Nós temos que agradecer aos chefões da Disney que, em 2011, barraram a produção de O Cavaleiro Solitário, quando o produtor Jerry Bruckheimer, o diretor Gore Verbinski e o astro Johnny Depp apresentaram um roteiro caríssimo de ser filmado. Eles provavelmente impediram que tivéssemos que aturar um filme ainda mais longo e enfadonho do que este que está nos cinemas.
O Cavaleiro Solitário foi produzido após ajustes no orçamento, o que provavelmente envolveu cortes no roteiro escrito por Ted Elliott e Terry Rossio, os mesmos que trabalharam com Bruckheimer, Verbinski e Depp em Piratas do Caribe. Portanto, não é de se espantar que estúdio e equipe tenham optado pelo jogo fácil. Apesar de não termos a figura da mocinha heróica (papel desempenhado por Keira Knightley ao lado de Jack Sparrow), Armie Hammer passa facilmente por Orlando Bloom, William Fichtner por Geoffrey Rush e Depp… por Depp mesmo. No mais, as semelhanças entre os dois filmes berram.
E antes O Cavaleiro Solitário fosse literalmente um “Piratas do Caribe em terra firme”. Seria algo divertido, pelo menos. Uma boa sessão da tarde. O que temos, na verdade, é um filme inchado, hiperproduzido, onde Bruckheimer e Verbinski enfiam CGI em qualquer buraco que conseguem. Com o pretexto de mostrar a origem do personagem-título (o que possivelmente era de fato necessário, tendo em vista que somente nossos pais têm a série televisiva viva na memória até hoje), o filme se arrasta por quase uma hora até finalmente juntar o protagonista ao índio Tonto e o cavalo Silver. Na hora seguinte, os dois ainda penam para se estabelecerem como heróis. E somente nos 10-15 minutos finais você realmente vê no que eles se transformaram. Provavelmente, o ego inchado dos realizadores presumia que uma continuação era praticamente certa, daí acharam que seria prudente gastar todo o tempo que pudessem para desenvolver os personagens. É o que dá filme ser pensado como franquia.
O longa ainda tem algumas coisas ridículas, como um trem capotando (na falta de automóveis e de Michael Bay – Brucks deve sentir saudades dele até hoje) e coelhos selvagens. Bravo é o espectador que, como o garoto que visita o museu logo no início do filme, aguenta desperto todo este engodo hollywoodiano que parece realmente estar sendo narrado por um velho gagá. ■
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.