"Trem do Soul" (2021), de Clementino Jr - Imagem: Divulgação

Em sua 18ª edição, Mostra CineOP celebra a música preta no Brasil

Nesta quarta-feira, 21 de junho, começa a 18ª edição da CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, que vai até a próxima segunda-feira, dia 26. A programação exibe mais de 100 filmes brasileiros, em pré-estreias e mostras temáticas, homenageia o ator e cantor Tony Tornado, realiza o 18º Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros e o Encontro da Educação: XV Fórum da Rede Kino, além de promover oficinas, sessões cine-escola, lançamento de livros, festa junina, shows e atrações artísticas.

Único evento do país que estrutura sua programação em três frentes temáticas – Preservação, História e Educação (tendo cada uma delas seu próprio time de curadoria), esta edição da Mostra CineOP explora o tema geral “Memória e Criação para o Futuro”, que vai permear as ações ao longo de toda a mostra. Na temática Histórica, a proposta curatorial é sobre “Imagens da MPB (Música Preta no Brasil)”, enfatizando a presença da criação musical de artistas pretas e pretos nas trilhas sonoras e nos elencos, como personagens em ficção, documentários, videoclipes e performatividades variadas. A ideia da dupla de curadores da Mostra Histórica, Cleber Eduardo e Tatiana Carvalho Costa, é colocar em evidência a música preta em seus contextos históricos e culturais nos séculos XX e XXI na criação e inventividade de universos populares, mostrar a herança de tradições atualizadas do passado e de outras geografias e refletir sobre a riqueza a ser preservada na relação com as imagens. “Optamos por intitular de ‘Música Preta no Brasil’, e não ‘Brasileira’, para não cultivar o risco dos limites da identidade nacional, de brasilidades pressupostas, dos achatamentos das experiências e traços culturais no país, assim evitando uma ideia de brasilidade aglutinadora”, afirma Tatiana.

Homenagem a Tony Tornado

Em diálogo com a Temática História, o homenageado da 18ª Mostra CineOP é o ator e cantor Tony Tornado. Mais longevo profissional das duas artes em atividade no país, Tornado – atualmente no ar na novela das 18h da Rede Globo, “Amor Perfeito” – estará na Mostra para receber o Troféu Vila Rica, na quinta-feira, dia 22 de junho, e também realizará um show na cidade, na sexta-feira, dia 23, ao lado do seu filho, Lincoln Tornado. Nascido em Presidente Prudente (SP) em 1930, Tony estabeleceu-se a partir dos anos 1960 como um dos precursores do movimento da “black music” brasileira, inspirada na luta pelos direitos civis. Logo se tornou também um dos rostos negros mais conhecidos da TV e do cinema. “Tornado é a síntese do trabalhador da imagem, numa rara longevidade que revela a complexidade e os paradoxos da presença negra nas telas e na cultura brasileira”, diz o curador Cleber Eduardo.



Tony Tornado – Foto: Leo Lara/ Universo Produção

Filmes em longa, média e curta-metragem

A programação traz ao todo 125 filmes (30 longas, 9 médias e 86 curtas-metragens), vindos de 5 países (Brasil, Argentina, Colômbia, Equador, EUA) e de 14 estados brasileiros (AM, BA, CE, DF, ES, GO, MG, PB, PR, RJ, RN, RS, SC, SP) distribuídos em nove mostras – Contemporânea, Homenagem, Preservação, Histórica, Educação, Valores, Mostrinha e Cine-Escola. A exibição de abertura da Mostra CineOP, que acontece na noite de 22 de junho, é com “Baile Soul”, de Cavi Borges, que documenta um período entre anos 1960 e 70 quando as equipes de som realizavam bailes blacks em centenas de clubes espalhados pelo subúrbio do Rio de Janeiro, dando origem ao movimento “Black Rio”. Tony Tornado teve participação fundamental nesse processo e aparece no longa-metragem.

