O amor pode ser visto por alguns como um sentimento complicado. Para outros, como algo essencial. É sobre o misto de sensações a respeito deste tema que fala o filme “Música Para Morrer de Amor”. Em uma atmosfera urbana da cidade de São Paulo, nós acompanhamos as desventuras amorosas de três jovens: Ricardo (Victor Mendes, de “PSI”), Isabela (Mayara Constantino, de “45 Dias sem Você”) e Felipe (Caio Horowicz, de “Hebe – A Estrela do Brasil”). Adaptado da peça “Música Para Cortar os Pulsos”, o filme intercala as situações que no espetáculo são relatadas pelos personagens em três monólogos. É o segundo longa dirigido e roteirizado por Rafael Gomes, também autor do texto teatral.
Talvez esse seja um filme para românticos (in)sensíveis, mas, mesmo trazendo este aspecto, o enredo se perde em clichês e frases de efeito. Com diálogos por vezes engessados, nós temos dificuldade em ouvir os personagens, seja por problemas na mixagem de som, seja pela falta do grito e da perda de controle, essa que os amores trazem (ou pelo menos a ideia construída pelos amores românticos). Mesmo com esses problemas que tornam a experiência menos confortável, um ponto positivo do longa é a busca por questionamentos acerca do amor. Diálogos a respeito de idealização, representatividade, sexualidade e liberdade deixam o filme menos limitado e com uma ideia mais realista.
Essas indagações fazem surgir contradições interessantes dentro do filme, como por exemplo: será que existe a possibilidade de amor pleno sem a dor? A dor é realmente necessária dentro de histórias românticas? Além disso, há uma referência direta a “Romeu e Julieta”, já que a protagonista Isabela e seu namorado Gabriel (Ícaro Silva, de “Legalize Já – Amizade Nunca Morre”) brincam de interpretar o lendário casal da dramaturgia shakespeariana. Isabela, aliás, é a personagem que mais entrega tanto o drama teatral, quanto o sentimento real de dor que o nome do filme propõe. Ela realmente “morre” de amor, seguida por Ricardo, que mesmo sendo emocional fica mais em sua idealização do que na construção real das camadas de sua história.
É engraçado como alguns personagens podem atrapalhar o desenvolvimento da trama e é isso o que sinto por Felipe. Ele é aquele tipo de pessoa que se aproveita, literalmente, de toda e qualquer situação para benefício próprio e tem muita dificuldade em encontrar a própria personalidade, inclusive dentro do roteiro. Por mais que ele ligue as três histórias de uma maneira exageradamente dramática, ele nos diz muito pouco sobre as suas próprias confusões. Como ele mesmo pontua em determinada cena, sente-se como “dublê de sua própria vida”. A confusão faz parte da vida, só que no contexto específico do filme, ela não diz nada e Felipe é apenas um adulto infantil, que foca em relacionamentos ao invés de si mesmo.
Por mais que a trilha sonora realmente faça jus ao título do filme, o que vemos é um longa de “sessão da tarde” sem voz e personalidade. A preocupação foi tamanha com as músicas, que as vozes dos personagens ficaram em segundo plano e suas histórias soam confusas e mal amarradas. O que nem é de todo ruim ou errado, pois o amor real não é linear e muitas vezes nos traz a sensação de desencontro com o outro. Pode até ser essa a intenção do filme, mas, apesar de musicalmente envolvente, ele teima em silenciar a emoção que poderia ser arrebatadora. ■
MÚSICA PARA MORRER DE AMOR (2019, Brasil). Direção: Rafael Gomes; Roteiro: Rafael Gomes (a partir da peça “Música Para Cortar os Pulsos”, de sua autoria); Produção: Diana Almeida; Fotografia: Dhyana Mai; Montagem: Cristian Chinen, Daniel Ribeiro; Com: Mayara Constantino, Victor Mendes, Caio Horowicz, Ícaro Silva, Denise Fraga, Suely Franco, Bella Camero, Tess Amorim; Estúdio/Produtora: Lacuna Filmes; Distribuição: Vitrine Filmes. 102 min