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Crítica: O GRANDE HERÓI, de Peter Berg

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Deve-se sempre desconfiar de um filme de guerra hollywoodiano. É notório que o cinemão pipoca norte-americano tende a enaltecer a coragem dos bravos soldados e o sentimento de patriotismo que toma conta deles para defenderem o país mesmo que ele não esteja sendo atacado. Muitos desses filmes nada mais são que propagandas institucionais superproduzidas (vide “Atrás das Linhas Inimigas”, de John Moore, e até mesmo “Falcão Negro em Perigo”, de Ridley Scott). Com este “O Grande Herói” não é diferente.

O distribuidor brasileiro ainda caiu como um patinho e deu esse título ao filme. Originalmente, o longa chama-se “Lone Survivor”, ou seja, “Sobrevivente Solitário”, que é exatamente o que aconteceu ao protagonista, Marcus Luttrell, soldado que viveu os perigos mostrados na tela, restando apenas ele dente os companheiros do batalhão designado para capturar um líder talibã no Afeganistão.

Nada de errado em narrar uma história de sobrevivência. O cinema tem muitas delas e vários bons filmes foram gerados daí. Mas quando você coloca um diretor como Peter Berg no comando, aquela desconfiança que citei anteriormente fica ainda mais forte. Ele já tinha feito um “Transformers no mar” com o terrível “Battleship”, e agora comprova que nada mais é do que um Michael Bay com um pouco mais de talento.

Logo no começo do filme, quando vem aquela música edificante acompanhando cenas dos soldados na base ianque, treinando ao nascer do sol, você já tem uma ideia do que virá pela frente. Do outro lado, claro, os talibãs são mal encarados, a música fica pesada, e ainda por cima eles são mostrados decapitando uma pessoa. O Afeganistão é o novo Velho-Oeste, no pior dos sentidos.

Bem diferente do que, por exemplo, um filme como “A Hora Mais Escura”, de Kathryn Bigelow, faz, colocando um ponto de vista diferente, questionador, sobre o trabalho daquelas pessoas (que, vale sempre lembrar, não estão ali porque foram forçadas a isso), “O Grande Herói” é só mais um desses filmes de guerra maniqueístas. Foi indicado a dois Oscars, nas categorias técnicas de som, e isso é o máximo de qualidade que se tira dali. É um filme que é bem montado, é bem sonorizado, é eficaz nas cenas de ação, claro. Mas o que ele nos diz é apenas aquilo que os Estados Unidos querem que o mundo pense de seus bravos soldados, que largaram a família e foram lutar por “justiça” (as fotos dos soldados na vida real, nos créditos finais, não deixa dúvida disso).

Uma pena que atores talentosos como Mark Wahlberg (também um dos produtores do longa e parceiro de Michael Bay em seus dois últimos filmes, vale a nota), Emile Hirsch, Eric Bana e Ben Foster sirvam como meros garotos-propaganda dessa ideologia torta. ■

O GRANDE HERÓI (Lone Survivor, 2013, EUA). Direção: Peter Berg; Roteiro: Peter Berg; Produção: Sarah Aubrey, Randall Emmett, Akiva Goldsman, Norton Herrick, Stephen Levinson, Barry Spikings, Mark Wahlberg; Fotografia: Tobias A. Schliessler; Montagem: Colby Parker Jr.; Música: Steve Jablonsky; Com: Mark Wahlberg, Taylor Kitsch, Emile Hirsch, Ben Foster, Yousuf Azami, Ali Suliman, Eric Bana, Alexander Ludwig; Estúdios: Emmett/Furla Films, Closest to the Hole Productions, Film 44, Weed Road Pictures; Distribuição: Paris Filmes. 121 min