Nesta quarta-feira (4/jun), eu estive na sessão de “Taxi Driver”, dentro projeto Clássicos Cinemark, que exibirá ao longo das próximas semanas outros filmes de sucesso de Hollywood nas salas da rede, em diversas cidades do país (saiba mais).
A princípio, eu estava reticente quanto à experiência, uma vez que já presenciei verdadeira aberração no mesmo complexo de salas: foi uma sessão de “Cabra Marcado Para Morrer”, em sua cópia recém-restaurada, em 35 mm, dentro do projeto Cine Cult. Ocorreu que o projecionista, mesmo após minhas reclamações, teimou em exibir o filme com a janela errada, “achatando” a imagem. Após contatos com os responsáveis pelo projeto, ficou comprovado que o erro foi do funcionário. Recebi uma cortesia para compensar o transtorno, mas a verdade é que não apagou o trauma, pois aquela era uma oportunidade única de ver a obra-prima de Eduardo Coutinho na tela grande.
Foi com essa mesma sensação de estar diante de uma experiência singular que eu me dirigi ao mesmo Cinemark Pátio Savassi, em Belo Horizonte, para assistir a “Taxi Driver”. E, felizmente, a sessão foi impecável. Eu tinha dúvidas sobre a qualidade da cópia, uma vez que o cinema só informava que estava em “alta definição”. Seria Blu-ray? DCP? Full-HD? 4K? Ainda não consegui confirmar o formato exato, mas a imagem estava maravilhosa. Nunca vi o filme de Martin Scorsese com tamanha qualidade, e olha que possuo o Blu-ray. O som também não apresentou problemas e foi algo inebriante escutar a magnífica trilha sonora de Bernard Herrmann, o canto do cisne do compositor. Destaco ainda o bom comportamento do público: sala lotada na sessão de 19h30, numa quarta-feira, claramente dominada por pessoas que não costumam frequentar o local para ver seus costumeiros blockbusters. Assim, o temor de enfrentar os “chatos do cinema” logo foi dissipado.
Quanto ao filme, sua força permanece e é incrível como dialoga com a época em que vivemos. Travis Bickle poderia perfeitamente existir na sociedade atual e querer fazer a sua “limpeza”. É assustador, especialmente por ainda por cima ser visto como herói. Imagino que há quem assista ao filme e entenda como uma glorificação daquele tipo de comportamento, assim como ocorreu recentemente com “O Lobo de Wall Street”, também de Scorsese, que é um diretor que trabalha o plano crítico de seus filmes em uma camada quase subterrânea, mas que está lá, não é subentendida. Sem falar no trato que ele dá aos protagonistas de seus filmes, fornecendo ao espectador uma perfeita compreensão (e não uma mera condenação) de seus dramas. Ainda mais um personagem tão complexo como Travis Bickle, que se transforma três vezes (física e psicologicamente) ao longo de sua jornada até alcançar a redenção. Sempre surge o dilema de este ou “Touro Indomável” ser o melhor filme de Scorsese, já que cada um parece tomar a frente sempre que são revistos. Que seja um empate, mas é fato que ambos apresentam Scorsese e De Niro em excelente forma, talvez no melhor momento de suas carreiras, ali entre as metades das décadas de 70 e 80.
Torço para que as sessões dos próximos filmes do projeto continuem lotando e mais filmes sejam programados. Seria ótimo rever na imensa tela “O Exorcista”, “O Iluminado”, “Se Meu Apartamento Falasse”, “Lawrence da Arábia”, “Um Sonho de Liberdade”, “Tubarão”, “Apocalypse Now”, “Cantando na Chuva”, “Operação França”, “O Poderoso Chefão”, entre tantos outros. ■
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.