A Mostra Contemporânea tem curadoria de Cleber Eduardo (longas e médias), Camila Vieira (longas e médias) e Tatiana Carvalho Costa (curtas). Na seleção de longas: “Diálogos com Ruth de Souza”, de Juliana Vicente (“Racionais MC’s – Das Ruas de São Paulo pro Mundo”); “Lô Borges: Toda essa Festa”, de Rodrigo de Oliveira (o cantor estará presente no evento); “Antunes Filho: Do Coração para o Olho”, de Cristiano Burlan; “Amanhã”, de Marcos Pimentel; “Caixa Preta”, de Saskia e Bernardo Oliveira; “Filme Particular”, de Janaina Nagata; “Zé”, de Rafael Conde; “Confissões de um Cinema em Formação”, de Eugenio Puppo; e “O Cangaceiro da Moviola”, de Luís Alberto Rocha Melo.

Já a Mostra Histórica exibirá clássicos como “Rio Zona Norte” (Nelson Pereira dos Santos, 1957) e o raro “Uma Nêga Chamada Tereza” (Fernando Coni Campos, 1973), que dividem a programação com títulos contemporâneos, entre eles “Lupicínio Rodrigues: Confissões de um Sofredor” (Alfredo Manevy, 2022), “Paulinho da Viola: Meu Tempo é Hoje” (Izabel Jaguaribe, 2003) e “Simonal: Ninguém Sabe o Duro que Dei” (Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal, 2008).

Além das sessões presenciais, o público poderá assistir a filmes de qualquer lugar do Brasil, na plataforma do evento (cineop.com.br), na plataforma do Itaú Cultural Play, na TV UFOP e no Canal Educação, ampliando as janelas de exibição para quem não puder estar em Ouro Preto.

“Diálogos com Ruth de Souza” (2022), de Juliana Vicente – Imagem: Divulgação

 

Preservação

Na Temática Preservação, a curadoria de Fernanda Coelho e Vitor Graize definiu as discussões em torno do conceito “Patrimônio Audiovisual Brasileiro em Rede”. As atividades vão ser uma extensão de alguns dos assuntos tratados pelo setor no Fórum de Tiradentes, realizado na Mostra de Cinema de Tiradentes em janeiro de 2023. Muitos dos participantes compõem a Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA), que tem anualmente em Ouro Preto, na CineOP, seu principal fórum de encontros e debates. A experiência das redes, potencializada no período mais crítico da pandemia, e os novos desafios surgidos a partir daí, no que se refere à guarda de materiais audiovisuais, pautaram as definições para esse ano. A temática foi então pensada a partir dessas vivências e aglutina três eixos: o diálogo por políticas públicas para a preservação audiovisual num novo ciclo de governo, representada pela atualização do Plano Nacional de Preservação Audiovisual; o debate sobre a imposição do digital e suas questões éticas, técnicas e políticas; e a reflexão sobre a criação de uma rede nacional de arquivos audiovisuais. Também fundamental nos encontros anuais do setor na CineOP, o Plano Nacional de Preservação Audiovisual (PNPA), lançado em 2016 na 11ª edição do evento, será debatido pela ABPA, com uma nova versão apresentada a público, governo e imprensa.

Educação

Na Temática Educação, as redes também aparecem, deslocadas para o aprendizado a partir do conceito “Cinema e Educação Digital: Deslocamentos”, delineado pela curadoria de Adriana Fresquet e Clarisse Alvarenga. A proposta parte de uma reflexão do educador Paulo Freire sobre o poder da televisão, em 1983, para trazê-la ao tempo presente e problematizar as relações entre cinema e educação digital. A ideia é avaliar as potências e os riscos de ver, produzir e compartilhar audiovisual no contexto de uma educação que é simultaneamente analógica e digital atualmente. As conversas dos debates e dos Encontros de Educação, portanto, deverão se pautar por esses caminhos de compreender a relação entre a importância e necessidade da educação digital e a necessidade urgente de entendimento de seus riscos. Entre as palavras-chave adotadas, certamente vão aparecer algoritmos, metaverso, realidade aumentada, realidade mista, inteligência artificial e chatGPT.

SERVIÇO
18ª CineOp – Mostra de Cinema de Ouro Preto
De 21 a 26 de junho de 2023
Centro de Artes e Convenções e Praça Tiradentes, em Ouro Preto – MG (presencial)
CineOp.com.br, Itaú Cultural Play, TV UFOP e Canal Educação (online)
Programação completa e mais informações aqui.

 

Com informações da assessoria de imprensa da CineOP.