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12ª Mostra Ecofalante exibe 101 filmes e discute questões socioambientais urgentes

“Nação Lakota Contra os EUA” (Lakota Nation vs. the United States, 2022), de Jesse Short Bull e Laura Tomaselli - Divulgação

A 12ª Mostra Ecofalante de Cinema (site oficial), considerada o mais importante evento audiovisual sul-americano dedicado a temas socioambientais, acontece de 1º a 14 de junho em 25 salas de São Paulo, com entrada gratuita.

Questões relacionadas aos povos indígenas e ao racismo estão em destaque na programação formada por 101 filmes, entre obras premiadas em festivais como Cannes, Berlim, Tribeca, Cinéma du Réel e CPH:DOX, ao lado de produções em pré-estreia mundial ou inéditas no Brasil.

A sessão de abertura da 12ª Ecofalante, exclusiva para convidados, é nesta quarta-feira, 31 de maio, às 20h, no Espaço Itaú de Cinema Augusta. Na ocasião será projetado o impactante longa-metragem “Nação Lakota Contra os EUA”, dirigido por de Jesse Short Bull e Laura Tomaselli e exibido nos festivais de Tribeca, Cleveland e Denver. O filme utiliza rico material de arquivo e entrevistas íntimas com ativistas veteranos e jovens líderes, tendo entre seus produtores executivos os atores Marisa Tomei e Mark Ruffalo.

Competição latino-americana

Temáticas relativas aos povos indígenas e seus territórios marcam parte das produções selecionadas este ano para a Competição Latino-americana. Os 33 filmes selecionados trazem discussões sobre racismo, migração e trabalho. Destaca-se “A Invenção do Outro”, de Bruno Jorge, que narra uma jornada na Amazônia para tentar encontrar e estabelecer o primeiro contato com um grupo de indígenas isolados da etnia dos Korubo. O filme venceu quatro prêmios no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro em 2022, inclusive o de melhor filme.

Consagrado diretor já homenageado na 4ª Mostra Ecofalante de Cinema, Jorge Bodanzky (de “Iracema – Uma Transa Amazônica”) assina “Amazônia, A Nova Minamata?”. O longa acompanha a saga do povo Munduruku para conter o impacto destrutivo do garimpo de ouro em seu território ancestral, enquanto revela como a doença de Minamata, decorrente da contaminação por mercúrio, ameaça os habitantes de toda a Amazônia hoje.

Já no inédito “Mamá”, uma obra de cunho intimista com elaborada narrativa e técnica, o realizador de descendência maia Xun Sero relata como, sendo mexicano tzotzil, cresceu cercado pela sacralidade da Virgem de Guadalupe e da Mãe Terra – e sendo ridicularizado por não ter pai.

Também chama a atenção o doc observacional peruano “Odisseia Amazônica”, de Terje Toomistu, Alvaro Sarmiento e Diego Sarmiento, que testemunha o trabalho feito nos barcos que constituem o principal meio de transporte de mercadorias e pessoas no rio Amazonas.

"A Invenção do Outro" (2022), de Bruno Jorge - Divulgação
“A Invenção do Outro” (2022), de Bruno Jorge – Divulgação

Plantationoceno

Na programação da 12ª Ecofalante estão as tradicionais seções Panorama Internacional Contemporâneo, Competição Latino-americana e Concurso Curta Ecofalante. A Mostra Histórica é dedicada este ano ao tema “Fraturas (pós-)coloniais e as Lutas do Plantationoceno” e traz 17 títulos realizados de 1966 a 1984, que discutem a herança do colonialismo em diferentes partes do planeta.

Cunhado nos anos 2010 pelas teóricas norte-americanas Donna Haraway e Anna Tsing, o termo “Plantationoceno” se contrapõe ao difundido “Antropoceno” ao reconhecer os fundamentos coloniais e escravagistas da globalização e do sistema socioeconômico hegemônico hoje.

Entre os clássicos presentes na Mostra Histórica está “A Batalha de Argel”, de Gillo Pontecorvo, que a Ecofalante exibe em versão restaurada em 4K pela Cinemateca de Bolonha e Instituto Luce Cinecittà. A obra, que foi proibida pela censura da ditadura militar brasileira, ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza e foi indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro, melhor diretor e melhor roteiro.

Outros destaques na seleção da Mostra Histórica são “Etnocídio”, de Paul Leduc, “Cabra Marcado para Morrer”, de Eduardo Coutinho, “Emitaï”, de Ousmane Sembène, “Eu, Sua Mãe”, de Safi Faye, “Nossa Voz de Terra, Memória e Futuro”, de Marta Rodríguez e Jorge Silva, e “A Zerda e os Cantos do Esquecimento”, de Assia Djebar.

