Até o próximo 30 de outubro, dia do segundo turno das eleições para presidente e governador no Brasil, a plataforma de streaming mineira Embaúba Play realiza a Mostra Embaúba Cinema e Política.
Com acesso gratuito, a mostra apresenta sete filmes brasileiros inéditos em plataformas de streaming, de forma a contribuir com o debate político através de produções audiovisuais que tratam de questões urgentes no contexto brasileiro. As produções selecionadas abordam temas como educação, saúde, emprego, segurança, economia e democracia, sempre sob viés mais autoral e provocativo, marca dos trabalhos distribuídos pela Embaúba.
De acordo com a curadoria, a mostra compreende o sentido do “fazer política” como algo orgânico da vivência, para além dos conchavos de gabinete ou reuniões de portas fechadas. Os sete filmes em cartaz fazem parte da produção audiovisual contemporânea brasileira, que olha para a política sob diversos aspectos e possibilidades, e que acredita nas batalhas diárias da micro e da macropolítica no máximo das tentativas por vidas mais dignas.
Um dos destaques da mostra é o documentário “Quem Tem Medo?”, dirigido por Ricardo Alves Jr., Henrique Zanoni e Dellani Lima. O filme registra os inúmeros casos de censura a artistas brasileiros no período recente no qual a extrema direita ampliou espaço político e social.
Outro documentário em destaque é “Estamos te Esperando em Casa”, de Cecília da Fonte e Marcelo Pedroso. Os diretores acompanham o cotidiano de uma terapeuta ocupacional num hospital do Recife, no ápice de internações ocasionadas pela pandemia de Covid-19.
Vale a pena conferir também “Pão e Gente”, de Renan Rovida, uma adaptação para a realidade social brasileira do texto “A Padaria”, de Bertolt Brecht, escrito no começo dos anos 1930 e que tem o desemprego como tema principal. Escute o podcast com a nossa entrevista com o diretor e a produtora Maria Tereza Urias.
Conheça, abaixo, os filmes da Mostra Embaúba Cinema e Política — todos podem ser vistos gratuitamente, até 30 de outubro, por meio do site embaubaplay.com:
“Brizolão” (Jéferson, 2021)
O filme resgata a história e o impacto dos CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública), implantados no Rio de Janeiro durante os governos de Leonel Brizola (1983-1987 / 1991-1994), tendo projeto educacional desenvolvido pelo sociólogo Darcy Ribeiro e arquitetura das escolas a cargo de Oscar Niemeyer. Entre depoimentos de ex-professoras dos CIEPs, historiadores e políticos analisando a importância da iniciativa, o longa-metragem também resgata imagens de arquivo (incluindo várias entrevistas de Brizola) que permitem um olhar amplo sobre o processo, de sua ascensão ao sucateamento posterior e o resgate em anos recentes, ainda que sem a mesma atenção do Estado. “O político tem que olhar para o futuro, para as novas gerações”, declama Brizola.
“Entre Nós Talvez Estejam Multidões” (Aiano Bemfica e Pedro Maia de Brito)
O documentário tem a campanha eleitoral de 2018 como pano de fundo do cotidiano dos moradores da Ocupação Eliana Silva, na região de Belo Horizonte, marcada por um dia a dia de tensões e possibilidades de confronto com forças oficiais. A ascensão da extrema direita ao governo é o fantasma a aumentar os assombros do local, captado pela câmera em suas complexidades humanas, nas esperanças do futuro e na resistência aos constantes obstáculos impostos pelas injustiças vindas principalmente do Estado.
“Estamos te Esperando em Casa” (Cecília da Fonte e Marcelo Pedroso, 2021)
O filme documenta o cotidiano de Poliana, terapeuta ocupacional num hospital do Recife que, no ápice de internações ocasionadas pela COVID-19, faz o que pode para conectar pessoas isoladas em UTIs a seus entes queridos através de videochamadas de celular. Entre o dia a dia mais ordinário da profissional e seu corre-corre pelos corredores e quartos de hospital, o média-metragem coloca o espectador por dentro da angústia de uma sequência de acontecimentos cuja responsabilização oficial ainda está por ser definida, ainda que todos saibamos de que instância vem.
“Os Grandes Vulcões” (Fernando Kinas e Thiago B. Mendonça, 2022)
A atriz Fernanda Azevedo, do grupo Coletivo Comum, recria um monólogo a partir de texto de outro dramaturgo, o inglês Harold Pinter (1930-2008). Entre idas e vindas no teatro documentário de alta voltagem e imagens de arquivo de filmes ou registros históricos, Fernanda literalmente desenha a ingerência dos EUA na geopolítica mundial ao longo do século 20.
“Lutar Lutar Lutar” (Sérgio Borges e Helvécio Marins Jr, 2021)
A política do gesto: Reinaldo, craque do Atlético-MG nos anos 1970, desafia a ditadura militar ao erguer o punho direito ao empatar o jogo contra a Suécia na Copa do Mundo de 1978. A imagem, até hoje considerada um ícone da resistência aos desmandos antidemocráticos do regime militar brasileiro, está no documentário que resgata a consciência de um profissional que se preocupava com os rumos de violência de um governo autoritário décadas atrás.
“Pão e Gente” (Renan Rovida, 2020)
O filme se baseia no dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1848-1956) para tratar da fome e do desemprego no Brasil e mescla encenação e improvisação de um grupo de atores às margens de uma sociedade cada vez mais desigual.
“Quem Tem Medo?” (Ricardo Alves Jr, Henrique Zanoni e Dellani Lima, 2022)
Documentário que registra os inúmeros casos de censura a artistas brasileiros em anos recentes, período no qual a extrema direita ampliou espaço político e social e, com isso, foi para cima de manifestações culturais que considerassem passíveis de proibição. Casos de grande repercussão envolvendo nomes como Renata Carvalho, Wagner Schwartz, Maikon K, José Neto Barbosa e as peças “Caranguejo Overdrive” (Aquela Cia de Teatro) e “RES PUBLICA 2023” (A Motosserra Perfumada) são abordados.