O diretor brasileiro Karim Aïnouz vai competir pela Palma de Ouro com seu novo longa-metragem, “Firebrand”. O anúncio da seleção oficial do 76º Festival de Cannes foi feito hoje. O primeiro filme do cineasta cearense falado em inglês é descrito como um terror psicológico ambientado na Inglaterra da dinastia Tudor. A trama reconstitui a história da rainha Catherine Parr, sexta e última esposa de Henrique VIII, e a única a evitar o banimento ou a morte.
O elenco de “Firebrand” conta com Alicia Vikander e Jude Law nos papéis principais, além de Sam Riley, Eddie Marsan e Ruby Bentall. O roteiro é assinado pelas irmãs Henrietta e Jessica Ashworth, que escreveram o filme “Fale com as Abelahas” e trabalharam na série “Killing Eve”.
Em “Firebrand”, Aïnouz trabalha novamente com a aclamada diretora de fotografia francesa Hélène Louvart. Os dois fizeram juntos antes “A Vida Invisível”, filme vencedor da mostra Un Certain Regard (Um Certo Olhar) em 2019. O cineasta é figura carimbada em Cannes desde o seu primeiro longa, “Madame Satã” (2002), e participou da edição de 2021 com o documentário “O Marinheiro das Montanhas”.
Mais brasileiros
“A Flor do Buriti”, novo filme dirigido por Renée Nader Messora e João Salaviza, foi selecionado para a mostra Un Certain Regard. A dupla participou do festival em 2019 com “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos”, que ganhou o Prêmio Especial do Júri na mesma mostra.
Renée Nader Messora é paulista e João Salaviza é português. O novo trabalho dos diretores foi realizado durante um período de 15 meses na Terra Indígena Krahô, onde eles também filmaram o longa anterior. Saiba mais aqui.
Tem cinema brasileiro também na Semana da Crítica, outra prestigiada mostra paralela do Festival de Cannes. A seleção deste ano inclui “Levante”, primeiro longa da cineasta Lillah Halla, diretora do premiado curta “Menarca”. O filme é uma coprodução entre Brasil, Uruguai e França.
“Levante” acompanha a trajetória de uma jovem jogadora de vôlei que vê sua promissora carreira ser interrompida por uma gravidez não desejada. Ela tenta fazer um aborto ilegal, mas acaba se tornando alvo de um grupo religioso fundamentalista. O elenco conta com Ayomi Domenica Dias, Loro Bardot, Gláucia Vandeveld, Grace Passô e Rômulo Braga.
Outro filme brasileiro selecionado para Cannes este ano é “Retratos Fantasmas”, novo trabalho do diretor Kleber Mendonça Filho. O documentário — um filme-ensaio sobre salas de cinema — está entre as exibições especiais do festival, fora de competição.
Assim como Karim Aïnouz, Kleber Mendonça Filho é um veterano de Cannes e integrou o júri oficial em sua última passagem por lá, em 2021. Antes, o cineasta competiu pela Palma de Ouro com “Bacurau” (codirigido com Juliano Dornelles), em 2019, e “Aquarius”, em 2016.
A memória de Nelson Pereira dos Santos
O programa de documentários da seção Cannes Classics exibirá um filme inédito sobre a vida e obra do cineasta Nelson Pereira dos Santos, autor de obras importantes da filmografia nacional, como “Rio, 40 Graus” (1955), “Vidas Secas” (1963), “Tenda dos Milagres” (1977) e “Memórias do Cárcere” (1984).
Dirigido por Aída Marques e Ivelise Ferreira, viúva do cineasta que morreu em 2018, “Nelson Pereira dos Santos – Vida de Cinema” é narrado na primeira pessoa. No filme, Nelson fala da sua vida pessoal, do seu processo criativo e também do sucesso que obteve ao longo de 60 anos de carreira.
“Nelson Pereira dos Santos – Vida de Cinema” foi produzido pela MP2 Produções, em parceria com a GloboNews, Globo Filmes e Canal Brasil. Mais de 80 horas de gravações de arquivo foram reunidas para a seleção de imagens, filmes e entrevistas. Além disso, a trilha sonora criada especialmente para o longa traz referências de Villa Lobos e Tom Jobim, dois dos compositores brasileiros preferidos do cineasta. O lançamento no Brasil será no segundo semestre.
Curta universitário
Por fim, entre os curtas-metragens, o Brasil participa de Cannes com “Solos”. Filmado em São Paulo, o curta terá sua estreia mundial na mostra La Cinef (antiga Cinéfondation), que exibe filmes universitários. “Solos” foi o filme de conclusão de curso de alunos da FAAP e é o único latino na competição.
Escrito e dirigido pelo paulista Pedro Vargas, “Solos” foi realizado durante a pandemia e conta a história de Leonardo, um jovem pedreiro que passa a escutar um estranho som vindo do chão na obra em que está trabalhando. O filme passa por temas como a expansão desenfreada do mercado imobiliário e a ligação desse fato com o apagamento das nossas memórias ancestrais e originárias.
O 76º Festival de Cannes acontecerá de 16 a 27 de maio. Confira a seleção oficial completa.
Matéria atualizada em 05/05/2023 para acréscimo de informações.
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.