiro: Carlo De Boutiny, Jan Kounen, Chris Greenhalgh (baseado no livro de Chris Greenhalgh); fotografia: David Ungaro; montagem: Anny Danche; música: Gabriel Yared; produção: Chris Bolzli, Claudie Ossard; com: Anna Mouglalis, Mads Mikkelsen, Yelena Morozova, Grigori Manukov, Anatole Taubman, Marek Kossakowski; estúdio: Hexagon Pictures; distribuição: Imovision. 118 min
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.
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