“No Intenso Agora”, novo documentário de João Moreira Salles (“Nelson Freire”, “Santiago”), fará a sua pré-estreia brasileira no 22º É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários.
O filme foi selecionado para a mostra Panorama Documento do Festival de Berlim 2017 e teve sua primeira exibição no último sábado, 11 de fevereiro. De acordo com a produtora VideoFilmes, o longa “busca uma reflexão sobre a natureza das imagens históricas. Quem as filma, por que as filma, como as filma? Haveria diferença entre registros realizados em regimes políticos diferentes? O que o arquivo revela de si mesmo sem que o espectador precise recorrer ao contexto histórico? Que tipo de imagem nasce do medo, do enlevo, do risco, da urgência, da alegria?”
Narrado em primeira pessoa, “No Intenso Agora” tem edição de Eduardo Escorel e Laís Lifschitz. A pesquisa de imagem é de Antonio Venâncio, a produção executiva é de Maria Carlota Bruno e a trilha sonora é de Rodrigo Leão.
“Dez anos separam ‘No Intenso Agora’ de ‘Santiago’. Apesar da distância, tenho a impressão de que são filmes aparentados. Não me refiro apenas ao aspecto pessoal dos documentários, mas também ao modo como eles foram realizados. Os dois são essencialmente filmes de arquivo, nascidos na ilha da edição. ‘Santiago’ surgiu do trabalho de três pessoas de três gerações diferentes – Eduardo Escorel, eu e Lívia Serpa –, que, ao longo de meses, construíram o filme a partir da reflexão que fizemos sobre a natureza do material bruto que havíamos reunido. ‘No Intenso Agora’ nasceu do mesmo jeito, mas com Laís Lifschitz no lugar de Lívia. A diferença é que levou mais tempo – não meses, mas anos. E também, que de uma forma não muito clara para mim, ‘Santiago’ talvez seja sobre o pai, enquanto ‘No Intenso Agora’ é sobre a mãe”, explica João Moreira Salles, no material de divulgação do longa.
Ainda de acordo com a VideoFilmes, o documentário “reflete sobre o que revelam quatro conjuntos de imagens da década de 1960: os registros da revolta estudantil francesa em maio de 68; os vídeos feitos por amadores durante a invasão da Tchecoslováquia em agosto do mesmo ano, quando as forças lideradas pela União Soviética puseram fim à Primavera de Praga; as filmagens do enterro de estudantes, operários e policiais mortos durante os eventos de 68 nas cidades de Paris, Lyon, Praga e Rio de Janeiro; e as cenas que uma turista – a mãe do diretor – filmou na China em 1966, ano em que se implantou no país a Grande Revolução Cultural Proletária. ‘No Intenso Agora’ trata da natureza efêmera dos momentos de grande intensidade. O que se pode dizer de Paris, Praga, Rio de Janeiro e Pequim a partir das imagens daquele período? Por que cada uma dessas cidades produziu um tipo específico de registro.”
Ao É Tudo Verdade, Salles afirmou sobre a seleção do filme para a edição deste ano: “Boa parte do atual vigor do documentário brasileiro pode ser atribuída ao festival É Tudo Verdade. É ele que há mais de vinte anos vem expondo o realizador brasileiro ao melhor da produção mundial no gênero. Isso tem uma força tremenda, pois educa o nosso olho. Tome o meu caso. Em certa medida, meu novo filme é uma tentativa de refletir sobre a natureza das imagens não-ficcionais. Muito do que está ali nasceu do contato com diretores e documentários que conheci por causa do É Tudo Verdade. É por isso que exibir ‘No Intenso Agora’ pela primeira vez no Brasil dentro do festival onde aprendi tanto é, para mim, como voltar para casa”.
A edição 2017 do festival acontecerá entre 20 e 30 de abril, simultaneamente em São Paulo e no Rio de Janeiro.