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Thor

Kenneth Branagh parece uma escolha tão inusitada para dirigir um filme de super-herói como Ang Lee foi quando levou “Hulk” às telas, em 2003. No entanto, a escolha desses cineastas se mostra acertada quando analisamos suas carreiras. Se Lee sempre pautou seus filmes pelo tema do ressentimento carregado por seus personagens – drama do Dr. Bruce Banner – Branagh sempre demonstrou interesse por tragédias shakespearianas, como a premissa que envolve a origem de Thor, o Deus do Trovão.

 

O “Hulk” de Lee agradou apenas uma pequena parte do público com sua abordagem mais psicológica do Gigante Esmeralda, o que fez a Marvel reiniciar o projeto de uma franquia com o personagem contratando um diretor especialista em ação, Louis Leterrier, para o longa seguinte (que também contou com a assistência de Edward Norton no roteiro e no elenco). Lição aprendida, Branagh certamente foi aconselhado pelos chefes da Marvel a não fazer um filme autoral. E “Thor”, por mais que carregue o crédito de ser “um filme de Kenneth Branagh”, não possui essa personalidade.

 

A trama shakespeariana está lá, com elementos de “MacBeth” e “Hamlet”, e isso é o máximo que temos do cinema de Branagh na tela. Em termos de direção e do próprio aspecto da imagem do filme, “Thor” segue um padrão que a Marvel está claramente adotando para suas produções, a fim de torná-las semelhantes e, efetivamente, partes de um conjunto, cuja peça central será “Os Vingadores”, que terá não apenas Thor, mas também Hulk, Capitão América, Homem de Ferro, Nick Fury, entre outros, dividindo a mesma tela.

 

Dessa forma, “Thor” se assemelha ao “Hulk” de Leterrier e ao “Homem de Ferro” de Jon Favreau, ambos filmes de cineastas muito menos experientes que Branagh. Os três longas são muito bem feitos tecnicamente, possuem roteiros coesos (embora sigam exatamente a mesma fórmula, diga-se de passagem) e são bem-humorados (aspecto onde Tony Stark leva vantagem sobre os colegas). E os três também seguem a tendência de trazer os personagens dos quadrinhos para o cinema como se a existência deles no nosso mundo fosse possível. Assim, temos uma abordagem mais “realista”, digamos. Abordagem essa que está alguns degraus abaixo dos “Batman” de Christopher Nolan, é verdade, mas que ainda assim acaba por enfraquecer o caráter primordial das revistas em quadrinhos que é a fantasia e o absurdo.

 

É justamente nesse aspecto, que influi diretamente no campo visual, onde os diretores desses filmes poderiam impor seus estilos e fazer a diferença – exatamente o que Ang Lee fez em “Hulk”. O que restou a Branagh, além de reencenar Shakespeare, foi abusar de ângulos obtusos que deixam 70% dos enquadramentos do filme pendendo para a diagonal. Que se utilize esse tipo de recurso de composição pontualmente, tudo bem. Mas Branagh parece querer que o espectador entorte o pescoço para poder ver o filme.

 

Brincadeiras à parte, com “Thor” fica mais do que claro que a Marvel quer equilíbrio em seus filmes. Para o projeto do estúdio, é uma opção válida. No entanto, essa padronização pode se tornar um fator limitador para a mais adiante, quando o rumo das histórias desses super-heróis pedir por uma extravagância que está sendo evitada.

 

Thor (2011, EUA)
direção: Kenneth Branagh; roteiro: Ashley Miller, Zack Stentz, Don Payne (baseado nos personagens criados por Stan Lee, Larry Lieber, Jack Kirby); fotografia: Haris Zambarloukos; montagem: Paul Rubell; música: Patrick Doyle; produção: Kevin Feige; com: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Tom Hiddleston, Anthony Hopkins, Stellan Skarsgård, Kat Dennings, Clark Gregg, Idris Elba, Colm Feore, Ray Stevenson, Tadanobu Asano, Josh Dallas, Jaimie Alexander, Rene Russo; estúdio: Marvel Studios; distribuição: Paramount Pictures. 114 min

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