A história dos bastidores de “Homem-Formiga” é mais interessante do que a narrada no filme. Baseado em um dos personagens mais cultuados dos quadrinhos da Marvel, embora não seja tão conhecido assim do grande público, o projeto começou a ser desenvolvido pelo cineasta britânico Edgar Wright, responsável por filmes como “Todo Mundo Quase Morto” e “Scott Pilgrim Contra o Mundo”. Após passar quase meia década envolvido com a produção, o diretor deixou “Homem-Formiga” pouco antes do início das filmagens e foi substituído por Peyton Reed, que antes só havia feito comédias como “Abaixo o Amor” e “Sim Senhor”.
As informações sobre o real motivo da saída de Wright são desencontradas. Alguns dizem que ele ficou insatisfeito com a postura do estúdio, que teria alterado partes do roteiro sem o seu conhecimento, e ele decidiu pedir demissão. Outros afirmam que foi a Marvel quem demitiu o diretor porque ele se recusava a fazer as mudanças solicitadas pelos produtores.
Seja como for, é visível que o resultado final foi afetado pelos problemas ocorridos durante o desenvolvimento do filme. Embora “Homem-Formiga” seja uma aventura bem-humorada, característica do personagem nos quadrinhos, ela se desenvolve de maneira apressada na parte dramática. Por exemplo, a subtrama que envolve Michael Douglas (intérprete de Hank Pym, criador do traje original do herói) e sua filha (vivida pela atriz Evangeline Lily, da série “Lost”): as motivações da jovem nunca são apresentadas de maneira satisfatória e parece que o filme quer logo resolver seu conflito com o pai para a história avançar.
Outro problema está no excesso de personagens coadjuvantes. Aparentemente sem acreditar que o carisma de Paul Rudd seria suficiente para compor o protagonista, Scott Lang, o roteiro o cerca de um grupo de amigos que só atrapalham em suas tentativas de roubar a cena fazendo graça. Aliás, as cenas em que o personagem de Michael Peña recapitula os casos que quer contar são claros traços do humor de Wright que ficaram no roteiro.
O policial (Bobby Cannavale), padrasto da filha do Scott, é outro que ganha mais atenção do que merecia, ao passo que o vilão principal, Jaqueta-Amarela (Corey Stoll), sofre do mesmo problema que acomete a maioria dos vilões dos filmes da Marvel: é um megalomaníaco estereotipado e bidimensional que nunca representa uma ameaça real ao protagonista, que sabemos que encontrará uma forma de ganhar o dia.
Nós nunca saberemos como seria o “Homem-Formiga” de Edgar Wright, mas a versão de Peyton Reed não é um desastre, longe disso. É um filme-padrão dentro do que se espera do entretenimento que o gênero super-herói proporciona e que se destaca pelas boas cenas de ação em que o herói usa seus poderes. Não vai além, mas é o suficiente para nos deixar instigados para vermos Scott agir em conjunto com os Vingadores nos próximos filmes da franquia. ■