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O caos reina

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Ser a primeira produção maranhense em longa-metragem a ganhar distribuição nacional é um marco para “O Exercício do Caos”. Mas atribuir apenas esse feito ao filme de Frederico Machado é pouco diante do que ele proporciona ao espectador.

Apostando corajosamente em uma narrativa de poucos diálogos, em que os olhares e gestos dos atores são o que de fato expressam seus desejos e temores, Machado faz um filme minimalista e sombrio sobre uma família que trabalha (leia-se: “é explorada”) numa plantação de mandioca, e que é formada por um pai autoritário (papel de Auro Juriciê) e três filhas (vividas por Thalyta Sousa, Isabella Sousa e Thayná Sousa). A mãe  (Elza Gonçalves) faleceu, mas sua presença ainda é sentida.

Quem já visitou uma cidade do interior sabe que cada local tem seu folclore e suas lendas. Em “O Exercício do Caos”, há esse elemento místico/espiritual/religioso que dá o tom de mistério do longa. Machado constrói uma atmosfera do não dito e do não visto que é o ponto alto do filme: fica no ar, para nós e para os personagens, muito do que “realmente” aconteceu. Há uma ameaça noturna? Houve traição? Houve incesto? Quem é Deus? E quem é o Diabo?

Na forma como aborda a delicada e ao mesmo tempo incômoda proximidade do pai com as filhas, Machado – que dirige, escreve, produz e fotografa – usa o poder da sugestão, evitando o choque que, dentro de sua proposta narrativa, poderia soar gratuito. E ele não apenas dedica o filme à memória do cineasta francês Robert Bresson como compartilha de sua filosofia artística: a essência fílmica da construção narrativa são as imagens e os sons. E que trabalho de som primoroso, impactante, em alguns momentos nevrálgico.

Há um frescor irresistível na tela. Elementos temáticos e estilísticos do Cinema Novo provavelmente serão puxados pela memória de quem assiste ao filme, mas não me parece que Machado está preocupado em fazer um filme revisionista. Há, sim, um estupor, um assombro, uma busca por uma narrativa que, mais do que a experimentação, quer se embrenhar no desconhecido. Grandes filmes transcendem justamente disso. ■

O EXERCÍCIO DO CAOS (2013, Brasil). Direção: Frederico Machado; Roteiro: Frederico Machado; Produção: Frederico Machado, Hilter Frazão; Fotografia: Frederico Machado; Montagem: Raimo Benedetti; Música: Joaquim Santos; Com: Auro Juriciê, Di Ramalho, Thalyta Sousa, Isabella Sousa, Thayná Sousa, Elza Gonçalves; Estúdio: Lume Filmes; Distribuição: Lume Filmes. 71 min

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