Se Quentin Tarantino gosta de polêmica, ele encontrou a chance perfeita para chamar a atenção com “Django Livre”. Ele remonta o cinema blaxploitation dos filmes policiais dos anos 70 mais uma vez, como já havia feito em “Jackie Brown”, e mistura com o gênero do qual ele é assumidamente fã: o faroeste espaguete. A polêmica é que esses dois gêneros cinematográficos, conhecidos pelo exagero e pela atmosfera quase fantasiosa, são usados por Tarantino para retratar a época da escravidão nos Estados Unidos pré-Guerra Civil. E aí surge a sempre delicada discussão sobre racismo.
Não é que Tarantino seja racista em “Django Livre”. O problema é que ele, como em todos os seus filmes anteriores, usa muito humor e estilização, a gente percebe como ele se diverte de verdade com a câmera e com o uso das músicas. O problema é que desta vez ele toca em assunto muito sério. É claro que, numa visão superficial, é possível enxergar ali uma apologia ao racismo, assim como uma apologia à violência, que é outra acusação que Tarantino sempre recebe. Mas, antes de condenar o filme, é preciso entendê-lo como um produto da grife do diretor, e nada ali é gratuito nesse sentido. Tarantino nunca faz concessões para entreter e o público também deveria assumir esse risco para apreciar seus filmes plenamente.
Com relação ao elenco, liderado por um Jamie Foxx talvez em seu limite, destaques para Leonardo DiCaprio, insanamente divertido como o vilão principal do filme, e para Christoph Waltz, revelado pelo diretor em “Bastardos Inglórios” no papel de um nazista sádico e que aqui faz um papel invertido, o de um mentor carismático, mas que carrega o peso de uma vida dolorosa. A nota baixa vai para Kerry Washington, não por sua atuação, mas pelas poucas oportunidades dadas a ela por Tarantino. Um pouco decepcionante já que ele é um diretor que sempre deu destaque para as mulheres em seus filmes. ■
[A ideia do Corte Rápido é fazer um comentário simples, seja uma primeira impressão sobre um lançamento, seja uma breve reflexão sobre um filme revisto recentemente.]
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.