Andreia Horta em "Elis" (2016) - Divulgação

“Elis”

De todas as cinebiografias de artistas da música brasileira que já foram realizadas, ainda não tínhamos um filme sobre uma cantora do quilate de Elis Regina. Considerada uma das principais vozes da MPB, responsável por revolucionar a Bossa Nova com sua explosão no palco e sua voz inconfundível, Elis é representada à altura por Andreia Horta no longa-metragem premiado no 44º Festival de Gramado (Kikitos de Melhor Atriz, Melhor Montagem e Melhor Longa pelo Júri Popular).

A mineira Andreia não ousa cantar com a própria voz no filme. É claro que, durante as filmagens, ela cantou e muito, mas, para o produto final, o diretor Hugo Prata suprimiu a voz de Andreia e colocou as gravações originais de Elis. Decisão acertada, já que seria mesmo estranho ouvir versões covers, sendo que a biografada é dona de um repertório que está gravado na memória do público. E graças à ótima performance de Andreia, em um verdadeiro trabalho de entrega e transformação na personagem, em várias cenas temos a impressão de que a voz gravada de Elis está de fato saindo do gogó da atriz. Sem falar nos trejeitos e expressões faciais, que Andreia conseguiu captar muito bem.

Enquanto o trabalho da protagonista é o ponto alto do filme, o ponto baixo fica por conta do roteiro (assinado por Prata, Vera Egito e o multipremiado Luiz Bolognesi), que adota uma estrutura episódica com a qual já estamos acostumados pelo padrão novelístico que vários desses filmes adotam. Embora seja plasticamente muito bem acabado, com destaque para a fotografia e a cenografia, “Elis” não escapa de assumir uma narração televisiva. E no pacote vários clichês vem junto, coisas como encontrar um sutiã escondido no sofá quando a mulher desconfia que está sendo traída pelo marido.



Embora devamos reconhecer a difícil tarefa que é resumir toda uma vida em duas horas de filme — ainda mais uma vida como a de Elis, que teve uma trajetória turbulenta, movimentada pelo cenário político inclusive, e findada precocemente — não deixa de ser decepcionante o tratamento dado a algumas passagens importantes, como a notória parceria de Elis com Tom Jobim. O desfecho também não é satisfatório, mas, como Andreia brilha na tela, o filme sobrevive e se posiciona acima da média das cinebiografias do gênero que o cinema brasileiro já produziu.

A trilha sonora de “Elis” é repleta dos principais sucessos da cantora. E eu termino essa resenha com a canção com que Elis ganhou o Festival da Música Popular Brasileira da TV Excelsior, em 1965: “Arrastão”, composição de Edu Lobo e Vinícius de Moraes.