Briga de vizinhos. Uma situação comum a qualquer brasileiro, em qualquer região, em qualquer época. “O Som ao Redor” se passa justamente em uma vizinhança em Recife, onde conhecemos diversos personagens que poderiam perfeitamente viver no apartamento ou na casa ao lado de onde moramos.
Vindo de uma premiada carreira como curta-metragista, o diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho dá sequência a essa trajetória de sucesso com seu primeiro longa. E toda a badalação em torno de “O Som ao Redor” se justifica pelo fato de ser um filme sobre dramas domésticos com os quais a maior parte da plateia se identifica, desde o furto de uma revista na caixa de correio do prédio até a necessidade de se contratar seguranças particulares para vigiar as ruas do bairro.
Se o espectador é cativado pelo bom humor e a sinceridade com que Kleber pinta esse retrato do brasileiro emergente, com todas as suas contradições morais, o mesmo deve ser dito da magnífica direção. Usando planos e movimentos de câmeras elegantes, o cineasta (e crítico aposentado) dá ao filme um estilo visual rico e verdadeiramente cinematográfico. O trabalho de som, como não podia deixar de ser, também se destaca pela originalidade, brincando com as expectativas da plateia ao tirar tensão de cenas aparentemente prosaicas.
Ao dividir o filme em três capítulos, com direito a intertítulos, Kleber mais uma vez brinca de cinema. E nessa brincadeira, acaba construindo um verdadeiro épico. Um épico da classe média. ■
[A ideia do Corte Rápido é fazer um comentário simples, seja uma primeira impressão sobre um lançamento, seja uma breve reflexão sobre um filme revisto recentemente.]