“O Turista” é um título bastante sugestivo para a situação em que o diretor do filme, o alemão Florian Henckel von Donnersmarck, parece ter se encontrado enquanto trabalhava. Ele é mais um caso clássico de cineasta estrangeiro importado por Hollywood depois de fazer um filme de muito sucesso. No caso, Florian dirigiu em 2006 o premiado “A Vida dos Outros”. E a única ligação que esse filme possui com “O Turista” é a trama de espionagem. No mais, você não diria que são longas feitos pelo mesmo cineasta.
Como já aconteceu com vários outros diretores que deram um passeio no cinema americano e voltaram para casa, Flórian não deve ter tido muito controle sobre o corte final do filme, ou seja, a versão que o estúdio aprovou. É perceptível que ele tenta dar à narrativa um ar mais europeu, que flua com um ritmo mais calmo, que desenvolva melhor os personagens. Mas, ao mesmo tempo, vemos que as cenas românticas e as de ação parecem inseridas à força, surgem de repente e se vão, sem que qualquer atmosfera de suspense ou de romance seja criada de maneira apropriada. Ou seja, fica difícil para o espectador se envolver com o filme e, lá pela metade, ele corre o risco de estar extremamente entediado.
E o fato de o filme ter sido indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme Musical ou Comédia? Você não vai encontrar aqui números musicais com Johnny Depp como em “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, quanto menos cenas de humor suficientes para que o filme seja classificado como comédia. O Globo de Ouro (que é uma premiação bastante questionável, como já afirmei várias e várias vezes), em casos como o deste filme, parece não saber onde colocá-lo, porque os organizadores inventaram de separar os indicados em duas categorias: Drama e Musical ou Comédia. E “O Turista” também não é drama. O que fazer, então?
Da mesma forma, não dá para entender porque Angelina Jolie e Johnny Depp receberam indicações a não ser para irem à cerimônia do Globo de Ouro e atraírem publicidade, já que suas atuações no filme não vão além do burocrático. Johnny Depp, então, chega a repetir os trejeitos do pirata Jack Sparrow, de tantos tiques que pegou interpretando o personagem de “Piratas do Caribe”.
Olha, não se engane: “O Turista” é um filme sacal. Há um leve tom de deboche com a polícia internacional, sobre a perigosa maneira como ela confunde inocentes com terroristas ou criminosos procurados. Seria um tema bacana de ser explorado, mas parece que os produtores se interessaram em vender Veneza como ponto turístico mais que qualquer outra coisa.
O Turista (The Tourist, 2010, EUA/França)
direção: Florian Henckel von Donnersmarck; roteiro: Florian Henckel von Donnersmarck, Christopher McQuarrie, Julian Fellowes (baseado no roteiro de Jérôme Salle para o filme “Anthony Zimmer – A Caçada”); fotografia: John Seale; montagem: Joe Hutshing, Patricia Rommel; música: James Newton Howard; produção: Gary Barber, Roger Birnbaum, Jonathan Glickman, Tim Headington, Graham King; com: Johnny Depp, Angelina Jolie, Paul Bettany, Timothy Dalton, Steven Berkoff, Rufus Sewell; estúdio: Relativity Media, GK Films, Spyglass Entertainment, Studio Canal; distribuição: Columbia Pictures, Sony Pictures. 103 min
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.
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