"A Batalha de Argel" (La battaglia di Algeri, 1966), de Gillo Pontecorvo - Divulgação
“A Batalha de Argel” (La battaglia di Algeri, 1966), de Gillo Pontecorvo – Divulgação

Novidades do cinema mundial

No Panorama Internacional Contemporâneo da 12ª Mostra Ecofalante, com 27 filmes de 26 países, destaca-se uma seleção de títulos que abordam sobretudo questões ligadas ao racismo, mas que também não deixam de falar do legado do colonialismo e suas muitas consequências socioambientais presentes até os dias de hoje.

A seleção deste ano apresenta “Filhos do Katrina”, longa-metragem que discute racismo ambiental a partir das consequências do furacão Katrina; “Duas Vezes Colonizada”, sobre o ativismo de uma defensora dos direitos humanos inuíte no parlamento europeu; e “Uma História de Ossos”, sobre a luta de uma consultora africana para dar um fim digno aos restos mortais de mais de oito mil “africanos libertos”, descobertos durante a construção de um aeroporto na remota ilha de Santa Helena.

A seção traz também abordagens de fluxos migratórios em títulos como “Recursos”, elogiado no importante festival de documentários IDFA-Amsterdã; “O Último Refúgio”, filme premiado no festival dinamarquês CPH:DOX, que registra um abrigo temporário de migrantes na África; e “Xaraasi Xanne (Vozes Cruzadas)”, filme de arquivo que lança luz sobre a violência da agricultura colonial no continente africano, premiado no tradicional festival Cinéma du Réel, na Suíça.

Discussões econômicas

Sempre presentes no Panorama Internacional Contemporâneo, as discussões econômicas estão no centro de títulos como o trepidante “A Apropriação”, filme mais recente de Gabriela Cowperthwaite, diretora de “Blackfish”. Ela revela os esforços secretos de governos e multinacionais para controlar comida e água no mundo.

Já em “Amor e Luta em Tempos de Capitalismo”, produção francesa exibida no CPH:DOX e no Festival de Documentários DMZ, com direção de Basile Carré-Agostini, o casal midiático formado pelos sociólogos Monique Pinçon-Charlot e Michel Pinçon, conhecido por suas pesquisas de mais de cinco décadas sobre os ultra-ricos, é retratado no auge do movimento dos Coletes Amarelos.

E a Disney também marca presença na Ecofalante, mas não da forma como você pode estar imaginando. Sobrinha-neta de Walt Disney e herdeira da The Walt Disney Company, Abigail Disney é documentarista e ativista social. Em “O Sonho Americano e Outros Contos de Fadas”, codirigido por Kathleen Hughes, ela aborda a profunda crise de desigualdade nos Estados Unidos, usando o legado de sua família como um estudo de caso para explorar criticamente a intersecção entre racismo, poder corporativo e o sonho americano.

Novidades brasileiras

Uma programação dedicada às estreias mundiais em salas de cinema traz ao público da Ecofalante três títulos brasileiros que abordam o embate entre indígenas e garimpeiros, queimadas em quatro biomas do país e deslocamento de toda uma população.

“Cinzas da Floresta”, de André D’Elia, registra uma expedição com o ativista Mundano, que percorreu mais de 10 mil quilômetros por quatro grandes biomas: Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica. Seu objetivo era produzir uma cartela em tons de cinza a partir do carvão e das cinzas de restos de árvores e de animais carbonizados. Com esse material foi pintado um painel a partir da famosa obra modernista do artista plástico Candido Portinari (1903-1962), “O Lavrador de Café”.

"Cinzas da Floresta" (2023), de André D’Elia - Divulgação
“Cinzas da Floresta” (2023), de André D’Elia – Divulgação

O filme “Escute, A Terra Foi Rasgada”, de Fred Rahal Mauro (de “BR Acima de Tudo”) e Cassandra Mello, registra o acampamento Luta pela Vida, em Brasília, no qual lideranças dos povos Mebêngôkre (Kayapó), Munduruku e Yanomami se uniram para escrever uma carta-manifesto em repúdio à atividade garimpeira. Na sessão promovida pela 12ª Mostra Ecofalante estarão presentes as lideranças indígenas da Aliança em Defesa dos Territórios, Davi Kopenawa, Beka Munduruku e Maial Kayapó.

Por fim, “Parceiros da Floresta”, de Fred Rahal Mauro, percorre três continentes evidenciando casos de parcerias entre setores privado, público e comunidades locais que geram soluções para a proteção e restauração de florestas tropicais globais. As iniciativas aliam tecnologia, negócios e conhecimento tradicional para gerar benefícios verdadeiramente compartilhados.

Completam a programação da 12ª Mostra Ecofalante um programa infantil, um trabalho em realidade virtual e uma série de atividades paralelas que incluem uma masterclass com o pensador martiniquês Malcolm Ferdinand, que também explora em sua obra o conceito de Plantationoceno. A mostra realiza ainda uma oficina de cinema ambiental com o cineasta Jorge Bodankzy e promove um ciclo de debates. Confira todas as informações e datas no site oficial da mostra.

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