FERROADA, de Adriana Barbosa e Bruno Mello CastanhoDocumentário inventivo que nos apresenta um personagem singular e de resistência política: o escritor (e também coveiro) Tico. Para fazer jus à sua personalidade incomum e inspiradora, não se trata de uma narrativa convencional e linear, mas bastante complexa. Referências poéticas, literárias e imagéticas do próprio Tico constituem as camadas do filme. O espaço do trabalho formal, o Cemitério da Consolação, apesar de ser entendido como parte do sistema capitalista que oprime Tico, é abordado com a mesma leveza que ele parece encarar suas obrigações ali, sem julgamentos, sem estereótipos.
De forma lúdica somos levados para o mundo criativo dele nesse espaço, em casa e em lugares imaginários. Nessa busca por conhecê-lo melhor, o filme tenta criar seu alter ego com a inserção de um ator, que contracena com Tico. Mas o que fica dessa tentativa é a impossibilidade de se reinventar alguém que por si só já se reinventa nesse mundo opressor, tentando ser o que se é da maneira mais autêntica possível. Mesmo assim, é uma bela homenagem, que nos aguça a curiosidade para saber mais sobre Tico, seu mundo e sua escrita.
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MINHA ÚNICA TERRA É NA LUA, de Sérgio SilvaUm filme completamente centrado em seu autor. Mas o magnetismo é todo da maravilhosa atriz Gilda Nomacce, que interpreta o próprio diretor, ou seja, quem se autorretrata, num longo jogo de perguntas e respostas sobre as mais diversas questões pessoais. Algumas profundas, outras nem tanto. A intensidade da atuação de Gilda é tamanha que as outras performances ficam um tanto desinteressantes. É estimulante comparar Gilda e Sérgio fazendo o mesmo papel e imaginar o quanto de verdade (e o quanto de um e de outro) há naqueles gestos e dizeres. Mas o filme não cria uma relação de proximidade com o público. O distanciamento é grande demais e dificulta o envolvimento.
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