O Céu Sobre os Ombros

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A relação entre ficção e documentário é tão antiga quanto a própria história do cinema. Em “O Céu Sobre os Ombros”, o diretor Sérgio Borges se aprofunda na mistura entre o que é real e o que é encenado para o filme. Ele acompanha três personagens: um transexual que se prostitui e dá aulas; um hare krishna fanático por futebol; e um escritor que não consegue finalizar seus livros. São personagens muito distintos, mas que vivem em Belo Horizonte, não se encontram, mas compartilham de certa forma as mesmas dores e a mesma solidão.

Borges, que faz parte do grupo de diretores da produtora mineira TEIA, não deixa claro em nenhum momento se pediu aos seus personagens para encenar situações. Não há nem mesmo letreiro ou narração em off que diga ao público se o filme é de fato um documentário. E a forma como os personagens são apresentados, como as cenas são feitas, deixa dúvidas se aquelas pessoas não são, na verdade, atores seguindo um roteiro.



A novidade em “O Céu Sobre os Ombros” está na forma como Borges se coloca diante de seus personagens e permite que eles também façam o filme. Ele não está trabalhando com o improviso, mas com o cotidiano. Ele tem que se virar para enquadrar e montar as narrativas que dali surgem. Não há início, meio e fim, mas há, sem dúvida, coesão no que vemos na tela – e ele é bem-sucedido na criação do vínculo emocional entre aquelas pessoas e, o mais importante, entre o filme e o público.

“O Céu Sobres os Ombros” é algo inclassificável como gênero. É um drama documental? É um registro dramatúrgico da realidade? Pouco importa o rótulo: é cinema, e de alta qualidade. ■