Conheça cada filme das mostras Aurora e Foco

"Natureza Morta" (2020) - Cadu Pilotto/Divulgação
"Natureza Morta" (2020) - Cadu Pilotto/Divulgação

As duas principais seções competitivas da 23ª Mostra de Tiradentes começaram na segunda-feira, 27 de janeiro. Na Mostra Aurora, oito longas-metragens foram exibidos até sexta-feira, dia 31. Já na Mostra Foco, dedicada aos curtas-metragens, foram três sessões (nos dias 27, 28 e 29), reunindo 10 filmes. Ambas as seleções foram avaliadas pelo Júri Oficial. Confira os premiados.

Mostra Aurora

A Mostra Aurora é dedicada a filmes de diretores com até três longas-metragens no currículo. Este ano, são oito filmes selecionados, um a mais do que nas edições anteriores. Em comum, afirma os organizadores, “todos lidam com a realidade brasileira através de chaves de reinvenção, reconfiguração ou alegoria, seja em documentários que olham diretamente para determinado espaço ou acontecimento, seja numa ficção de época ambientada no século XIX”.

Como se tratam de filmes inéditos, é muito difícil fazer uma indicação específica da seleção. O mergulho na Aurora é uma das experiências mais instigantes da Mostra de Tiradentes justamente por esse “fator de risco”: você pode se deparar com filmes totalmente inventivos, mas também pode encontrar narrativas e formatos mais tradicionais.



Os mais recentes vencedores da Mostra Aurora foram: “Vermelha” (2019), de Getúlio Ribeiro (GO), “Baixo Centro” (2018), de Ewerton Belico e Samuel Marotta (MG), “Baronesa” (2017), de Juliana Antunes (MG) e “Jovens Infelizes ou um Homem que Grita Não é um Urso que Dança” (2016), de Thiago B. Mendonça (SP).

A seguir, conheça os filmes que participaram da Aurora em 2020, com alguns comentários pinçados do curador Francis Vogner dos Reis, que selecionou os filmes ao lado de Lila Foster:

“Cabeça de Nêgo”, de Déo Cardoso (CE)

O universo da sala de aula é cenário do longa, a partir do impasse entre um rapaz, o introvertido Saulo Chuvisco, que propõe modificações na escola usando de ideias dos militantes dos Panteras Negras. A diretoria não permite sua liberdade de pensamento e ele decide ocupar as dependências da escola por tempo indeterminado.

Quando: 31/01 | sexta – 20h00

“Cadê Edson?”, de Dácia Ibiapina (DF)

O terceiro longa da experiente Dácia Ibiapina (“Ressurgentes”) é um filme sobre movimentos populares em defesa da moradia, apresentando o Estado contra os Sem Teto, na capital do Brasil. O filme se utiliza de material televisivo para recriar “uma narrativa na contramão da forma como aquela situação e aqueles personagens foram apresentados pelos meios tradicionais de comunicação”, aponta Francis Vogner.

Quando: 29/01 | quarta – 18h00

“Canto dos Ossos”, de Jorge Polo e Petrus de Bairros (CE)

Duas amigas monstras decidem seguir rumos diferentes. Décadas depois da despedida, Naiana é professora do ensino médio em uma pequena cidade litorânea, onde um hotel em reforma emana estranha presença. A três mil quilômetros dali, a noite devoradora envolve Diego. Segundo Francis Vogner, o longa “se vale da multiplicidade de elementos imaginativos (da ficção de horror ao drama social) para apresentar uma abordagem singular do cotidiano de trabalhadores no país, tendo de ponto de partida uma professora vampira”. Veja o trailer.

Quando: 29/01 | quarta – 20h00

“Mascarados”, de Marcela Borela e Henrique Borela (GO)

Inconformados com a decisão judicial que obriga os mascarados da Festa do Divino a saírem com um número de identificação, um grupo deles tenta invadir a prefeitura da cidade. Quatro jovens, trabalhadores de uma pedreira, lidam de maneiras diferentes com a eminência da festa e a exploração do trabalho. No segundo longa dos irmãos Borela (“Taego Ãwa”, também selecionado para a Mostra Aurora, em 2016), a revolta é o espaço exterior à ação e os personagens definem-se em relação aos acontecimentos. O elenco conta com Aristides “Juninho” de Souza, protagonista de “Arábia”. A montagem é assinada por Affonso Uchôa.

Quando: 30/01 | quinta – 22h00

“Natureza Morta”, de Clarissa Ramalho (MG)

No terceiro filme da trilogia iniciada por Ricardo Miranda e agora finalizada por Clarissa Ramalho, a narrativa se passa em 1888 e conta a história de Lenita, uma jovem, criada pelo pai, de formação culta, que desconsidera a existência de um homem à sua altura intelectual. Expondo os conflitos internos da personagem e as convenções da época, o filme “opta por manter o anacronismo romanesco do material original (o romance “A Carne”, de Julio Ribeiro, lançado em 1888), porém transferindo várias de suas inquietações para as aflições do século 21, em especial a subjetividade da mulher diante das violências e opressões de uma sociedade brasileira afundada no patriarcalismo”, aponta a curadoria.

