Golpe publicitário ou apenas uma brincadeira de mau gosto, o fato é que von Trier conseguiu o que sempre procura quando aparece na frente dos repórteres: virar manchete. O problema é que desta vez ele pegou muito pesado na ironia e grande parte da imprensa, já intolerante com gafes de celebridades e com o próprio senso de humor bizarro do diretor, encontrou em suas declarações um prato cheio.
Mas por mais que o cineasta tenha passado dos limites nas piadas sobre o nazismo e o holocausto, a reação dos organizadores de Cannes certamente foi exagerada. A decisão de banir von Trier do festival não passou de uma formalidade sem efeitos práticos, que no fundo serviu mais como um prêmio para o cineasta. Além disso, “Melancolia” continuou no páreo pela Palma de Ouro e dizem que o próprio banimento serviu apenas para este ano.
Mesmo se o cineasta não voltar a ser convidado para apresentar seus futuros trabalhos nas próximas edições de Cannes, outros festivais como os de Veneza ou Berlim certamente acolherão de braços abertos o controverso von Trier – que sempre chama a atenção (como se Cannes não soubesse disso), numa estranha competição que ele mesmo trava com seus próprios filmes.
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.