Comédia mistura com câncer? "50/50" e outros trailers da semana

50/50

Há bem pouco tempo, falar em um filme sobre câncer significava levar um estoque de lenços para o cinema. Porém, já é tendência uma mudança de ângulo no tratamento do tema. Com os avanços da medicina, o câncer deixou de ser sinônimo de morte certa e a forma como é encarado mudou. 
O peso da palavra “câncer”, porém, ainda é forte e o grande trabalho do trailer de “50/50”era mostrar que comédia e câncer eram duas palavras que poderiam ser associadas sem assustar. Nesse sentido, a prévia é genial por um único motivo: a introdução que a antecipa. Nela identificamos que a história é real e o personagem principal, o jovem com câncer, é inspirado em seu próprio roteirista. Dessa forma, o trailer valida o seu tema, evitando qualquer tipo de estranhamento que poderia produzir. É como se nos dissesse: “Se por algum motivo a cena do protagonista usando o câncer para conseguir mulheres te incomodar, lembre-se que ela está sendo contada pelo próprio cara, que realmente teve o câncer e que tem propriedade para falar sobre isso.”
E o fato do enfoque ser mais de uma “dramédia” do que precisamente uma comédia, o que não é novidade (o seriados “The Big C”e “Desperate Housewives” já fizeram isso) também ajuda.


THE DESCENDANTS



Um novo filme de Alexander Payne é sempre muito esperado para uma turma de cinéfilos. Então, só o fato de o trailer dar destaque ao seu nome já é uma boa forma de vendê-lo para este público em potencial. O negócio é que, visualmente, os filmes de Payne não se diferenciam completamente à primeira vista. O cineasta é um artesão das palavras, das narrativas, dos complexos personagens. São informações que um trailer de poucos minutos não consegue passar. Portanto, é essencial lembrar quem é o responsável pelo longa e quais os outros que ele já fez (o trailer lembrou o de “Sideways” e “As Confissões de Schmidt”). Como o trailer vende um típico indie sobre pessoas diferentes obrigadas a conviverem juntas, essa é uma garantia de que não veremos mais uma “dramédia” indie genérica e, sim, uma “dramédia” de Alexander Payne. Há uma diferença imensa aí. 
E gosto de ver a abordagem que George Clooney parece dar à sua interpretação.


I DON’T KNOW HOW SHE DOES IT e A LITTLE HELP

Não tem muito tempo, o público feminino começou a ser observado com mais atenção pelos produtores de Hollywood. Desde que “Crepúsculo”, “Um Sonho Possível”, “O Diabo Veste Prada”, “Mamma Mia”, “Julie e Julia”, “Encantada”, “Sex And The City”e outros longas chamaram a atenção de mulheres e surpreenderam nas bilheterias, elas se tornaram espectadoras requisitadas.
Na última semana, foram lançados dois trailers que visam o público. O primeiro parece um produto pensado, produzido e embalado com o slogan “apenas para mulheres”.

O trailer de “I Don’t Know How She Does It” é bem-sucedido neste quesito “produto feminino”. Não há nada de novo, mas traz interessantes soluções visuais para externalizar os pensamentos femininos, como as frases escritas na parede e o congelamento da cena. Parece um filme que já vem com a mensagem de auto-ajuda pronta. 
É interessante observar como a prévia omite informações que poderiam atrair o público, como ser baseado em um best-seller ou ser escrito pela mesma roteirista de “O Diabo Veste Prada”. A sensação é de total confiança no tema. 
Existe, entretanto, uma informação visual que o trailer dá que desmonta toda essa confiança. Vamos lá: Sarah Jessica Parker de mulher moderna, imagens de Nova York embaladas pela narração em off da atriz. Te remete a algo? Carrie Bradshaw, talvez? A personagem de Parker, que saiu imune de qualquer filme ruim, continua uma referência para uma turma de mulheres que pagou caro para assistí-la no cinema. Que tal fazê-las pagar pelo ingresso deste também?

