O Festival de Cinema de Gramado consagrou como grande vencedor de sua quadragésima quarta edição o filme “Barata Ribeiro 716”. O longa-metragem recebeu três Kikitos: Melhor Filme, Melhor Direção para o veterano Domingos de Oliveira e Melhor Trilha Musical.
Domingos, que está completando 80 anos, coroou sua carreira em Gramado. Ele nunca havia ganhado o Kikito de Melhor Filme, embora já tivesse ganhado o troféu de Melhor Direção. E “Barata Ribeiro 716” é um filme de celebração. Situado no Rio de Janeiro da década de 1960, o longa tem o ator Caio Blat no papel principal, assumidamente um alter-ego de Domingos, que relembra sua juventude boêmia no apartamento onde viveu cercado de amigos, artistas, intelectuais e, claro, mulheres. Uma delas é interpretada no filme pela atriz Sophie Charlotte.
Caio Blat, ao apresentar o filme à plateia, fez um belo agradecimento a Domingos pelo papel.
“Barata Ribeiro 716” foi o último filme exibido na competição em Gramado e fez uma apropriada rima com o filme de abertura, o sucesso “Aquarius”, que não concorria a prêmios. Enquanto “Aquarius” serve como metáfora para a crise política do Brasil e o golpe parlamentar, que por sinal aconteceu durante o festival, “Barata Ribeiro” relembra o impacto do Golpe Militar de 1964 sobre a juventude da época.
Protestos políticos, aliás, deram o tom do festival, com vários diretores, roteiristas, produtores e atores se manifestando contra o governo de Michel Temer, enquanto apresentavam seus filmes no palco do Palácio dos Festivais.
A surpresa da premiação foi a comédia “O Roubo da Taça”, que ganhou quatro Kikitos: Melhor Ator, para Paulo Tiefenthaler, e ainda Melhor Roteiro, Fotografia e Direção de Arte. O filme não empolgou muito a plateia, nem a crítica no dia de sua exibição oficial. Apesar de muito bem feita em seus aspectos técnicos, a produção não é tão caprichada como por exemplo “Elis”, competente cinebiografia da cantora Elis Regina, que ganhou os prêmios de Melhor Atriz, para Andreia Horta, e ainda Melhor Montagem e Melhor Filme pelo Júri Popular.
Tampouco, “O Roubo da Taça” é superior a “O Silêncio do Céu”, que recebeu o Prêmio Especial do Júri e foi eleito Melhor Filme pelo Júri da Crítica, do qual eu fiz parte. Dirigido por Marco Dutra e estrelado por Carolina Dieckmann e o argentino Leonardo Sbaraglia, este suspense hitchcockiano sobre medo e violência ainda ganhou, merecidamente, o Kikito de Melhor Desenho de Som.
Entre os curtas-metragens, o mineiro Felipe Saleme ganhou o Kikito de Melhor Direção, pelo filme “Aqueles Cinco Segundos”, que também levou o troféu de Melhor Atriz, para Luciana Paes. O Melhor Curta eleito pelo júri oficial foi “Rosinha”, de Gui Campos, um sensível e muito bem produzido filme sobre um triângulo amoroso formado por velhinhos que decidem dividir o mesmo teto.
Já o Júri da Crítica elegeu “Lúcida” como Melhor Curta. Dirigido por Caroline Neves e Fabio Rodrigo, o filme realizado com praticamente nenhum orçamento faz um impactante retrato da maternidade na periferia de São Paulo, mesclando documentário e ficção.
Por fim, as produções estrangeiras. O sensível drama paraguaio “Guaraní”, coproduzido com a Argentina, faturou os Kikitos de Melhor Filme, Roteiro e Ator, para Emilio Barreto. O filme acompanha uma adolescente e seu avô e fala sobre a valoração da cultura Guarani entre gerações.
A comédia dramática uruguaia “Las Toninas van al Este”, um dos filmes mais simpáticos exibidos em Gramado, ganhou o prêmio de Melhor Atriz, para Verónica Perrota, também codiretora e roteirista do longa. E o road movie chileno “Sin Norte”, sobre a jornada de um rapaz por sua namorada desaparecida, foi eleito o Melhor Filme pelo Júri da Crítica, além de ter ganhado os troféus de Melhor Direção, para Fernando Lavanderos, e Melhor Fotografia.
Os filmes estrangeiros premiados em Gramado infelizmente ainda não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros. Mas fique de olho nas produções nacionais: “O Roubo da Taça” acabou de entrar em cartaz; “O Silêncio do Céu” será lançado no dia 22 de setembro; “Barata Ribeiro 716” chega às telas em outubro; e “Elis” tem lançamento previsto para 24 de novembro.
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.