Além da prestigiada Aurora, a programação da 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes, que acontece de 18 a 26 de janeiro de 2019, conta com uma segunda mostra competitiva de seis longas-metragens chamada Olhos Livres. As obras que compõem essa seção se assemelham por abordagens estéticas arrojadas, ao se desprenderem de compromissos mais vinculados ao mercado e fazerem das possibilidades da linguagem suas ferramentas lúdicas e criativas.
Na Olhos Livres, cineastas estreantes ou que já tiveram trabalhos exibidos em Tiradentes competem pelo Troféu Carlos Reichenbach e por prêmios de parceiros do evento. A avaliação dos filmes é feita pelo Júri Jovem, composto por estudantes, com idade entre 18 a 25 anos, escolhidas a partir de uma oficina de crítica de cinema realizada em agosto, em Belo Horizonte, durante a 12ª Mostra CineBH, ministrada por Victor Guimarães.
Victor é também um dos curadores da Mostra, ao lado de Lila Foster. Ele destaca a pluralidade de propostas e possibilidades de recepção, ainda que nem todos os filmes sejam inéditos. “A seleção da Olhos Livres 2019 permite um equilíbrio entre trabalhos inéditos e títulos já em circulação, que ganham novas possibilidades de fruição dentro da dinâmica do evento. As poéticas dos seis filmes nos parecem reunir algumas das apostas mais singulares em jogo no cinema brasileiro hoje”, afirma.
Lila ressalta as fortes ressonâncias dos longas com a temática “Corpos Adiante”. “Os corpos assumem centralidade como matéria de criação e proposição estética tanto na ficção quanto no cinema de cunho mais documental, fronteiras que também se encontram diluídas em muitos filmes”, completa.
Confira, a seguir, os títulos que competem na Mostra Olhos Livres com comentários de Lila Foster:
TRAGAM-ME A CABEÇA DE CARMEN M., de Felipe Bragança e Catarina Wallenstein (RJ)
A figura de Carmen Miranda, que assombra o processo criativo de uma atriz no seu encontro com a personagem. “Essa busca passa pela investigação do próprio corpo físico da atriz, pela modulação dos trejeitos, dos gestos e da voz”.
SUPERPINA: GOSTOSO É QUANDO A GENTE FAZ!, de Jean Santos (PE)
“Comédia de costumes e fantasia futurista de corpos desejantes e potentes, que centram na pulsão erótica um caminho para tecer um mergulho em um mundo mais liberto”.
TRÁGICAS, de Aída Marques (RJ)
“O filme toma como eixo as mulheres das tragédias gregas e o corpo feminino que enuncia, através de entrevistas, o caminho da dor e da injustiça”.
CURRAIS, de David Aguiar e Sabina Colares (CE)
Faz da busca pela história dos campos de concentração instalados pela ditadura varguista no Ceará um encontro entre temporalidades e formas de narrar o trauma, expressando, de forma simbólica, a perenidade da dor e da violência física impetrada pelo Estado.
PARQUE OESTE, de Fabiana Assis (GO)
A luta presente pela moradia se faz pela força de corpos e imagens que se afirmam e resistem a tiros, bombas e forte cerco policial.
CALYPSO, de Rodrigo Lima e Lucas Parente (RJ)
“Um imaginário mítico de mulheres que retornam numa espécie de ritual cinematográfico em torno da relação tensa e transcendente entre corpo e natureza”.
SERVIÇO
22ª Mostra de Cinema de Tiradentes
De 18 a 26 de janeiro de 2019
Tiradentes – MG
Programação e mais informações aqui.
Editora, crítica de cinema e podcaster do Cinematório. Filiada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e membra do Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema. Jornalista profissional pela UFMG e com formação em Produção de Moda pela mesma instituição. É cria dos anos 90 e do interior de Minas.