QUARTETO FANTÁSTICO: Um filme de super-herói de outra dimensão

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Por incrível que pareça, o maior dos problemas desta terceira tentativa de levar o Quarteto Fantástico dos quadrinhos para o cinema é justamente a tentativa de fazer um filme de super-herói (contemporâneo, pelo menos). É possível sentir isso quando da entrada forçada de uma cena de ação mal feita na narrativa, o que acaba tornando-a anticlimática.

Dirigido por Josh Trank, de “Poder Sem Limites“, até onde se sabe (rumores dão conta de que o cineasta foi demitido durante a pós-produção), o filme se desenvolve bem como uma ficção científica desde o prólogo — em que Reed Richards e Ben Grimm são apresentados ainda crianças, participando de uma feira de ciências na escola — até a hora em que os personagens ganham os poderes. Até mesmo depois de eles se transformarem, enquanto servem como objetos de experimentos militares, o longa mantém o interesse pelo conceito. Mas quando o vilão, o Dr. Destino, aparece, a coisa desanda, porque aí o filme parece ser obrigado a assumir um caráter que não tinha até então.



Assim como ocorreu com “Homem-Formiga“, mesmo tendo sido realizado em outro estúdio (a Fox ainda detém os direitos dos personagens no cinema, junto com os dos X-Men), “Quarteto Fantástico” é um filme que teve influência de produtores e executivos (a briga feia parece ter sido com Simon Kinberg, que se tornou um manda-chuva em Hollywood de uma década para cá). Só que o nome de Trank foi mantido nos créditos, por mais que ele renegue o resultado final e diga que não é o que ele queria ter feito.

O longa tenta ser um antifilme de super-herói, ir contra a fórmula da Marvel, só que faz isso com personagens que já vinham machucados de duas adaptações desastrosas (a de Roger Corman e a de Tim Story, sendo a primeira melhor que a segunda). Se por um lado é uma crueldade com os fãs, que mais uma vez ficam frustrados na espera por um bom filme do Quarteto, por outro é o público que deveria ser menos cruel e perceber que há uma tentativa aqui de fazer algo diferente, e não mais um Vingadores (que já se repetiu no segundo filme).

Trank reduziu o humor típico das produções do gênero e as cenas de ação, investiu no desenvolvimento dos personagens e na relação entre eles. É curioso, porque o tempo vai passando, já tem mais de uma hora de duração e nada de vermos Sr. Fantástico, Coisa, Mulher Invisível e Tocha-Humana. Os desavisados podem nem perceber que se trata de um filme de super-herói, pois ele é conduzido como uma ficção científica apenas, dessas de laboratório e experimentos que desafiam os limites da natureza humana. É só da metade para o fim que as coisas começam a mudar, infelizmente para pior.

É um bom filme com problemas, muito longe de ser terrível como vem sendo pintado pela mídia, aparentemente também influenciada pelos rumores a respeito dos turbulentos bastidores da produção. Não sei se Trank é um sujeito amigável ou o contrário, mas posso avaliar que ele tem domínio da câmera, enquadra bem e mostra saber o que quer. A forma como ele mostra a origem dos personagens é exemplo disso, embora o momento em que eles ganham os poderes pareça fruto de um brainstorm, ideias num rascunho ou tratamento de roteiro, e não a versão final. Por isso a impressão de que é o ponto exato onde Trank teve que parar o que estava construindo e fazer o filme que o estúdio queria.

Os atores estão bem, mas, de novo, ficam caricatos quando precisam bancar os heróis e o vilão. Os efeitos visuais não ajudam muito, parecem feitos às pressas, embora não prejudiquem totalmente a aplicação nas cenas. O Coisa (Jamie Bell) ficou muito bom em CGI (e gosto de sua transfiguração ser o contraponto para o que sofreu na infância). Já o Dr. Destino (Toby Kebbell) ficou horroroso, embora a aparência mal acabada lembre coisas do tipo vistas em filmes sci-fi dos anos 80. O Tocha Humana (Michael B. Jordan) não vai além do que já vimos nos filmes anteriores, mas ter um ator negro no papel é um ganho que não deve ser ignorado. A Mulher Invisível (Kate Mara) é a mais mal aproveitada e o Sr. Fantástico (Miles Teller) comprova ser o integrante do grupo mais difícil de ter os poderes representados. Os efeitos continuam não convencendo, mas, ao menos, é o melhor uso que já fizeram de suas habilidades elásticas.

Só uma última observação: os personagens não mencionam a existência de super-heróis no mundo em nenhum momento, nem depois que ganham superpoderes. Pode ser que havia algum diálogo, piada ou referência e o material foi retirado porque o estúdio vai querer outro reboot e não quis fazer ligações com os filmes dos X-Men. Mas não deixa de ser estranho, já que ao menos o longa poderia ter servido para fazer publicidade para os mutantes. ■