A produção audiovisual indígena é rica e conta com forte participação feminina, mas ainda é pouco conhecida dos brasileiros. Para mudar essa situação, foi criada a Katahirine (site oficial), a primeira rede de mulheres indígenas que se dedicam a produções audiovisuais.
Lançada oficialmente no último dia 29 de abril, em uma live que contou com participação da Ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, a Katahirine já une 71 mulheres de 32 etnias, entre elas, Maemes Gonçalves de Oliveira Ferro, da etnia Xakribiá, de Minas Gerais.
Aberta, coletiva e composta por mulheres que atuam nas áreas do audiovisual e comunicação, a rede tem como principal objetivo fortalecer a luta dos povos originários por meio do cinema. A iniciativa nasce a partir da atuação do Instituto Catitu e começa a tomar forma com um mapeamento inédito das cineastas indígenas no Brasil.
“Construir esse coletivo é fundamental para as lutas do movimento das mulheres originárias e seus povos”, afirma o texto de apresentação da rede, escrito pelas mulheres de seu Conselho Curador, que inclui nomes como Graci Guarani e Olinda Wanderley Yawar Tupinambá, respectivamente diretora e codiretora do projeto “Falas da Terra”, da TV Globo, e Patrícia Ferreira Pará Yxapy, diretora de filmes que já participaram de festivais no Brasil e no mundo, como o Doclisboa, em Portugal, a Berlinale, na Alemanha, e o Margareth Mead Film Festival, em Nova York, nos Estados Unidos.
Pluralidade e expansão
“Katahirine” é uma palavra da etnia Manchineri que significa constelação. Assim como o próprio nome sugere, a Katahirine é a pluralidade, conexão e a união de mulheres diversas que se apoiam e promovem mulheres indígenas no audiovisual brasileiro. Dessa constelação participam mulheres de todos os biomas, de diferentes regiões e povos.
O foco inicial do mapeamento e da construção da Katahirine é no Brasil, mas a meta é abarcar cineastas de povos originários de outros países da América Latina. A primeira iniciativa para dar visibilidade à produção audiovisual das mulheres indígenas é o site oficial da rede, que funcionará como uma plataforma onde cada cineasta terá uma página com seu perfil, biografia e suas produções.
Futuramente, a Katahirine planeja promover encontros entre as realizadoras de todo o país e organizar mostras. A rede atuará ainda no desenvolvimento de estratégias de fortalecimento do audiovisual indígena e na proposição de políticas públicas que atendam a produção do cinema feito pelas mulheres indígenas.
Políticas públicas
“O audiovisual tem sido uma ferramenta de luta das mulheres indígenas. As produções cinematográficas têm contribuído para que elas reivindicam direitos, denunciem retrocessos e ocupem seu espaço na sociedade indígena e não indígena”, afirma Mari Corrêa, diretora do Instituto Catitu, responsável pela coordenação do projeto ao lado de Sophia Pinheiro, artista visual e cineasta, Helena Corezomaé, jornalista e escritora da etnia Balatiponé, e Natali Mamani, comunicadora e videoartista da etnia Aymara.
A rede tem também um conselho com a missão de garantir a participação indígena nas tomadas de decisão e promover articulações para incidência em políticas públicas que beneficiem a produção audiovisual das mulheres indígenas. O conselho também tem como atribuições elaborar e propor critérios da curadoria das cineastas e das obras, propor debates sobre temas relevantes para o coletivo e estabelecer diretrizes para o desenvolvimento das atividades da rede.
O conselho da Katahirine é formado majoritariamente por mulheres cineastas e pesquisadoras indígenas de diferentes etnias. Dele participam atualmente as cineastas indígenas Graciela Guarani, da etnia Guarani Kaiowá, Patrícia Ferreira Pará Yxapy, da etnia Mbyá-Guarani, Olinda Wanderley Yawar Tupinambá, da etnia Tupinambá/Pataxó Hã-Hã-Hãe, e Vanúzia Bomfim Vieira, do povo Pataxó.