Ícone do site cinematório

"O Ditador" e a nova política do humor

O maior desafio para a comédia atualmente é conseguir conduzir uma narrativa durante uma hora e meia ou mais, sem fragmentá-la em esquetes ou gags que durante muito tempo bastavam para sustentar filmes dirigidos ou protagonizados por artistas que nem precisavam ser realmente bons de serviço para se garantirem. Mas, hoje, a comédia de cinema tem a forte, eu diria até desigual concorrência da internet. São vídeos no YouTube, foto-montagens em Tumblrs, posts compartilhados no Facebook, enfim, toda sorte de piadas que comediantes de plantão ou de ocasião conseguem tornar públicas e populares.

 

É nesse cenário que um filme como “O Ditador” entra em cartaz. Sacha Baron Cohen fez fama na TV e na internet antes de levar seus repórteres Borat e Brüno para a tela grande, onde também foram bem-sucedidos. Mas o comediante enfrenta em seu novo filme justamente esse desafio de ter que contar uma história, e não apenas juntar suas provocativas experiências como um personagem fictício inserido no mundo real.

 

A premissa é a mesma de “Borat” e “Brüno”, com o ditador do título indo parar nos Estados Unidos, onde se sente um peixe fora d’água. Existe ali ainda alguma coisa de suas investidas anteriores na linguagem (pseudo-)documental junto ao diretor Larry Charles, mas a ideia é mesmo fazer uma comédia nos moldes convencionais, abusando de piadas grosseiras e infames.

 

Há espaço de sobra para o politicamente incorreto, mas o humor não deve nada ao que de melhor (ou pior) o Casseta e Planeta ou Marcelo Adnet produzem aqui no Brasil, no cinema e na TV. A diferença é que Cohen tem mais dinheiro para investir em seu filme e pagar um elenco de grandes nomes, como o vencedor do Oscar Ben Kingsley, o indicado pela Academia John C. Reilly e alguns outros atores que fazem rápidas participações.

 

Essas pontas, aliás, fazem parte de uma grande piada com Hollywood que está presente por trás do filme, assim como a sátira política que Cohen propõe fazer. O alvo é a suposta democracia norte-americana e o comediante acerta em cheio em seu momento mais incisivo. Mas é aquilo: no Facebook, essas piadas provavelmente conseguiriam muito mais curtidas do que risadas nas salas de cinema. São ótimas, mas funcionam isoladamente. Como experiência fílmica e narrativa, “O Ditador” é um fracasso.

Sair da versão mobile