A abertura oficial da 11ª CineOP, no Cine Vila Rica, foi uma verdadeira viagem no tempo. Toda ambientada nos anos 80 (seguindo a identidade visual e as temáticas da mostra), a cerimônia teve apresentação do compositor, cantor e ator Leri Faria, que relembrou os históricos programas da televisão brasileira e seus icônicos apresentadores, como Silvio Santos, Flávio Cavalcanti e Chacrinha.
Entre as performances artísticas, se destacaram as músicas ao vivo, com direito à apresentação do Hino Nacional pela Banda Bom Senhor Jesus do Matozinhos e, principalmente, a performance das atrizes Cibele Maia, Gabrielle Salomão e Ludmilla Ferrara, que fizeram uma espécie de dança-protesto, embaladas por músicas fortes de mulheres. Ao mesmo tempo, no telão, eram projetados textos sobre violência contra as mulheres e fotos de manifestações feministas de várias épocas. Eu, como mulher, me emocionei. Senti nossas vozes ganhando força naquele cinema majestoso. Assim como em alguns momentos o coro de “fora Temer” ecoou com vozes convictas.
As homenagens também foram emocionantes, por se tratarem de pessoas muito admiradas e que faleceram recentemente: o restaurador Chico Moreira e o cineasta Eduardo Coutinho. Ambos com contribuições de extremo valor para o cinema brasileiro. Momentos antes das homenagens, a Universo Produção e a UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) assinaram um acordo de parceria para assumir juntos a programação cultural do Cine Vila Rica.
Como parte da homenagem e também da Mostra Histórica houve a exibição de “Cabra Marcado Para Morrer”, de Eduardo Coutinho. Um documentário que me deixa até sem palavras para descrever, tanto pelas qualidades como cinema quanto pelo valor histórico e de reflexão. Eu ainda não o havia visto e me senti privilegiada por conhecê-lo da melhor maneira possível: na tela grande. Ainda mais do Cine Vila Rica, um prédio histórico que carrega tanta memória e beleza.
Para o encerramento, músicos da região se apresentaram. Os shows, inclusive, estão acontecendo ao final de todos os dias. Uma oportunidade para lançar o olhar (e os ouvidos) também para a arte musical local.
Na sexta-feira os destaques foram os debates, seminários e oficinas, além da exibição de outros grandes filmes e de curtas produzidos por educadores e estudantes. Estive presente no Seminário Preservação, História e Educação com o tema “Imagens Vivas de Um Brasil Interditado”, onde se discutiu sobre como o cinema abordou o período da abertura política, as marcas da ditadura e os desafios de retratar o período atual, também em transformação. A pesquisadora Patricia Machado, inclusive, fez uma rica análise sobre “Cabra Marcado para Morrer”.
Assistimos às exibições de “Eles Não Usam Black Tie”, de Leon Hirszman, que teve a presença do filho do cineasta, João Pedro Hirszman, e a “Sessão Especial Eduardo Coutinho”, com o longa “Um Dia Na Vida”. “Um Dia Na Vida” é, inclusive, um caso à parte, pois não pode ser exibido em circuito comercial por problemas de direitos autorais, já que são 19 horas de gravações de programas e comerciais da TV brasileira em que podemos perceber a proposta do diretor através de sua edição.
Ambos muito aplaudidos pelo público, tanto por quem revia quanto por quem provavelmente estava vendo pela primeira vez, assim como eu no caso da excelente obra de Hirszman. Aliás, o sentimento que permeia essa mostra é exatamente esse: passado, presente e futuro que se mesclam nas reflexões, vivências e sonhos.