“Elysium”: ferrugem e osso

elysium

Se em “Distrito 9”, o primeiro filme do diretor sul-africano Neill Blomkamp, lançado em 2009, existe um contexto social local, em que o cineasta aborda o problema da segregação racial, em “Elysium”, seu segundo longa, a escala é global.

Novamente trabalhando no gênero ficção científica, Blomkamp também volta ao tema da imigração, mas agora inverte as direções: se em “Distrito 9” os alienígenas chegaram à Terra, agora são os terráqueos que querem sair do planeta. Mas não para colonizar outro: eles querem chegar à estação espacial que dá nome ao filme, onde a vida é mais saudável, até mesmo eterna, já que lá em cima existe um equipamento médico capaz de curar qualquer enfermidade. Existe aí, também, um significado religioso, derivado dos Campos Elísios da mitologia grega, mas o foco do filme está mesmo na questão política: tomar o poder dos privilegiados e dividir a bonança.



Um dos destaques do filme para os brasileiros é a presença dos atores Wagner Moura e Alice Braga. Ela cumpre bem o papel, mas não faz mais do que já vimos em outras produções internacionais das quais já participou. Teve mais destaque, por exemplo, em “Predadores”. Já o personagem de Wagner Moura tem uma participação bem mais importante e acompanha o protagonista, Matt Damon, em sua jornada homérica. Ele está ótimo no papel e dá para perceber que foi escolhido devido à energia que empenhou ao interpretar o Capitão Nascimento de “Tropa de Elite”.Já do elenco estrangeiro, Matt Damon cumpre bem o papel de herói e Sharlto Copley, o de bandido. Jodie Foster é que é uma decepção, não muito por culpa dela, já que tem pouco a fazer com uma vilã desinteressante e descartável.

Outro ponto alto de “Elysium” está nos efeitos visuais, principalmente na forma como Blomkamp e sua equipe retratam a tecnologia como algo que não está muito distante da nossa realidade. Na Terra do final do século 21, é uma robótica meio mal-acabada e suja, demonstrando o estado de abandono do planeta. Já na estação espacial, tudo é mais clean e arredondado, em harmonia com a atmosfera etérea do local.

O filme conta ainda com boas doses de ação, embora Blomkamp peque ao usar muitos cortes e filmar muito próximo dos atores nas cenas mais agitadas, impedindo que nós visualizemos os movimentos plenamente. Por outro lado, o diretor acerta em cheio na brutalidade da violência, fazendo lembrar, também por outras semelhanças, o Paul Verhoeven de “Robocop” e “O Vingador do Futuro”. ■

ELYSIUM (2013, EUA). Direção: Neill Blomkamp; Roteiro: Neill Blomkamp; Produção: Neill Blomkamp, Bill Block, Simon Kinberg; Fotografia: Trent Opaloch; Montagem: Julian Clarke, Lee Smith; Música: Ryan Amon; Com: Matt Damon, Jodie Foster, Sharlto Copley, Alice Braga, Diego Luna, Wagner Moura, William Fichtner; Estúdios: TriStar Pictures, Media Rights Capital, QED International, Alpha Core, Simon Kinberg Productions, Sony Pictures Entertainment; Distribuição: Sony Pictures. 109 min