Já “A Little Help”é uma comédia de 2009, exibida em alguns festivais, mas só agora foi adquirida por uma distribuidora e será lançada nos cinemas. Não é uma ótima notícia. 
Não é possível saber se a ideia do filme seria atingir o público feminino, mas o trailer quer dar essa sensação. É a mesma ideia do anterior: mãe, profissional, esposa e, pior, agora viúva. 
Enquanto o trailer de “I Don’t Know How She Does It” assume o lado produto-padrão, o de “A Little Help” tenta mostrar que segue o estilo “Juno”e “Pequena Miss Sunshine” de ser indie. É um trailer na média, sem nada demais, mas que se torna interessante ao focar a protagonista como uma mulher imperfeita, o que torna a personagem de Fischer mais carismática que a de Parker.  Além disso, a abordagem do humor tragicômico dá o clima e as falas sobre o 11 de Setembro nas brigas entre mãe e filho são muito boas. 

TAKE SHELTER

“Take Shelter” chega aos cinemas já aclamado em Cannes e Sundance, e a prévia dá uma noção de estarmos diante de um exemplar cinematográfico superior. O trailer é muito claro na ascensão da tensão. Primeiro, uma família comum, cujo pai percebe uma ameaça de tempestade. Ele fica obcecado com a ideia de construir um abrigo que, por algum motivo, causa uma crise em seu casamento. Logo, já sabemos que o protagonista não é um homem com uma boa saúde mental. Enfim, a história nos é bem apresentada sem, aparentemente, entregar tudo e, por isso, atiça a nossa curiosidade. O tema realidade e fantasia me lembrou muito “Cisne Negro”, mas aqui, pela prévia, já notamos que não existirá o abuso de câmeras em movimento ou edição rápida. O que, para mim, é uma boa notícia. E prestem atenção na belíssima fotografia. 
Enfim, um trailer de primeira.

OS MUPPETS

A magia do cinema nos faz acreditar na mentira mais escandalosa. Sim, nós aceitamos felizes o Homem-Aranha liberar uma teia de seu pulso e sair pulando de prédio em prédio por Nova York. É coerente com o universo criado. Por isso, é tão estranho ver um microfone invadindo a tela, quebra completamente o clima criado.
Fazer um filme de fantoches interagindo com seres-humanos e tal interação ser aceita pelo espectador como parte de um universo onde isso poderia acontecer é, portanto, difícil. Ora, são fantoches, afinal! A gente sabe que existe alguém os manipulando.
O primeiro teaser dos Muppets faz um belo trabalho para criar este clima. Para isso ele, justamente, quebra o clima. Explico: se você assiste a este trailer pela primeira vez, sem nenhuma informação anterior, a impressão de uma genérica comédia romântica é inevitável. Até o locutor começar a apresentar o elenco e ele próprio duvidar do que está narrando: “Miss Piggy?” Aí vem Jason Segel: “Peraí, tem Muppets nesse filme?” O trailer quebra toda a ilusão da narrativa e, ao quebrá-la, coloca Caco e Miss Piggy como se fossem seres reais que interpretam personagens no filme dos Muppets, assim como Amy Adams e Jason Segel. Quando o trailer mostra uma espécie de cena de bastidores e Caco continua falando, ele ajuda na construção de uma crença irracional de que o fantoche com vida é algo verossímil neste universo. Daí nasce a graça da prévia, além da brincadeira que faz com o gênero comédia romântica. 
Mas, claro, ela só funciona totalmente sem nenhuma informação anterior. No mundo virtual, isso é impossível. Os produtores sabem disso e, para dar continuidade à campanha de marketing dos Muppets, lançaram um novo teaser que não faz essa quebra, mas também satiriza um gênero. Para quem não percebeu, o segundo teaser de “Os Muppets” (abaixo) é uma brincadeira com o primeiro teaser de “Se Beber Não Case 2″. 



DON’T BE AFRAID OF THE DARK

“Don’t Be Afraid of the Dark” é centrado em Sally, uma arredia garotinha que se muda com seu pai e a nova namorada para uma mansão do século XIX que estão reconstruindo. Na casa, a menina descobre um porão secreto e liberta monstruosas criaturas. Uma história comum. Porém, o trailer quer te avisar que existe o dedo de Guillermo del Toro no projeto. 
Depois de “O Labirinto do Fauno”, o cara virou praticamente o papa das histórias fantásticas de terror. O destaque do nome do cineasta seria como se fosse a confirmação de um universo fantástico de qualidade. Porque, no fim das contas, é o que realmente chama a atenção. Afinal, a prévia explora todos os conhecidos ingredientes de filmes do tipo: a criança reservada, os adultos céticos, o coadjuvante misterioso que dá o aviso, uma história misteriosa que explica as criaturas. Enfim, passa a sensação de mais do mesmo. Porém, sabendo se tratar de uma produção de Guillermo del Toro, a expectativa sobe.

