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“Baronesa” é o destaque da premiação

Foto Leo Lara/Universo Produção

Fazendo jus ao tom das discussões suscitadas pelos filmes e pelos debates da 20ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o júri da crítica deu a “Baronesa”, primeiro longa da mineira Juliana Antunes, o prêmio de Melhor Longa-Metragem da Mostra Aurora. Filme híbrido (formato também adotado, em maior ou menor grau, por outras produções exibidas no festival), “Baronesa” tem como protagonistas duas moradoras do bairro Juliana, localizado em uma área periférica, na região Norte de Belo Horizonte. O longa nos apresenta ao dia a dia delas e faz um retrato da vida rondada pela violência e pela incessante guerra do tráfico. Isso, no entanto, está mais no extracampo. Andréa e Lediane, as personagens centrais, tocam suas rotinas, conversam com amigas, cuidam dos filhos e sobrinhos, bebem cerveja, dançam. O filme é sobre essas duas mulheres absolutamente fortes e sobre como essa força mantém suas estruturas emocionais e físicas erguidas.

Além de ter ganhado o prêmio da Mostra Aurora, “Baronesa” rendeu a sua diretora de fotografia, Fernanda de Sena, o inédito Troféu Helena Ignez. Também entregue pelo júri da crítica (formado por Anita Leandro, Ivonete Pinto, Luiz Joaquim, Heitor Augusto e Victor Guimarães) e nomeado a partir da atriz e cineasta Helena Ignez (uma das homenageadas do festival, ao lado de Leandra Leal), o prêmio foi criado nesta edição em razão da forte presença das mulheres na programação e será entregue ao destaque feminino de cada edição da mostra. No caso de Fernanda, um reconhecimento merecido e muito bem direcionado pelo júri.

Também criada este ano, em homenagem ao saudoso cineasta Carlos Reichenbach, a Mostra Olhos Livres teve como vencedor “Lamparina da Aurora”, terceiro longa do maranhense Frederico Machado (“O Exercício do Caos”). Outro prêmio justíssimo e que foi concedido pelo Júri Jovem, o que é um sinal muito bom da força das imagens e do som do filme para impressionar representantes de uma nova geração de cinefilia. Diferente de grande parte das obras exibidas em Tiradentes este ano, “Lamparina” não levanta discussões sobre o feminismo e o machismo, nem discute política e injustiça social. Mas ainda assim é um filme que impacta e envolve, que nos coloca em contato com uma realidade invisível, das entranhas do interior maranhense, ao mesmo tempo em que sua atmosfera de pesadelo provoca sensações em níveis diversos da recepção. Enfim, um cinema de muita potência e duplamente autoral, já que em grande parte se inspira na poesia de Nauro Machado, pai do diretor.

Entre os curtas, o júri da crítica e o júri Canal Brasil (do qual nossa editora Raquel Gomes fez parte) premiaram “Vando Vulgo Vedita”, da dupla cearense Andréia Pires e Leonardo Mouramateus. Um filme inventivo e de alto astral, que dá visibilidade a personagens marginalizados e que se destaca, ainda, pela montagem, pela música e pela performance de seu elenco.

Confira abaixo todos os premiados da 20ª Mostra de Cinema de Tiradentes:

— Melhor longa-metragem Júri Popular: Pitanga (RJ), de Beto Brant e Camila Pitanga

— Melhor curta-metragem Júri Popular: Procura-se Irenice (SP), de Marcos Escrivão e Thiago B. Mendonça

— Melhor curta-metragem pelo Júri da Crítica, Mostra Foco: Vando Vulgo Vedita (CE), de Andréia Pires e Leonardo Mouramateus. “Por instaurar uma vibração que transforma cada plano em um território lúdico, aberto à imprevisibilidade dos jogos de encenação; por traduzir, com frescor e beleza, uma experiência contemporânea de comunidade e resistência, frente aos extermínios em curso; por incluir a performance como estratégia narrativa no cinema.”

— Melhor longa-metragem pelo Júri Jovem, Mostra Olhos Livres, Prêmio Carlos Reichenbach: Lamparina da Aurora (MA), de Frederico Machado. “Pela singularidade irredutível da sua forma, este filme se distancia, de maneira absoluta, dos centros de gravidade habituais do cinema brasileiro. Um filme cujo desejo expressionista força a linguagem em direção ao inconsciente de si mesma e dos personagens: são olhos livres que percebem o que ainda não tem forma definida. Mais vale a força da experiência que o determinismo da gramática. Uma questão, sobretudo, de cinema, para além de qualquer função meramente comunicativa da linguagem.”

— Melhor longa-metragem da Mostra Aurora, pelo Júri da Crítica: Baronesa (MG), de Juliana Antunes. “Pela cumplicidade sem condescendência em relação às pessoas filmadas; pelo enfrentamento de estereótipos apaziguadores da boa consciência; pelo reconhecimento e afirmação da alegria e do prazer em meio aos desastres da experiência social brasileira; pela retenção da violência do extracampo; pelos riscos da mise en scène, ao assumir um gesto fílmico na iminência de desabar.”

— Prêmio Helena Ignez para destaque feminino: Fernanda de Sena, diretora de fotografia de Baronesa (MG). “Pela ressignificação do olhar sobre um universo de exclusão; pelo rigor da imagem e abertura do cinema ao mundo filmado; pela ocupação qualificada do espaço, numa função raramente conduzida por mulheres.”

— Prêmio Canal Brasil de Curtas: Vulgo Vando Vedita (CE), de Andréia Pires e Leonardo Mouramateus

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