Nunca tinha ouvido falar em Dzi Croquettes. Na verdade, não tinha ideia da existência desse grupo de homens vestidos de mulheres, cantores, dançarinos e comediantes natos, responsável por injetar tanto frescor no humor brasileiro a ponto de se tornar referência. Será que o Dzi Croquettes foi, então, uma manifestação artística restrita à cena teatral carioca e por lá ficou? É inegável a sua importância para o Rio de Janeiro, mas não justifica o aparente esquecimento no qual o Dzi Croquettes parece ter caído.
Ao acender das luzes da sala de cinema, a impressão que o documentário “Dzi Croquettes” deixa é a de um grupo que foi um marco nas artes cênicas brasileiras, um marco no humor, uma vanguarda teatral, algo nunca antes visto e cuja memória deve existir e ser preservada. Tatiana Issa e Raphael Alvarez conseguem tudo isso, mesmo através de um obra convencionalíssima.
A trajetória do Dzi Croquettes é contada cronologicamente. Primeiro, dá-se o cenário brasileiro no qual o grupo surgiu: ditadura militar. Depois de algumas imagens, um trecho de “Roda Viva”, do Chico, e de uma referência ao AI-5, o filme chega ao nascimento do grupo. Daí, fala, na ordem dos fatos, sobre seus criadores, sua ascensão, seu sucesso internacional, sua queda e seu final. Talvez, a originalidade ou a ousadia não teria mesmo tanta importância ao documentário. O próprio personagem principal, o Dzi Croquettes, já cuidou disso.
A importância do grupo não é mostrada, portanto, pelo percurso narrativo escolhido por Issa e Alvarez. Mas pelas declarações, pelas pessoas que se envolveram, direta ou indiretamente, com o grupo. Todos, desde os membros restantes do Dzi Croquettes até renomados atores que o presenciaram em seu auge, como Marília Pêra, Cláudia Raia e Pedro Cardoso, falam do grupo com tanta paixão, com tanta saudade, com tanto amor, com a total consciência da importância deles para as suas vidas e suas artes, que parece impossível esses sentimentos não serem passados para o público.
E, apesar do convencionalismo, o trabalho de Tatiana Issa é extremamente pessoal. Em alguns minutos, Issa é a narradora do documentário. Nos mostra que o filme não existe apenas para contar a história de um grupo que marcou época ou para livrá-la do esquecimento. Tatiana Issa estava lá. Filha de Américo Issa, cenógrafo do grupo, a menina passou sua infância nas poltronas de teatros e rodeada pelos palhacinhos, imagem que, quando criança, guardou do Dzi Croquettes. O filme existe, portanto, como uma forma de a diretora tentar desvendar quem ela é hoje e quem foi seu pai (que faleceu em 2001), ao se aprofundar nas imagens de sua infância que ficaram guardadas em sua mente. Por isso, “Dzi Croquettes” se torna um filme inesquecível. Pela sinceridade e paixão de todos os envolvidos, direta ou indiretamente.
Dzi Croquettes (2010, Brasil)
direção: Tatiana Issa, Raphael Alvarez; roteiro: Tatiana Issa, Raphael Alvarez; fotografia: Tatiana Issa, Raphael Alvarez; montagem: Raphael Alvarez; produção: Tatiana Issa, Raphael Alvarez; estúdio: TRIA Productions, Canal Brasil; distribuição: Imovision.