HAPPY FEET 2

“Happy Feet” é uma animação que nunca me interessou. Pelo fato de todos os pinguins serem iguais uns aos outros, não existe, no meu caso, uma identificação com os personagens. Diferente, por exemplo, do Scrat de “A Era do Gelo”, as expressões faciais e os movimentos corporais dos pinguins nunca me passaram nada. O problema é que o trailer usa os pouco carismáticos personagens para atrair o que, para mim, não funciona.

THE WHISTLEBLOWER

Rachel Weisz tenta fazer um trabalho social em algum país devastado, mas sua atuação incomoda poderosas corporações. Oi? “O Jardineiro Fiel” não foi lançado há uns três anos? O trailer de “The Whistleblower” se beneficia muito com a sua protagonista fazendo um papel semelhante àquele que lhe rendeu um Oscar e um bocado de credibilidade. Não é uma prévia arrebatadora. Os thrillers políticos parecem seguir um mesmo esquema e, pela prévia, este não parece fugir deles. Mas atrai pelo nível de absurdo da denúncia e o gabaritadíssimo elenco: Vanessa Redgrave, David Strathairn e Monica Belluci. E, claro, um elogio aqui e acolá para dar a sensação de um filme respeitado.

BAIT 3D e SHARK NIGHT 3D

Filmes de criaturas assassinas são o meu guilty pleasure. É difícil não me divertir com um. Mas, claro, sei diferenciar uma bobagem de um filme bom. “Do Fundo do Mar” é uma grande e divertida besteira. Já “O Nevoeiro” é um filmaço. “A Noiva de Chucky” é uma hilária idiotice. “Morte Súbita” e “Abismo do Medo” não apresentam a mensagem sociológica de “O Nevoeiro”, mas trabalham bem seus personagens e a tensão da narrativa. Tivemos, na semana passada, o lançamento de dois trailers de filmes de tubarões assassinos que parecem ter esses dois enfoques diferentes.
Ninguém pode reclamar de “Shark Night 3D”. O trailer entrega exatamente o que o filme parece ser: um desfile de corpos sarados no primeiro terço do longa e os mesmos corpos sarados destroçados a partir da  meia hora inicial. A assinatura dos produtores e diretores de “O Albergue”, “Premonição”e “O Massacre da Serra Elétrica” garante as mortes criativas, o sangue jorrando e os sustos sem tensão. Enfim, parece mais um filme ruim divertido, que dependendo da bilheteria, poderá ser repetido eternamente até “Shark Night 3D – Parte 32”. Pense nos riscos, então.

Já o trailer de “Bait” comunica um filme menos sanguinolento, um pouco mais sutil (se é que é possível usar esta palavra), mais claustrofóbico, que trabalha com a construção da tensão e alguns personagens um pouco menos bidimensionais. O problema é construir uma certa expectativa e não cumprir, por que a linha entre um filme de bichos assassinos ruim e um filme de bichos assassinos que valha a pena é bem tênue.

OS SMURFS

Os Smurfs vão para a cidade. Encontram um cara certinho para virar a vida dele ao avesso. Gargamel e os Smurfs usam todas as piadas possíveis e já conhecidas de perseguições no estilo “gato e rato”, sendo os bichinhos azuis os espertões e Gargamel o Coiote, ou o Frajola, ou o Tom… Enfim, Gargamel será atropelado dezenas de vezes. Se você se atrai por filmes com bichinhos bonitinhos, este trailer é para você. Mas já aviso que parece que vai ser como todos os outros, afinal não será “Os Smurfs” e nem Raja Gosnell, seu diretor, que vão injetar um pouco de frescor neste subgênero. Ah, o trailer não te avisa, mas eu sim: Gosnell dirigiu “Vovó… Zona”. Já basta para manchar qualquer currículo.