Os premiados e cultuados irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne podem ter feito o seu primeiro filme infantil – tanto no sentido de “O Garoto da Bicicleta” ser um filme protagonizado por uma criança quanto pela abordagem dos cineastas aqui deixar a desejar em relação a seus trabalhos anteriores.
“O Garoto da Bicicleta”, vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes deste ano, novamente traz os irmãos Dardenne explorando o tema do filho abandonado, tal como na obra-prima que é “A Criança”, filme que rendeu à dupla sua segunda Palma de Ouro em 2005, e também em “O Filho”, de 2002, outro pequeno clássico contemporâneo. No entanto, nesses dois filmes anteriores, os Dardenne mostram o que têm de melhor: a abordagem humanista e madura de um sofrimento que palavras não são suficientes para exprimir. Já em “O Garoto da Bicicleta” vemos que há o mesmo esforço, mas os diretores parecem limitados, como se quisessem dar uma lição de moral. Daí mais um aspecto que aproxima o filme de uma história para crianças.
É claro que os Dardenne mantêm o mesmo vigor na direção, explorando com frequência os planos-sequências que são sua marca registrada. Além disso, eles se valem da imprevisibilidade de seu personagem principal (papel de Thomas Doret) para manter o filme num ritmo nervoso. A cada vez que o garoto sai correndo em disparada é como se ele fosse um carro sem freio, e você espera pelo pior.
Contando ainda com a atuação sempre segura da atriz Cécile de France, “O Garoto da Bicicleta” pode decepcionar um pouco enquanto filme dos irmãos Dardenne, mas, sem dúvida, guarda um apelo que não pode ser ignorado. ■