“Kung Fu Panda” tenta ocupar o espaço deixado pelo ogro Shrek como grande franquia da DreamWorks Animation. Os dois personagens se parecem em vários aspectos: são grandes, gordos e desengonçados. Mas pelo menos em dois aspectos o urso panda Po ganha do monstro verde dos contos de fada: ele é mais carismático e suas histórias, pelo menos até agora, estão bem mais divertidas.
Enquanto Shrek chegou cansado ao seu quarto e último filme no ano passado, o urso Po mostra nesta segunda aventura que ainda tem o mesmo fôlego do ótimo primeiro filme, lançado em 2008. Agora, ele e seus companheiros de Kung Fu precisam defender o reino da China de um pavão renegado que quer tomar o poder.
Além de muita ação, com cenas de luta lindamente coreografadas e que fazem inveja ao melhores filmes do gênero com atores de carne e osso (também, pudera, já que os animadores têm total controle sobre seus personagens), “Kung Fu Panda 2” se destaca pelo lado emotivo, trazendo um bonito drama sobre adoção em meio à aventura. É uma abordagem diferente de se ver no cinema infantil, principalmente nas animações da DreamWorks – que quase sempre recorrem a um sem número de piadas, muitas sem graça, e citações engraçadinhas a outros filmes, ao invés de se concentrar na narrativa.
“Kung Fu Panda” foge desse estereótipo do estúdio e, junto com “Como Treinar Seu Dragão”, lançado no ano passado, mostra que a DreamWorks está empenhada em mudar de ares.
O único porém ainda fica por conta dos personagens coadjuvantes mal explorados. É incrível como um elenco de vozes que conta com Angelina Jolie, Jackie Chan, Seth Rogen, entre outros, é tão subutilizado, já que os personagens desses atores ficam em segundo plano na maior parte do filme e nunca chegamos a sentir real necessidade deles até as lutas acontecerem. E mesmo nos duelos, sente-se a falta de um melhor aproveitamento das características únicas de cada um. Seria ótimo vê-los trabalhando como uma equipe de forma mais integrada.
A direção é da estreante Jennifer Yuh, que além de manter um bom ritmo entre a ação e o drama, merece palmas pelo uso da animação 2D para representar as memórias de Po – que é um personagem CGI 3D. Há um exercício de metalinguagem notável aí.
Vale notar que Guillermo del Toro (diretor de “Hellboy” e “O Labirinto do Fauno”, entre outros) faz aqui seu segundo filme como consultor criativo do estúdio (o primeiro foi “Megamente”), num papel semelhante ao desempenhado por John Lasseter na Disney. Del Toro não tem a mesma experiência de Lasseter em animação (ele havia participado apenas de Hellboy Animated como produtor), mas pelo menos no que toca ao desenvolvimento de personagens ele tem conhecimento de causa.
Curiosidade: na versão em inglês, o astro dos filmes de artes marciais Jean-Claude Van Damme dubla o Mestre Crocodilo. É uma pequena participação, mas que tem seu charme.
Kung Fu Panda 2 (2011, EUA)
direção: Jennifer Yuh; roteiro: Jonathan Aibel, Glenn Berger; montagem: Maryann Brandon, Clare De Chenu; música: John Powell, Hans Zimmer; produção: Melissa Cobb; com as vozes de: Jack Black, Angelina Jolie, Dustin Hoffman, Gary Oldman, Jackie Chan, Seth Rogen, Lucy Liu, David Cross, James Hong, Michelle Yeoh, Danny McBride, Dennis Haysbert, Jean-Claude Van Damme, Victor Garber; estúdio: DreamWorks Animation; distribuição: Paramount Pictures. 90 min