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Indicados ao Oscar 2012: culto ao passado

Os dois principais indicados ao Oscar 2012 são filmes emblemáticos na representação que fazem da evolução da linguagem cinematográfica. Vejamos: “A Invenção de Hugo Cabret”, de Martin Scorsese, é um filme 3D, formato que está na moda e que tem salvado os cofres de vários estúdios. Já “O Artista” está na outra ponta: é um filme mudo e preto e branco que celebra um modo de fazer cinema há muito tempo em desuso e que só foi reconhecido pela Academia uma única vez, logo em sua primeira cerimônia, em 1929, quando “Asas” ganhou como Melhor Filme.

 

Mas mais do que serem representantes de dois momentos distintos e importantes da história do cinema, “Hugo” e “O Artista” simbolizam o culto ao passado, ou à memória, do qual o cinema americano tem vivido já há algum tempo. Se pararmos para analisar a produção hollywoodiana recente, especialmente no último ano, veremos que cada vez mais refilmagens e continuações têm chegado às telas, sem apresentar ideias originais como era costume da “indústria dos sonhos” em décadas anteriores. E entre os filmes que não são adaptações de material prévio (HQs, livros, desenhos animados, brinquedos), notamos a presença de títulos como, por exemplo, “Super 8”, que é uma homenagem aos filmes que Steven Spielberg fez nos anos 80. O próprio Spielberg acabou de fazer também sua volta ao passado com “As Aventuras de Tintim”, que é um resgate (outro termo muito usado para mascarar a falta de criatividade) de um personagem dos quadrinhos e, ao mesmo tempo, um retorno do diretor ao tipo de filme de aventura que ele mesmo já havia resgatado com “Indiana Jones”.

 

E assim voltamos a “A Invenção de Hugo Cabret” e “O Artista”. Independente das qualidades e méritos artísticos próprios, são dois filmes que também se apoiam no resgate e nas homenagens. O filme mudo franco-belga, dirigido por Michel Hazanavicius, já é ele mesmo uma referência a uma era. E o filme de Scorsese é repleto de citações aos primórdios da sétima arte, com direito a uma menção direta a George Méliès, autor do clássico “Viagem à Lua”, de 1902. O cinema de Scorsese, aliás, sempre reverenciou o próprio cinema, e em outros anos já tivemos filmes indicados ao Oscar que também possuem esse olhar (carinhoso, sem dúvida) para o passado – algo que a própria Academia ama fazer nas cerimônias do Oscar, vale dizer. Mas vivemos um momento em que filmes sobre filmes se tornam cada vez mais comuns (muito disso provavelmente se deve a Quentin Tarantino), e notar que os líderes em indicações são também filmes sobre filmes é, no mínimo, curioso.

 

Outros indicados

 

Só mais algumas observações pontuais sobre os demais indicados:

 

– A Academia fez muito bem em não indicar “Carros 2” ao Oscar de Melhor Filme de Animação (diferente do Globo de Ouro) e acertou ao escolher “Um Gato em Paris”, que só não foi a melhor animação que vi ano passado porque “O Mágico”, que é de 2010, chegou ao país com atraso. De toda forma, a Pixar está representada no Oscar com o curta “La Luna”, que pode salvar John Lasseter de passar batido pela premiação, já que a Disney (onde ele atua como consultor criativo) também não emplacou nenhuma indicação com “O Ursinho Pooh”. O estúdio, aliás, só concorre a Melhor Canção Original (mas é claro!) com “Os Muppets”.

 

– Muito bom ver “A Árvore da Vida” e “Meia-Noite em Paris” indicados nas principais categorias. Um Oscar em que Scorsese disputa Melhor Direção com Woody Allen e Terrence Malick tem que ser respeitado. No entanto, é bastante provável que veremos dois assentos vazios na hora da entrega do prêmio.

 

– Por enquanto (ainda não vi todos os filmes, claro), Rooney Mara tem minha torcida para Melhor Atriz, pois ela realmente mata a pau em “Millenium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres”. Meryl Streep provavelmente já tinha a indicação garantida no contrato que assinou para trabalhar em “A Dama de Ferro”, até porque seu trabalho no filme está longe de suas melhores atuações.

 

– É estranho “As Aventuras de Tintim” ter sido lembrado apenas como Melhor Trilha Sonora, mas gostei de ver Spielberg representado por “Cavalo de Guerra” em Melhor Filme, já que é um filme que tem muito mais a cara dele.

 

A lista completa de indicações.

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