Se há um filme este ano que devia fazer os brasileiros, sobretudo as mulheres, encherem as salas de cinema, não é “Sex and the City 2”, nem “Eclipse”: esse filme é “Muita Calma Nessa Hora”.
Dirigido por Felipe Joffily, o longa-metragem é um filme de praia, uma comédia pop que mira o público dos cinemas de shopping, principalmente as moças solteiras que poderão se identificar na tela. Não que isso impeça os homens de também apreciarem e se divertirem com o filme. Eu adorei.
Joffily faz aqui uma abordagem bastante diferente das personagens, se fizermos uma comparação com o seu primeiro filme, “Ódiquê?” – um retrato cômico e assustador da delinquência juvenil na classe média brasileira. Se naquele filme o cineasta faz um alerta e ao mesmo tempo uma chacota com os chamados “pitboys”, em “Muita Calma Nessa Hora” ele abraça e anda de mãos dadas com três patricinhas.
Apresentadas uma a uma logo no início, em uma daquelas montagens que se popularizaram no pós-anos 90 com letreiro e flashback, Mari, Tita e Aninha (papéis de Andréia Horta, Gianne Albertoni e Fernanda Souza) são amigas de infância que decidem curtir uns dias numa casa de praia em Búzios. O local é onde uma delas passaria a lua de mel se não tivesse pegado o noivo (ponta do humorista Bruno Mazzeo, um dos idealizadores do filme) no flagra com outra nas vésperas do casamento.
Ao invés de caracterizar as garotas como pessoas fúteis, o que seria um caminho mais fácil, Joffily prefere encará-las como pessoas críveis, mas dentro, claro, do contexto da ficção. Não há nada de cinema verdade aqui, mas aquelas meninas parecem ser tão reais quanto as que podem se sentar ao seu lado na sala do multiplex. E por mais que seus dramas mereçam aspas, já que elas mesmas conseguem resolvê-los numa noitada ou num banho de mar, o filme faz o mais importante, que é capturar a atenção do público até o final.
Se por isso Joffilly, Mazzeo e os co-roteiristas João Avelino e Rosana Ferrão merecem aplausos, o mesmo não pode ser dito da construção de uma quarta personagem: a hippie Estrella (Débora Lamm), que se junta às três amigas no meio da estrada para tentar encontrar o pai em Búzios. Não fosse ela ser a responsável pela parte drug-movie do longa (construída em cima de uma sequência engraçadinha e divertida que se repete ao longo do filme), sua participação no filme poderia ser reduzida sem maiores problemas.
Porém, dá para ver que há uma intenção por trás de Estrella de falar de liberalismo sexual: ela acaba por formar uma família que não é biológica, e isso pouco importa para sua definição de família. Da mesma forma, esse tema está subentendido em algumas atitudes de Aninha, personagem de Fernanda Souza (que a cada trabalho se revela uma grande atriz, que precisa fazer mais filmes), e no arco de Tita (Andréia Horta), que revoluciona suas relações afetivas após o fracasso do noivado. O problema é que esse conceito, embora presente, apenas flutua sobre o filme, quando poderia ser mais intrínseco à narrativa. A discussão acaba sendo diluída em favor da aproximação mais comercial.
O filme possui outras falhas pontuais: a montagem insiste em picotar cenas simples de diálogo, algumas piadas são desnecessariamente rasteiras, o patrocínio da Embratel carece de sutileza e há uma profusão de músicas na trilha sonora que acabam sendo distrativas e intrusivas. Mas se você puder suportar um pouco de Jota Quest e participações especiais de alguns comediantes geralmente intragáveis na TV aberta, “Muita Calma Nessa Hora” lhe renderá bons momentos.
Muita Calma Nessa Hora (2010, Brasil)
direção: Felipe Joffilly; roteiro: Bruno Mazzeo, João Avelino, Rosana Ferrão; fotografia: Marcelo Brasil; montagem: Marcelo Moraes; música: André Moraes; produção: Augusto Casé, Rik Nogueira; com: Andréia Horta, Débora Lamm, Fernanda Souza, Gianne Albertoni, Laura Cardoso, Lúcio Mauro, Lúcio Mauro Filho, Louise Cardoso, Dudu Azevedo, Marcelo Adnet, Maria Clara Gueiros; estúdio: Casé Filmes, Idéias Ideais; distribuição: Europa Filmes, Riofilme. 92 min