Quando: 31/01 | sexta – 22h00

“Ontem Havia Coisas Estranhas no Céu”, de Bruno Risas (SP)

O longa ficcionaliza o dia a dia real de uma família afetada pelo desemprego e pelas dificuldades financeiras e cuja matriarca certo dia desaparece, aparentemente abduzida por forças alienígenas. Segundo o diretor Bruno Risas, o filme parte de um desejo de “esmiuçar o processo de formação de nosso imaginário nesse país inventado, de encarar de frente as contradições e as violências que o formam”. Da seleção da Aurora, é o título com o maior currículo até aqui: foi eleito melhor projeto Work in Progress, no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (2018), dentro da Mostra Futuro do Brasil, e melhor Work in Progress no PuertoLab, do Festival Internacional de Cinema de Cartagena (2019). Além disso, foi exibido no Festival de Torino 2019, dentro da Mostra Waves. Já tem distribuição no circuito comercial garantida pela Vitrine Filmes em 2020.

Quando: 28/01 | terça – 20h30

“Pão e Gente”, de Renan Rovida (SP)

Realizado pelo coletivo Tela Suja, o longa é uma adaptação do texto “A Padaria”, de Bertolt Brecht, escrito no começo dos anos 1930, e tem o desemprego como tema principal. Segundo Francis Vogner, o filme busca “reconstituir o conteúdo do material original para o meio urbano contemporâneo do Brasil, onde as questões apontadas pelo dramaturgo alemão ainda podem reverberar hoje”.

Quando: 30/01 | quinta – 20h00

“Sequizágua”, de Maurício Rezende (MG)

Num assentamento agro-extrativista no sertão profundo de Minas Gerais, as famílias já conseguiram realizar o sonho da terra, mas a falta de chuva e a monocultura de eucaliptos na região dificultam a sua sobrevivência. Neste cenário, enquanto os mais velhos procuram transmitir o seu conhecimento da lida com a terra, os mais jovens vêem a vida na cidade como uma oportunidade. Conforme aponta a curadoria, o longa lida “com suas próprias temporalidades num diálogo aproximado com ‘A Vizinhança do Tigre’, de Affonso Uchôa (que inclusive é roteirista do filme de Maurício Rezende)”.

Quando: 27/01 | segunda – 20h00

Mostra Foco
"Egum" (2020) - Foto: Divulgação
“Egum” (2020) – Foto: Divulgação

Principal programa de curtas-metragens da Mostra de Tiradentes, a Mostra Foco concede, além do Troféu Barroco entregue pelo Júri da Crítica, o Prêmio Canal Brasil de Curtas, que possui um júri independente formado por críticos e jornalistas que fazem a cobertura do festival.

Na 23ª edição da Mostra de Tiradentes, os curtas da Foco se destacam pelo hibridismo de linguagens, como documentário e filme-ensaio, e pela presença de veteranos e jovens realizadores.

Assim como na Aurora, é difícil fazer recomendações deste ou daquele filme da Foco. Há na seleção alguns filmes que vem de uma trajetória prévia em festivais, mas o convite é sempre para a descoberta.

Os mais recentes vencedores da Mostra Foco foram: “Caetana” (2019), de Caio Bernardo (PB), “Calma” (2018), de Rafael Simões (RJ), “Vando Vulgo Vedita” (2017), de Andréa Pires e Leonardo Mouramateus (CE) e “Noite Escura de São Nunca” (2016), de Samuel Lobo (RJ).

Eis os curtas em competição na Mostra Foco em 2020:

“A Barca”, de Nilton Resende (AL)

Na noite de Natal, duas mulheres travam um diálogo dentro de uma barca, enquanto ela desliza por sobre as águas de uma lagoa escura e gelada. Um acontecimento inesperado deixará sua marca no término dessa travessia. Inspirado no conto “Natal na Barca”, de Lygia Fagundes Telles.

Quando: 29/01 | quarta – 22h30

“Aos Cuidados Dela”, de Marcos Yoshi (SP)

A sinopse revela pouco: “A rotina de Mitsue muda com a visita do neto.” O curta é o mais novo trabalho do diretor Marcos Yoshi (“Bem-vindos de Novo” e “Quando o Céu Desce ao Chão”) e é produzido pela Meus Russos, que tem no portfólio o premiado curta “Torre”, de Nádia Mangolini.

