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Jack Sparrow e os personagens que não pararam na hora certa

Johnny Depp está convencido a interpretar Jack Sparrow eternamente. É a única conclusão possível após uma das últimas declarações do ator sobre a franquia. Depp disse ao Entertainment Weekly: “Desde que a gente consiga encaixar todas as peças eu, definitivamente, consideraria (um quinto filme)”. Lembrando que o ator aceitou participar de “Piratas do Caribe” 2 e 3, imagino que o “encaixar todas as peças” não seja o pré-requisito mais rigoroso do mundo.
“Surpresa” é a palavra para descrever a primeira vez de Jack Sparrow nos cinemas. Afetado, de caráter duvidoso, sustentado por um grande ator e muito senso de humor, o personagem se tornou maior que o próprio filme. Mas a superexposição tem tudo para transformá-lo numa dessa figuras cinematográficas quase insuportáveis.
Para refrescar a memória de Jonnhy Depp, que entra em cartaz nos cinemas com “O Turista” nesta sexta-feira, dia 21, confeccionei esta despretensiosa lista de personagens que deveriam ter sido superados enquanto era tempo. Johnny, uma dica: a possibilidade de uma história boa se repetir várias vezes com o mesmo personagem é difícil, e nem o mais legal deles consegue resistir a um roteiro mequetrefe.

SHREK

Hollywood, definitivamente, não sabe como lidar com personagens novos e bem-sucedidos. O caso Shrek é similar ao caso Jack Sparrow. Nenhum deles foi baseado em nada. Eram personagens originais, fresquinhos, saídos do forno. Conquistaram o público, e os produtores vislumbraram a possibilidade de serem explorados a exaustão. O resultado: cansaço. Ver este ogro verde em algum lugar, qualquer lugar, quase me faz arrepender do dia que assisti a “Shrek” pela primeira vez. Errata: “Shrek”, na verdade, é baseado em um livro infantil escrito por Willian Steig. Pablo Villaça, valeu pelo alerta!
CARRIE BRADSHAW
Carrie Bradshaw se tornou um dos ícones da década passada. Ditava moda, influenciou muita mulher por aí e era o oposto das mocinhas sem sal tão almejadas por Hollywood. Talvez, Bradshaw represente o início de uma nova era de personagens femininas menos estereotipadas. Porém, a TV não era o suficiente e Carrie e companhia tinham que se aventurar nos cinemas. Deu no que deu: o ícone se transformou em tudo aquilo que não era: a mocinha boba, fútil e chata.

OS DINOSSAUROS DE “JURASSIC PARK”

Lembro-me de quando assisti a “Jurassic Park” no cinema, pela primeira vez. Depois de pouco mais de duas horas, eu era uma criança impressionada, grudada na poltrona. Toda a construção de Spielberg fez dos dinossauros criaturas assustadoras e ameaçadoras. As poças d’água que se moviam com os passos dos bichos, a coleira vazia – sinal de que algum monstro tinha devorado o indefeso animal preso –, a primeira cena dos Tiranossauros, a sombra dos Velociraptors. Praticamente em todas as cenas do filme, Spielberg teve o cuidado de não transformar suas criaturas em simples “máquinas de ataque”. Trabalho completamente desfeito nas continuações. Hoje, os dinossauros parecem tão ameaçadores quanto os vermes malditos daquele filme que todo mundo viu no SBT.
ANAKIN SKYWALKER/DARTH VADER
Contar a origem de um dos vilões mais importantes do cinema é uma ideia tão boa quanto arriscada. Já que o objetivo era correr esse risco, pelo menos George Lucas e equipe não deveriam ter medido forças para realizá-lo bem. Mas todo o processo de Anakin Skywalker falha em um aspecto: sabemos no que ele irá se tornar, mas, no fim das contas, não estamos nem aí.

BRIDGET JONES
Bridget Jones era engraçada porque parecia alguém conhecido. Não era uma Angelina Jolie com inseguranças na vida pessoal, mas uma mulher normal, gordinha, sem muita vaidade, fumante, com uma queda para bebidas alcoólicas e um pouco paranóica. Nisso, nós conseguimos acreditar. No fim primeiro filme, Bridget Jones percebe que é uma pessoa normal como qualquer outra. Chega a continuação e Bridget Jones volta à estaca zero, parece não ter aprendido nada. A única conclusão possível é que Bridget, no fim das contas, é uma estúpida.

87,5% DOS PERSONAGENS DE EDDIE MURPHY

Deve ser muito difícil para Eddie Murphy ter o senso crítico para escolher um bom personagem. Pois quando o milagre acontece, ele parece não querer abandoná-lo nunca.
GREG FOCKER E JACK BYRNES
Por quanto tempo é possível fazer piadas sobre o conflito sogro e genro? Convenhamos, não muito. “Entrando Numa Fria” tinha um fiapo de trama, mas foi sustentado por cenas hilárias e uma dupla de atores carismáticos que transformavam seus personagens rasos em grandes destaques. Mas uma das consequências do sucesso é a zona de conforto. E foi nela que Greg Focker e Jack Byrnes caíram. Os papéis de Ben Stiller e Robert DeNiro viraram repetições desnecessárias.

HANNIBAL LECTER

Fiquei na dúvida se Hannibal Lecter merecia um lugar aqui. “O Silêncio dos Inocentes”, o primeiro filme com Anthony Hopkins no papel, é tão importante que ninguém se lembra muito das outras produções com a presença de Lecter, por melhores (“Dragão Vermelho”) ou piores (“Hannibal”) que elas sejam. Entra na lista porque a ideia de dar continuidade a Hannibal Lecter não fez diferença na vida de ninguém. Nem na minha, nem na sua, nem na de Hopkins.
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