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“The Flash” é mais um filme mediano e despretensioso da DC

"The Flash" (2023), de Andy Muschietti - Divulgação

Divulgação

Há mais de 15 anos, filmes de super-heróis dominam as salas de cinema do Brasil e do mundo. O sucesso é enorme e várias dessas megaproduções atingem números de bilheterias milionários, além de conquistar fãs que consomem todo o conteúdo possível das franquias. Os principais estúdios responsáveis por esses títulos são a Marvel e a DC, então, a comparação entre os longas de ambos é inevitável.

De 2008 até os dias de hoje, a Marvel construiu seu próprio universo cinematográfico, com diversas produções sendo interligadas. Já a DC optou por não fazer algo semelhante à concorrente de início, mas acabou propondo também a conexão entre alguns títulos, como “Liga da Justiça”, “Batman vs. Superman”, “O Homem de Aço” e agora “The Flash”.

Alguns personagens deste “Universo DC” fazem parte do filme solo de Barry Allen (novamente interpretado por Ezra Miller). Ao longo da trama, são ditas algumas frases que ligam a nova história a outras já vividas pelo grupo de heróis, mas nada muito profundo e sem muita necessidade. A verdade é que “The Flash” pode ser visto de forma isolada e compreendido perfeitamente pelo público que não acompanha toda a franquia (ponto para a DC).

"The Flash" (2023), de Andy Muschietti - Divulgação
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Dirigido pelo argentino Andy Muschietti (de “It – A Coisa”), o longa contém aparições desnecessárias de outros personagens e apresenta nomes que foram escalados claramente para fazer o famigerado fan service. E isso não é algo necessariamente negativo: o roteiro de Christina Hodson (de “Aves de Rapina” e “Bumblebee”), livremente inspirado no arco “Flashpoint” das HQs, consegue ganhar os aficionados por quadrinhos e ao mesmo tempo seguir com a coerência da história.

O único integrante da Liga da Justiça que realmente tem motivos para aparecer em “The Flash” é o Batman. Na primeira parte da trama, o Homem-Morcego, novamente interpretado por Michael Keaton (dos filmes do herói dirigidos por Tim Burton mais de 30 anos atrás), tem o papel de ser o mentor de Barry Allen, aconselhando-o quando preciso e também designando missões ao jovem. Já ao decorrer da história, o experiente justiceiro se torna ainda mais importante. Ver a relação dos dois integrantes da Liga é interessante e claramente traz questões positivas para o desenvolvimento do protagonista.

Por falar no Batman, um dos pontos altos da produção é ver como o personagem é muito bem representado, seja por Keaton ou por Ben Affleck, que também retorna ao papel graças ao conceito de multiverso (já explorado pela Marvel e pelo vencedor do Oscar “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”). Inclusive Keaton prova que a passagem do tempo não afetou sua ótima forma de interpretar Bruce Wayne e seu alter ego.

"The Flash" (2023), de Andy Muschietti - Divulgação
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Apesar das participações especiais, o filme realmente é sobre o Flash. A trama não abre brechas para que outros personagens se tornem mais importantes que o protagonista, deixando toda a complexidade da história focada no herói veloz.

“The Flash” é um filme com uma história independente e que não se preocupa em criar conexões futuras para a franquia. É uma trama fechada, com início, meio e fim. E para falar a verdade, a história é bem simples e não traz exatamente nenhuma novidade. Hodson optou em usar um tema central já conhecido por quem sabe o mínimo de viagem no tempo: se você alterar algum episódio do passado, coisas drásticas irão acontecer.

A falta de uma explicação mais complexa sobre as linhas temporais distintas e o multiverso é o que mais me incomoda no longa, afinal, o ponto principal da nova aventura do herói é esse. Tudo bem que nem tudo precisa ser explicado nos mínimos detalhes, duvidando da capacidade do espectador de entender tal assunto, mas quando essa é a trama central, é importante ter mais profundidade.

O filme tem vários pontos positivos: a atuação de Ezra Miller é bem divertida e confirma as impressões que surgiram desde a primeira vez que o ator interpretou o personagem. Ele realmente é a cara do Flash. Foi um enorme acerto (porém, com todos os problemas de Miller fora das telas, não sabemos se ele voltará aos cinemas com o papel futuramente). Os realizadores também acertaram na personagem que substitui o Superman: Sasha Calle, que dá vida à Supergirl, traz uma alta carga dramática e conquista seu espaço de importância na história. E volto a dizer: a atuação de Michael Keaton é muito empolgante e os fãs do ator como Batman ficarão felizes ao reencontrá-lo. É pura nostalgia.

"The Flash" (2023), de Andy Muschietti - Divulgação
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Quem vai ao cinema com o desejo de se divertir sairá satisfeito das salas. “The Flash” é colorido, engraçado e dinâmico. Hodson e Muschietti costuraram bem a ação, a comédia e o drama da história, apresentando uma trama completa, mas sem muitas ambições.

Mas os pontos negativos também existem, e o principal é o CGI (mais uma vez um filme de super-herói, que depende tanto de efeitos especiais, peca nesse quesito). As primeiras cenas chegam a ser pitorescas neste ponto. Há cenas de ação em que os personagens parecem peças de videogame, bonequinhos sem uma boa definição estética.

Os vilões do longa também deixam a desejar, principalmente a escolha em reaproveitar um que já existia e não foi bem desenvolvido: o General Zod, vivido por Michael Shannon em “O Homem de Aço”. Assim, quem realmente carrega a responsabilidade de ser a vilã da trama acaba sendo a própria viagem no tempo, que deixa o protagonista  dividido entre fazer o que é certo para si próprio ou para que o universo continue em ordem.

"The Flash" (2023), de Andy Muschietti - Divulgação
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Este é o antepenúltimo longa do “Universo Estendido DC”, idealizado pelo diretor Zack Snyder (a franquia será encerrada este ano com “Besouro Azul” e “Aquaman 2”, já que James Gunn agora está encarregado de fazer um reboot geral). E embora o próprio filme não se dê essa importância, acredito que este foi um grande acerto: não prometer muito e entregar o básico. Às vezes, o que queremos é mesmo só um filme simples para nos divertirmos. ■

filme The Flash

Nota:

filme The Flash

THE FLASH (2023, EUA). Direção: Andy Muschietti; Roteiro: Christina Hodson; Produção: Barbara Muschietti, Michael Disco; Fotografia: Henry Braham; Montagem: Jason Ballantine, Paul Machliss; Música: Benjamin Wallfisch; Com: Ezra Miller, Sasha Calle, Michael Shannon, Ron Livingston, Maribel Verdú, Kiersey Clemons, Antje Traue, Michael Keaton; Estúdio: Warner Bros. Pictures, DC Studios, Double Dream, The Disco Factory; Distribuição: Warner Bros.; Duração: 2 h 24 min.

filme The Flash

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