Um mestre é reconhecido pela leveza no traço. É na simplicidade que mostra seu talento. Em “O Conto da Princesa Kaguya” (2013) , de Isao Takahata (diretor de “Túmulo dos Vagalumes” e parceiro de Hayao Miyazaki no Studio Ghibli), os movimentos são mínimos, os detalhes são sutis. Não precisa de nenhum realismo extremo para tornar o desenho verossímil.
Indicado ao Oscar de Melhor Animação em 2015, o filme utiliza uma fábula para falar sobre a cultura machista no Japão, sobre como a mulher é tolhida de suas vontades, por mais inocentes que sejam, e se vê sem alternativas senão acatar ordens e desejos alheios.
Mas o longa também tem um apelo universal, no que tange ao papel que os pais querem que os filhos exerçam, como se os adultos pudessem se redimir de suas frustrações através das crianças.
A narrativa da animação flui muito bem até a protagonista ir para a cidade com os pais. Mesmo lá é interessante, mas se torna repetitiva em particular na parte em que aparecem os pretendentes de Kaguya. No entanto, as coisas voltam a melhorar no apoteótico ato final. ■
[A ideia do Corte Rápido é fazer um comentário simples, seja uma primeira impressão sobre um lançamento, seja uma breve reflexão sobre um filme revisto recentemente.]
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.