Ícone do site cinematório

“Red: Crescer é uma Fera” celebra a descoberta do eu

"Red: Crescer é uma Fera" (2022), de Domee Shi/Divulgação

Que as novas produções da Disney estão mudando o enredo e trazendo novas formas de se pensar família, infância e relações de amizade não é segredo para ninguém. Há alguns anos, já vemos que as princesas deixaram de ser o foco principal e deram espaço a obras mais complexas e com um contexto mais humano e realista, como foi o caso de “Soul” e do recente “Encanto”.

Uma das novidades do catálogo da Disney+ e que segue esta nova safra de animações é o longa produzido pela Pixar “Red: Crescer é uma Fera”, que conta com a direção da chinesa Dommee Shi (do curta “Bao”), que também escreveu o roteiro ao lado de Julia Cho e Sarah Streicher. O filme acompanha a vida de Meilin (Rosalie Chiang), uma adolescente sino-canadense que se apresenta a nós com autoconfiança e autonomia. Mas, claro, que isso vai só até a página dois. O que, logo mais, se exprime na tela é uma Meilin em conflito sobre si mesma e o peso causado por ter que honrar sua família.

Tudo ganha proporções surpreendentes, inimagináveis para Meilin, quando ela descobre que diante de situações em que ela perde o controle das emoções, ela se transforma num panda vermelho. Na história, tal poder ou maldição é passado às mulheres da família de Meilin, de geração a geração, fazendo assim, parte de sua ancestralidade. Mas o panda também é uma metáfora para os atravessamentos da puberdade, especialmente para quem começa a lidar com a chegada da menstruação. Aos poucos – mas não sem grandes confusões – Meilin vai aprendendo a conviver com seu “novo eu” e passa a entender que é necessário aceitar seus novos aspectos físicos e emocionais, deixar que tudo venha à tona para que possa ser ela mesma, ainda que isso rompa com as expectativas da família e decepcione sua mãe.

O foco que o filme dá à relação de Meilin com a mãe é algo muito positivo por explorar questões mais profundas sobre como ambas se afetam e como mesmo sendo tão diferentes podem se compreender. Por outro lado, a falta de presença e voz ativa do pai acaba não sendo retratada como um problema que assola diversos lares. Assim, ele é colocado como coadjuvante na criação de Meilin.

No conceito de família, é subentendida a ideia de não só honrar nossos pais e mães, mas que também devemos dar orgulho a eles. Mas de onde vem esse orgulho? De ideais construídos por eles? De moldes impostos em nossa criação? Muitos desses questionamentos são suscitados em “Red: Crescer é uma Fera”. Até porque família deveria ser muito mais do que esperar algo que você imagina ser o certo, mas sim aceitar o outro na sua totalidade, com suas qualidades e defeitos. Quando Meilin se torna um panda vermelho, traz em si toda essa totalidade, que em outrora ela tentava esconder de sua mãe Ming Lee (Sandra Oh) ou, pior, que sua mãe já se recusava a enxergar. Essa transformação revela todo o distanciamento e a não aceitação de algo que na vida é inevitável – o crescimento.

Pais e mães, muitas vezes, recusam a ver em seus filhos pessoas capazes de tomar decisões assertivas, o que pode gerar, com o tempo, um abismo nas relações. Com uma temática teen, o filme consegue escancarar esta dinâmica. Este início da adolescência se tornou, na história, o gancho perfeito para tensionar o controle exercido por sua mãe, Ming Lee, e criar uma nova relação entre as duas, quando ambas entendem suas fragilidades e desejos. Enquanto a mãe quer manter as raízes e proteger a filha dos perigos do mundo, Meilin quer ter seus desejos e espaço respeitados, podendo seguir com sua autodescoberta com maior liberdade. A solução é, então, encontrar o equilíbrio.

Nota:
Sair da versão mobile