tiradentes 2023 filmes
Tiradentes voltou. E voltou com tudo. Logo na abertura do evento, no dia 20 de janeiro, o Cine-Tenda foi tomado pela energia do público, ávido pelo reencontro presencial, após dois anos de distanciamento por causa das restrições provocadas pela pandemia de Covid-19. Ávido, também, pela retomada das políticas públicas para o setor cultural, em especial, é claro, para o audiovisual.
A recriação do Ministério da Cultura está sendo celebrada a cada sessão, com gritos e aplausos da plateia formada por espectadores, realizadores, atores, atrizes e nós da imprensa, que também não víamos a hora de dar boas notícias após mais de meia década de desmonte do nosso cinema. A muito bem-vinda realização do 1º Fórum de Tiradentes é outra demonstração do retorno que todes, todas e todos aqui esperam.
O que já vimos na tela em Tiradentes até aqui também reflete essa experiência. As primeiras 24 horas da mostra foram de expurgo e catarse. Começando pelo filme de abertura, “Mugunzá”, da dupla homenageada, Ary Rosa e Glenda Nicácio. O longa é um drama musical protagonizado pela atriz Arlete Dias, frequente colaboradora dos diretores. Ela canta a plenos pulmões e o filme exprime essa vontade de desabafar, de colocar para fora tudo o que estamos sentindo.
No dia seguinte, o média-metragem “Caixa Preta”, também realizado por uma dupla, Saskia e Bernardo Oliveira, promoveu uma daquelas experiências únicas que Tiradentes proporciona graças à reação coletiva do público às imagens projetadas. Por si só, o filme já diz muito, resgatando cenas e eventos dolorosos, particularmente para a população negra, e trabalhando esse material de uma maneira experimental e magnética. É um filme-transe.
Outros filmes exibidos na mostra no primeiro fim de semana também expressam um desejo por busca e reconstrução. Busca por entender o que vivemos nos últimos anos, em diferentes esferas, da experiência pessoal até a macro-política. E reconstrução daquilo que tentaram destruir. Em um filme como “Canção ao Longe”, dirigido por Clarissa Campolina, por exemplo, a jovem protagonista (interpretada por Mônica Maria) se vê na iminência de iniciar uma nova jornada de vida a partir do contato com o pai ausente por meio de cartas. Busca por uma identidade e reconstrução de relações familiares.
Já em “Corpo Presente”, documentário dirigido por Leonardo Barcelos, as performances e a história pessoal da atriz Ludmilla Ramalho guiam a narrativa de uma busca por entendimento do próprio corpo e dos corpos dos outros. A jornada que o filme atravessa tem muito de violência e ruína (por meio de imagens belíssimas e instigantes, vale ressaltar), mas seu princípio é o de reestabelecer o equilíbrio, colocar as coisas de volta no lugar, reverter o retrocesso.
Verdade seja dita, a Mostra de Tiradentes nunca nos abandonou. Os filmes exibidos nas edições online de 2021 e 2022 mantiveram o espírito da mostra ativo. Mas, sim, Tiradentes voltou: voltou com a experiência da tela grande, da troca de ideias sobre os filmes, do encontro com os realizadores, da festa após as sessões para espairecer após sermos atravessados por tantas emoções visuais e sonoras.
Se há expurgo, catarse, busca e reconstrução, devo acrescentar que há também aqui a chama da renovação. Que os novos talentos continuem a surgir para que o cinema brasileiro contemporâneo possa também se fazer histórico.
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