E é muito barulho, viu? Não só das pancadas e explosões promovidas pelas lutas entre os robôs gigantes, mas também da gritaria que Shia LaBeouf arruma durante o filme inteiro, roubando uma função que geralmente é atribuída à moça em apuros nesse tipo de história – no caso, a modelo e atriz de primeira viagem Rosie Huntington-Whiteley (que entra no lugar de Megan Fox, demitida após uma briga com Bay, como o próprio filme faz questão de deixar claro, só que trocando o nome do diretor pelo do personagem de LaBeouf nos diálogos). Vai ver, é porque a garota já estava sobrecarregada fazendo o papel de mulher-objeto, coisa que Bay não é nada sutil em assumir ao filmá-la enquanto um personagem descreve um carro, em off.
Se o primeiro “Transformers” passou como uma divertida aventura, apesar de todos os seus problemas, o segundo e o terceiro falham vergonhosamente ao simplesmente ignorarem que existem pessoas, e não máquinas, sentadas na platéia. E Bay, que um dia já fez filmes minimante divertidos como “A Rocha”, “Os Bad Boys” e “A Ilha”, agora não demonstra o mínimo interesse em entreter o público. Mas me sinto na obrigação de pedir desculpas por generalizar dessa forma, pois sempre vão existir aqueles que conseguem gostar do filme. Tiro o chapéu para vocês. Mesmo.
Independente da base de fãs, o que Bay demonstra é que seu interesse com esses filmes é apenas agradar o próprio ego com seu senso de humor excêntrico e sádico, que ele confessadamente diz não entender (ouçam a faixa de comentários no DVD ou Blu-ray do primeiro filme). Se por um lado ele se esforça em agradar os aficcionados com o quebra-pau entre os robôs (e as sequências de luta são eficientes, reconheço), por outro ele realmente não parece saber o que está fazendo quando tenta criar humor com o elenco humano do filme. O histrionismo de LaBeouf durante as cenas de ação se repete sempre que John Turturro, Alan Tudyk, Ken Jeong, Kevin Dunn e Julie White (que deve estar muito perto de conseguir entrar para o elenco do “Zorra Total”) entram em cena. John Malkovich, um assumido cara de pau, se sai melhor. E Frances McDormand deve ter se arrependido de estar no filme logo após o primeiro dia no set.
O resultado é algo como um “screwball disaster film“, confuso e com desnecessárias duas horas e meia de duração. A ideia de subverter a história da missão Apollo 11 não é ofensiva. Na verdade, é interessante e cai muito bem como mais uma teoria da conspiração que envolve a chegada do homem à Lua. Isso faz parte da ficção-científica. No entanto, e mais uma vez, o senso de humor sádico de Bay e do roteirista Ehren Kruger toma proporções constrangedoras quando eles decidem usar uma cena que lembra assombrosamente a explosão da Challenger como base para um plot twist. E a NASA – e Buzz Aldrin! – aceitou participar desse filme!
Para aqueles que questionavam a sanidade de se assistir a um filme de Michael Bay em 3D, digo que a experiência não é tão traumática. Mas leve a dipirona por precaução. Afinal, o filme é tão bagunçado que você pode sofrer uma sobrecarga mental ao tentar reorganizar as informações em seu cérebro enquanto é bombarbeado pelas cenas hiperiluminadas do filme (o oposto do que Rob Marshall fez em “Piratas do Caribe 4“, diga-se de passagem). É tanta luz, que chega a ser engraçado. Em uma cena em particular, quando LaBeouf e sua garota têm uma discussão numa rua, Bay parece ter ficado agachado no canto do set, segurando um espelho e refletindo a luz do sol na cara dos atores.
Bay parece mesmo ser essa criança, e talvez por isso mesmo ele tenha a afeição de Steven Spielberg, que foi quem o convidou para comandar a franquia. É um garoto deslumbrado com seus brinquedos, e com o 3D não é diferente. Ainda que a sensação de profundidade de campo seja bem utilizada, Bay continua a demonstrar não ter muita noção do que é decupar uma cena ou compor um quadro, abusando das angulações apenas para conseguir o efeito 3D (repare como ele filma os atores de baixo para cima várias e várias vezes), sem fazer com que isso se torne um efeito narrativo. No fim, a sensação é parecida com a de acordar de um sonho maluco, no qual muitas coisas aconteceram, mas que você não se lembra muito bem como aconteceram.
“Transformers: O Lado Oculto da Lua” é uma dica do que evitar ver nos cinemas. Como crítico, eu não acho correto dizer para as pessoas não assistirem a este ou aquele filme, mas acredito que este seja um caso de prestação de serviço: se você viu algum dos outros dois “Transformers” e não gostou, poupe-se. Você não se arrependerá.
Transformers: O Lado Oculto da Lua (Transformers: Dark of the Moon, 2011, EUA)
direção: Michael Bay; roteiro: Ehren Kruger; fotografia: Amir M. Mokri; montagem: Roger Barton, William Goldenberg, Joel Negron; música: Steve Jablonsky; produção: Ian Bryce, Tom DeSanto, Lorenzo di Bonaventura, Don Murphy; com: Shia LaBeouf, Rosie Huntington-Whiteley, Josh Duhamel, John Turturro, Tyrese Gibson, Patrick Dempsey, Frances McDormand, Kevin Dunn, John Malkovich, Julie White, Alan Tudyk, Ken Jeong, Glenn Morshower; estúdio: Paramount Pictures, Hasbro, Di Bonaventura Pictures; distribuição: Paramount Pictures. 157 min