O documentário “O Mineiro e o Queijo” lembra muito um produto artesanal, exatamente como os saborosos queijos produzidos nas regiões mineiras do Serro e da Canastra, que servem como eixo narrativo para o filme de Helvécio Ratton.
É um filme artesanal porque percebemos na tela que a aproximação que o cineasta dá ao objeto do filme vai além de simplesmente problematizar a legislação que proíbe a venda do Queijo Minas Artesanal fora dos limites do estado. É a visão de Helvécio, visão de alguém que conhece os mineiros intimamente, que dá ao documentário um toque humano e caloroso que desvia o espectador de um possível tédio à medida que o filme contextualiza as questões políticas que envolvem a produção queijeira do país.
Pode fazer falta um trato estético mais apurado à imagem, mas isso não deixa de ser um charme de “O Mineiro e o Queijo”: um filme meio bruto na aparência, mas sensível na abordagem das pessoas que vivem aquilo que a maioria de nós, da capital, só conhece na mesa do café da manhã e na tela da televisão.
Helvécio oferece no documentário uma interessante reflexão sobre a cultura queijeira e mineira, algo que a ultrapassada legislação, respaldada por aparente má vontade política, impede de ser saboreada além das montanhas.
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.