Quando: 27/01 | segunda – 22h30

“Calmaria”, de Catapreta (MG)

Realizado por Leonardo Cata Preta Souza (ou apenas Catapreta), o filme busca o diálogo com a ancestralidade e com a vida do jovem negro urbano contemporâneo, por meio de uma narrativa poética que propõe desnudar, de forma direta ou às vezes por meio de metáforas, o racismo estrutural endêmico à sociedade brasileira. Trata-se de um recorte da trajetória de um jovem, seu filho e do que resta de sua família. Mais informações e imagens na página do filme. Tem também o trailer disponível.

Quando: 29/01 | quarta – 22h30

“Cinema Contemporâneo”, de Felipe André Silva (PE)

Participou do Festival Mix Brasil 2019 e do XII Janela Internacional de Cinema. Tem como ponto de partida uma foto que leva a um relato pessoal do diretor sobre uma história de violência sexual. Conforme escreve Julio Pereira, na Revista Moviement, “um filme sobre imagem e dor, sobre traumas e fazer cinema sobre traumas”.

Quando: 28/01 | terça – 22h30

“Egum”, de Yuri Costa (RJ)

Descrito como um “filme de terror afro-surrealista”, o curta acompanha um renomado jornalista que, após anos afastado devido à violenta morte do irmão, retorna para a casa de sua família para cuidar de sua mãe, que sofre uma grave e desconhecida doença. Numa noite, o jornalista recebe a visita de dois estranhos, que têm negócios desconhecidos com seu pai. Esse encontro, juntamente com acontecimentos que o levam a desconfiar que algo sobrenatural se abateu sobre sua mãe, fazem-no temer uma nova tragédia. Veja o trailer.

Quando: 28/01 | terça – 22h30

“Estamos Todos na Sarjeta, Mas Alguns de Nós Olham as Estrelas”, de João Marcos de Almeida e Sergio Silva (SP)

“Greve no tapete vermelho” é o mote do novo trabalho da dupla João Marcos de Almeida e Sergio Silva. Eles estiveram em Tiradentes em 2018 com “Febre” e codirigiram o ótimo “Desculpa, Dona Madama” (2013) com Juliana Rojas e Caetano Gotardo, no coletivo Filmes do Caixote. No elenco estão Isabél Zuaa (“As Boas Maneiras”), Tuna Dwek (“Quando Eu Era Vivo”), Gilda Nomacce (“Trabalhar Cansa”) e Julia Katharine (“Lembro Mais dos Corvos”).

Quando: 28/01 | terça – 22h30

“Mansão do Amor”, de Renata Pinheiro (PE)

Com Tavinho Teixeira e Everaldo Pontes no elenco, o curta da experiente Renata Pinheiro (de filmes como o premiado curta “Superbarroco” e o longa “Amor, Plástico e Barulho”) participou da mostra competitiva do FestCine – Festival de Curtas de Pernambuco, em 2019.

Quando: 28/01 | terça – 22h30

“Minha História é Outra”, de Mariana Campos (RJ)

“O amor entre mulheres negras é mais que uma história de amor?”, pergunta a sinopse do curta dirigido por Mariana Campos (“Tia Ciata”), selecionado para o Festival Mix Brasil e premiado pelo Júri Popular no Recifest 2019. Uma das personagens principais é Niázia, moradora do Morro da Otto que abre a sua casa para compartilhar as camadas mais importantes na busca por essa resposta. Já a estudante de direito Leilane nos apresenta os desafios e possibilidades de construir uma jornada de afeto com Camila.

Quando: 27/01 | segunda – 22h30

“Perifericu”, de Nay Mendl, Rosa Caldeira, Stheffany Fernanda e Vita Pereira (SP)

Curta do coletivo paulista que propõe difundir e valorizar a cultura e a realidade LGBTQ+ da periferia, o filme reflete sobre os deslocamentos de moradores para o centro urbano, incorporando em sua linguagem o rap, louvores de igreja e passos de vogue, além de referências do afrofuturismo, poesia marginal e cinema de guerrilha. Outro destaque da seleção do Festival Mix Brasil 2019.

Quando: 29/01 | quarta – 22h30

“Rancho da Goiabada”, de Guilherme Martins (SP)

O filme narra o último dia de Alex como cortador de cana no interior de São Paulo, antes de se mudar pra capital, e o último dia de Alex lavando pratos e “marretando” nos trens da capital, antes de se mudar pro interior. O título é inspirado na música de mesmo nome de João Bosco.

Quando: 27/01 | segunda – 22h30

Júri da Crítica da 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes:

Bernardo Oliveira (professor, pesquisador, crítico de música e cinema e produtor, RJ); Cíntia Guedes (professora, pesquisadora e performer, RJ); Cláudia Mesquita (professora e pesquisadora, MG); Luís Soares Júnior (crítico de cinema, PB); Patrícia Machado (pesquisadora e professora, RJ).