Apesar de ser falado em persa, ser situado na periferia iraniana e ser de uma diretora de origem iraniana, “Garota Sombria Caminha Pela Noite” (A Girl Walks Home Alone at Night, 2014) é uma produção americana (que conta, inclusive, com o ator Elijah Wood, de “O Senhor dos Anéis”, entre os realizadores).
E apesar de apresentar um conceito interessante e que injeta frescor aos filmes de terror, em particular os de vampiros, o longa parece fazer força para deixar a narrativa mais lenta e criar a atmosfera pretendida.
Sem dúvida que a diretora estreante Ana Lily Amirpour consegue criar cenas belíssimas na combinação da fotografia em preto e branco (assinada por Lyle Vincent) com a caprichada direção de arte (de Sam Kramer) e a intrigante trilha sonora (que mistura post-punk com instrumental “morriconiano”), mas a sensação é a de que ela quis fazer um filme estranho apenas para fazê-lo assumir a forma de um filme indie, só pelo estilo. Parece uma graphic novel viva (e, de fato, uma HQ baseada no filme está em produção).
O longa sueco “Deixa Ela Entrar” (2008), de Tomas Alfredson, outro filme diferente sobre vampiros, também é lento, mas não soa forçado, porque a narrativa se desenvolve pausadamente sem se tornar cansativa por isso. Já “Garota Sombria Caminha Pela Noite” parece que fica cozinhando, cozinhando, cozinhando… E nunca fica pronto.
Por outro lado, os motivos feministas são um ponto alto do filme e é bacana a construção da relação da personagem principal (vivida por Sheila Vand) com o rapaz que ela conhece (Arash Marandi). Apesar de não ir além do que que já vimos inúmeras outras vezes, o romance dos dois é verossímil e sincero, ao contrário do que, por exemplo, “A Saga Crepúsculo” faz. Além disso, o jovem se revela uma figura interessante, porque ele não é simplesmente um rebelde sem causa com seu estilo James Dean, pois ele tem muitos motivos para ser esse sujeito que vive à margem naquela cidade fantasma, onde a Garota escolhe suas vítimas baseada nas personalidades perversas de cada uma delas.
Outra coisa legal em “Garota Sombria Caminha Pela Noite” é a atmosfera de western na ambientação da cidade. É um lugar que a gente vê vazio na maior parte do tempo, com poucas pessoas circulando, mas que ganha vida no uso das músicas da banda norte-americana Federale, inspiradas no trabalho imediatamente reconhecível do maestro Ennio Morricone.
Mas, numa reviravolta, a gente tem no filme também canções que usam sons eletrônicos, cordas e percussão. É uma trilha sonora pós-moderna que transforma as imagens — e cria um pequeno videoclipe na cena que usa a faixa “Death”, da banda White Lies.
Apesar desses encantos, no fim, “Garota Sombria Caminha Pela Noite” parece mais um exercício visual que qualquer outra coisa. É uma representação de todas as coisas que a diretora gostaria de homenagear e colocar num filme: western, vampiros, música pop, feminismo, anos 50, cinema indie… Tudo combinado como um feitiço, uma poção mágica. No entanto, o conjunto ou soa pretensioso ou não tem um significado maior: é apenas um romance juvenil esquisitinho e bonitinho, ainda que consiga nos hipnotizar por alguns momentos. ■