Além de “Infantaria”, de Laís Santos Araújo, na mostra Generation 14Plus, um curta e um longa-metragem são os primeiros filmes brasileiros confirmados para representar o país no 73º Festival de Berlim, que acontece em fevereiro e terá cobertura especial do cinematório.
“As Miçangas” foi selecionado para a mostra Berlinale Shorts, principal competição de curtas do evento. Dirigido por Emanuel Lavor e Rafaela Camelo, o filme propõe uma reflexão sobre o aborto a partir da história de duas irmãs que viajam para que uma delas possa interromper uma gravidez não planejada. As personagens são interpretadas pelas atrizes Tícia Ferraz e Pâmela Germano.
“O filme propõe uma reflexão sobre aborto dentro de um recorte sutil, mesclando crueza e alegoria. Dessa forma, a intenção não é só falar sobre como o aborto é comum e cotidiano a muitas mulheres, mas também refletir sobre culpa e fraternidade”, afirmam os diretores, que acrescentam que o roteiro foi escrito em parceria e sob medida para as atrizes. “Vale ressaltar que Letícia e Pâmela se parecem muito, algo que nos ajuda a ressaltar a dinâmica simbiótica entre elas, bem como sedimentar o aspecto fraternal dessa narrativa”, completam.
Filmado em Brasília, “As Miçangas” foi o vencedor do Primeiro Edital de Produção da Cardume, plataforma de streaming de curtas-metragens nascida em Minas Gerais. Além de exibir curtas brasileiros em seu catálogo, a Cardume desenvolve ações que ajudam a fomentar novas produções de artistas independentes.
“As Miçangas” foi realizado em 2022 e a equipe conta com diversos talentos de destaque na cena brasiliense, como a cantora e multi-instrumentista Letícia Fialho na trilha sonora, a diretora de arte Sarah Noda, a diretora de fotografia Joanna Ramos, a ascendente produtora Daniela Marinho e a atriz e produtora Catarina Accioly.
O festival começa em 16 de fevereiro e os vencedores serão anunciados no dia 25 do mesmo mês.
“O Estranho” na mostra Forum
O longa-metragem brasileiro “O Estranho” também fará sua estreia mundial no 73º Festival de Berlim. Escrito e dirigido pela dupla Flora Dias e Juruna Mallon, o filme foi selecionado para a mostra Berlinale Forum, dedicada a trabalhos ousados e que ofereçam novas perspectivas para a linguagem cinematográfica.
O principal cenário de “O Estranho” é o Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Embora seja um lugar onde as pessoas transitam o tempo todo, o terminal é retratado no filme pelo olhar daqueles que ficam, ou seja, os trabalhadores do aeroporto. Quem conduz a narrativa de “O Estranho” é Alê, uma funcionária de pista cuja história familiar foi sobreposta pela construção do aeroporto em um território que, no passado, pertenceu a um povo indígena.
Filmando no próprio aeroporto e seus arredores, Dias e Mallon definem o processo do filme como uma total imersão no território de Guarulhos. “Pesquisa, preparação e filmagem nos levaram a perceber sua realidade como algo essencialmente heterogêneo e múltiplo”, afirmam os diretores. “Quanto mais orientamos nosso olhar (e câmera) para os espaços e para as rotinas diárias dos trabalhadores do aeroporto, mais essa realidade se tornou rica e surpreendente. Ao lado do aeroporto encontramos bairros urbanos populosos, mas também comunidades rurais, sítios arqueológicos escondidos, e tribos indígenas em processo de retomada”, completam.
Este é o segundo longa de Flora Dias e Juruna Mallon, que antes dirigiram “O Sol nos Meus Olhos”, de 2012. Segundo Flora, “O Estranho” é “um trabalho de muitos anos e de muitas pessoas. Uma estreia como essa em Berlim é uma janela importante pra todas essas energias colocadas no filme”, diz a diretora.
O filme é uma produção da Lira Cinematográfica e da Enquadramento Produções. A distribuição é da Embaúba.