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O grande, ostensivo, enfadonho e excêntrico Gatsby

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Mais uma adaptação do clássico literário de F. Scott Fitzgerald, “O Grande Gatsby” é uma reunião dos melhores e piores aspectos do cinema de Baz Luhrmann. A pirotecnia se faz presente, marcada pelos cortes rápidos, a alternância entre a câmera lenta e a imagem acelerada, a iluminação estourada, brilhos, caras e bocas, artifícios já conhecidos do trabalho do diretor australiano em “Romeu e Julieta” e “Moulin Rouge”. Também está lá a grandiosidade da produção, que, assim como em “Austrália”, explora os planos abertos, dando um caráter mais épico à história.

Deste último, o novo filme também herda uma certa morosidade narrativa na resolução dos conflitos dos personagens, que remetem mais uma vez a “Moulin Rouge” logo no início, quando somos apresentados a um jovem escritor (papel de Tobey Maguire) que se vê fascinado pelo gramado do vizinho, que sempre é mais verde – e no caso de Luhrmann, verde fluorescente.

Neste começo de filme, se você trocar Nicole Kidman por Leonardo DiCaprio, “Moulin Rouge” e “O Grande Gatsby” são praticamente o mesmo filme. Na verdade, poderiam ser ainda mais parecidos, em benefício do segundo, pois, se fosse um musical – e não há impedimento nenhum para isso – “O Grande Gatsby” ao menos faria melhor uso das músicas contemporâneas inseridas na trilha sonora e regravadas por artistas da moda, como Beyoncé e Lana Del Rey. É um recurso que já foi usado por outros diretores em filmes de época, não apenas para causar estranhamento, mas para aludir à contemporaneidade de um tema trabalhado. No caso de Luhrmann, tem relação com a crise financeira mundial, mas há uma gratuidade na forma como as canções surgem.

Filmado em 3D e fazendo bom uso da tecnologia, “O Grande Gatsby” é vistoso, sem dúvida. Mas a soberba visual se torna cansativa, pesada. A trama do livro, já adaptada outras três vezes por Hollywood, é a mesma, com a reflexão sobre desejo e ganância em meio ao romance irresoluto de Gatsby e Daisy (papel de Carey Mulligan). Luhrmann parece ter ficado indeciso entre manter um tom classicista, que poderia representar um risco comercial, e se entregar ao seu estilo frenético. O resultado é uma estranha tentativa de transformar jazz em música pop. ■

O GRANDE GATSBY (The Great Gatsby, 2013, EUA/Austrália). Direção: Baz Luhrmann; Roteiro: Baz Luhrmann, Craig Pearce; Produção: Baz Luhrmann, Lucy Fisher, Catherine Knapman, Catherine Martin, Douglas Wick; Fotografia: Simon Duggan; Montagem: Jason Ballantine, Jonathan Redmond, Matt Villa; Música: Craig Armstrong; Com: Leonardo DiCaprio, Tobey Maguire, Carey Mulligan, Jason Clarke, Joel Edgerton, Isla Fisher; Estúdios: Warner Bros., Village Roadshow Pictures, A&E Television Networks, Bazmark Films, Red Wagon Entertainment; Distribuição: Warner Bros. 143 min

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