“Para Todos os Garotos”: leveza e amadurecimento marcam a despedida da trilogia

Amor, do latim amore, significa uma forte afeição por outra pessoa, nascida de laços de consanguinidade ou de relações sociais. Pensando na trilogia “Para Todos os Garotos”, é de essencial importância refletir sobre o amor e nas fases em que ele se apresenta na vida, principalmente na juventude. O amadurecimento de Lara Jean (Lana Condor, “Alita: Anjo de Combate”) e Peter Kavinsky (Noah Centineo, de “As Panteras”) representa também a mudança de ciclos que nós vivemos: o final da fase escolar, o início da faculdade e, consequentemente, o começo de novos ciclos.

Com estreia em 2018, “Para Todos os Garotos que Já Amei” é baseado na série de livros de Jenny Han e nos apresenta a rotina de Lara Jean Covey. Ela é uma garota tímida, viciada em livros de romance, mas que nunca teve a coragem de viver algo parecido — em parte por não se abrir e em parte por estar apaixonada por Josh (Israel Broussard, de “Bling Ring: A Gangue de Hollywood” e “A Morte Te Dá Parabéns”), ex-namorado da sua irmã mais velha (Janel Parrish, do seriado “Pretty Little Lies”). Nessa situação, Lara Jean decide escrever em segredo cartas de amor destinadas para todos os (cinco) garotos por quem ela já se apaixonou. A trilogia começa com direção de Susan Johnson e os filmes seguintes são assumidos por Michael Fimognari, que já assinava a direção de fotografia do primeiro.

A virada na história de Lara Jean acontece quando Kitty, sua irmã mais nova, envia todas as cartas aos remetentes, o que gera uma tremenda confusão. É na tentativa de fuga de Josh que a protagonista aceita fingir que namora Peter, que propõe esse acordo com a intenção de fazer ciúmes na sua ex-namorada Gen (Emilija Baranac, de “O Mundo Sombrio de Sabrina”). Neste ponto, começamos a ver diversos elementos narrativos que fazem parte da “fórmula” usada em comédias românticas, além de homenagens a alguns sucessos da cultura pop, desde “Gatinhas e Gatões” (1984), de John Hughes, a “Clube da Luta” (1999), de David Fincher.



Ainda nessa primeira parte, nós conseguimos nos conectar com o sentimento de pureza e apaixonamento — uma espécie de frenesi adolescente em que acompanhamos as etapas de viver uma paixão pela primeira vez. Mesmo isso já tendo sido mostrado em filmes como “Meu Primeiro Amor” (1991) e “O Primeiro Amor” (2010), em “Para Todos os Garotos que Já Amei” temos o diferencial de os personagens serem pessoas com um futuro mais encaminhado, aparentemente.

Em comum, os três longas da trilogia trazem um aspecto estético muito colorido idealizado por Fimognari, com cenários vintage, uma fotografia bem marcada pela luz atravessada por cores azul, rosa, amarelo em tons frios, o que dá um aconchego maior para as narrativas de cada personagem. Em “Para Todos os Garotos, PS: Ainda Amo Você” (2020), nós temos novamente a construção de um triângulo, dessa vez entre Lara Jean, Peter e John Ambrose (Jordan Fisher, de “Teen Wolf”), personagem este que teve alteração dos atores e gerou certa insatisfação por parte do público por não seguir a caracterização dos livros. Essa mudança gerou um erro de continuidade em relação ao primeiro filme e, de todos, é o que mais incomoda pelo ritmo lento e pela narrativa rasa. A confusão de Lara Jean entre os garotos não se comprova em nenhum momento, mas, mesmo com essas questões repetitivas, o longa mantém o tom romântico e juvenil.

Na última parte, lançada em 2021, nós conseguimos enxergar personagens mais conscientes e intensos com seus sentimentos. Não há mais espaço para dramas superficiais e desnecessários: o que está em jogo é o futuro, os sonhos e os novos ciclos. A insegurança do novo faz parte da vida, principalmente no final do colégio, a decisão de uma profissão e o medo de perder contato das pessoas que fizeram parte da sua rotina. Todas essas questões são abordadas durante o terceiro filme, que fecha a história após quatro anos. Com um roteiro reflexivo, sofremos e nos emocionamos junto com Lara Jean e Peter, e revivemos nossos anseios. Mas, ao final, entendemos que isto também faz parte dos processos — corajosos — de crescer. ■

Nota:

PARA TODOS OS GAROTOS: AGORA E PARA SEMPRE (To All the Boys: Always and Forever, 2021, EUA). Direção: Michael Fimognari; Roteiro: Katie Lovejoy (baseado no livro de Jenny Han); Produção: Matthew Kaplan; Fotografia: Michael Fimognari; Montagem: Michelle Harrison, Joe Klotz, Tamara Meem; Música: Joe Wong; Elenco: Lana Condor, Noah Centineo, Janel Parrish, Anna Cathcart, Ross Butler; Estúdio/Produtora: Ace Entertainment; Distribuição: Netflix. 109 min