A cerimônia de encerramento da 21ª Mostra de Cinema de Tiradentes aconteceu no último sábado, dia 27 de janeiro, no Cine-Tenda. Antes da revelação dos filmes vencedores de cada categoria e entrega dos prêmios, o artista Sérgio Pererê fez uma interpretação bastante marcante de “Roda Viva”, de Chico Duarte, além de iniciar sua performance adentrando o espaço com uma melodia vocal muito própria e figurino que chama a atenção pelas tramas que remetem ao natural e as cores que evocam significados como espiritualidade, sabedoria e nobreza.
A cerimônia foi muito bem apresentada por David Maurity, ator e um dos fundadores do Toda Deseo, coletivo de teatro de Belo Horizonte. Embora muito organizada, bem conduzida e celebrando filmes com propostas diversas e interessantes, a premiação em si acabou por refletir uma questão estrutural histórica que precisa ser discutida: com exceção do Prêmio Helena Ignez, que é obrigatoriamente entregue a um destaque feminino, todos os premiados foram homens.
Conheça abaixo a lista de vencedores:
MELHOR CURTA JÚRI POPULAR
“A Retirada para um Coração Bruto” (MG), de Marco Antônio Pereira
O filme tem um personagem central que ganhou a simpatia de todos e foi destacado por público e crítica. Seu Manoel, intérprete de Ozório, esteve presente na sessão do filme e no debate do dia seguinte, mas, infelizmente, não esteve presente na cerimônia de encerramento e fez falta.
MELHOR CURTA MOSTRA FOCO – JÚRI DA CRÍTICA
“Calma” (RJ), de Rafael Simões
Primeiríssimo curta de Rafael Simões. Marcos Carvalho, da equipe do filme, dedicou o prêmio a todos os realizadores negros.
MELHOR CURTA MOSTRA FOCO – PRÊMIO CANAL BRASIL DE CURTAS
“Estamos Todos Aqui” (SP), de Chico Santos e Rafael Mellim
Ao receberem o prêmio, os realizadores agradeceram e disseram que esperam que o filme cumpra sua função social. Aliás, provocação, urgência, movimento são coisas que o filme evoca não só pelo tema, mas principalmente pela linguagem.
MELHOR LONGA MOSTRA OLHOS LIVRES – PRÊMIO CARLOS REICHENBACH (JÚRI JOVEM)
“Inaudito” (SP), de Gregorio Gananian.
O diretor agradeceu o reconhecimento especialmente em relação ao músico que ele retrata no filme, Lanny Gordin – grande nome da produção musical brasileira.
MELHOR LONGA MOSTRA AURORA
“Baixo Centro” (MG), de Ewerton Belico e Samuel Marotta
Ao receberem o prêmio, os diretores agradeceram e leram uma carta da Associação de Trabalhadoras e Trabalhadores do Cinema Independente de Minas Gerais, abordando problemas percebidos nas políticas públicas do setor e solicitando ao governo estadual maior participação da classe audiovisual nos processos de elaboração de editais de financiamento e distribuição de verba para produção dos filmes. “Acreditamos que o maior desafio do Brasil atual é devolver ao povo o seu poder de participação”, disse Ewerton Belico.
PRÊMIO HELENA IGNEZ – DESTAQUE FEMININO (JÚRI DA CRÍTICA)
Julia Katharine, roteirista e atriz de “Lembro Mais dos Corvos” (SP), de Gustavo Vinagre.
O momento mais bonito da noite, pois Júlia é mulher trans e fez um discurso de muita emoção, chamando a atenção para a importância da representatividade dentro e fora das telas e da igualdade de direitos. Ela dedicou o troféu a todas as mulheres que lutam por seu espaço na vida e no trabalho Para quem viu o filme, a premiação de Julia foi ainda mais especial!
MELHOR LONGA JÚRI POPULAR
“Escolas em Luta” (MG), de Eduardo Consonni, Rodrigo T. Marques e Tiago Tambelli
Prêmio dedicado pela equipe do filme aos estudantes secundaristas e sua luta.
Ano que vem tem mais!
Editora, crítica de cinema e podcaster do Cinematório. Filiada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e membra do Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema. Jornalista profissional pela UFMG e com formação em Produção de Moda pela mesma instituição. É cria dos anos 90 e do interior de Minas.