De agosto a dezembro, a Cinemateca Brasileira (cuja sede está localizada em um prédio histórico em São Paulo) realiza a mostra itinerante “A Cinemateca é Brasileira”. Com o objetivo de estreitar os laços da Cinemateca com instituições afins e apresentar parte da rica produção audiovisual brasileira a diferentes regiões do país, a programação vai passar por 12 cidades, exibindo uma seleção de 19 filmes importantes para a história do cinema brasileiro.
A mostra acontecerá em espaços culturais e salas de exibição de Belo Horizonte (MG), Brasília (DF) Canaã dos Carajás (PA), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), João Pessoa (PB), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), São Luís (MA) e Vitória (ES). Paralelamente à exibição de filmes, algumas cidades também receberão uma exposição sobre a história da Cinemateca Brasileira e do cinema nacional, além de ações educativas e formadoras. Maior acervo de filmes da América do Sul, a Cinemateca contará a sua história, e consequentemente a do cinema brasileiro, mesclando recursos digitais e analógicos.
O evento faz parte do Projeto Viva Cinemateca, lançado em junho como continuidade ao processo de retomada iniciado no ano passado. A iniciativa reúne os grandes projetos da Cinemateca voltados à recuperação de importantes acervos, além da modernização de sua sede e infraestrutura técnica, que visam sua revitalização e maior visibilidade de sua atuação na preservação e difusão do cinema brasileiro para diferentes públicos. Além da Mostra A Cinemateca É Brasileira, as ações de difusão também incluíram o Festival Cultura e Sustentabilidade, nos dias 10 e 11 de julho, e a Mostra Povos Originários da América Latina, de 11 a 16 de julho.
Itinerância pelo Brasil
A programação da Mostra A Cinemateca é Brasileira começa oficialmente no Paraná, de 11 a 27 de agosto, na Cinemateca de Curitiba. Em Belo Horizonte, acontece no Cine Santa Tereza, de 25 a 31 de agosto.
Em setembro, a mostra passa por: Recife (PE), na Fundação Joaquim Nabuco; São Luís (MA), no Instituto Cultural Vale Maranhão; Vitória (ES), no Festival de Cinema de Vitória e retorna novamente a Minas. Já em outubro, é a vez de João Pessoa (PB), no Cine Banguê, e Porto Alegre (RS), na Cinemateca do Capitólio.
Em novembro, a mostra chega à Casa de Cultura de Canaã dos Carajás, no Pará. No mesmo mês, a programação também integra o Festival de Cinema do Ceará, em Fortaleza. E, finalmente, em dezembro, a mostra se encerra em Salvador, na Bahia.
Cinema brasileiro em 19 filmes
A curadoria da Cinemateca Brasileira preparou uma seleção de 19 filmes que perpassam diferentes momentos históricos, propostas estéticas e abordagens temáticas, demonstrando a riqueza do cinema brasileiro ao longo dos mais de 120 anos de história.
Dos primeiros tempos do cinema brasileiro, estão “São Paulo: a Sinfonia da Metrópole” (Rodolfo Lustig e Adalberto Kemeny, 1929), que sintetiza sua vocação para o documentário, e o mitológico e vanguardista “Limite” (Mário Peixoto, 1931). O desejo de estabelecer uma indústria cinematográfica forte no Brasil, que culmina na fundação dos estúdios Atlântida e Vera Cruz, pode ser visto em “Carnaval Atlântida” (José Carlos Burle, 1952), com a “dupla do barulho” Grande Otelo e Oscarito; em “Jeca Tatu” (Milton Amaral, 1959), título no qual Amácio Mazzaropi desenvolveu a figura do caipira, seu personagem mais conhecido; e na superprodução da Vera Cruz, “O Cangaceiro” (Lima Barreto, 1953).
“Cinco Vezes Favela” (Marcos Farias; Carlos Diegues; Miguel Borges; Joaquim Pedro de Andrade; Leon Hirszmann, 1962) e “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (Glauber Rocha, 1964) são filmes que mostram a preocupação do Cinema Novo em representar a classe trabalhadora e as desigualdades sociais, enquanto o Cinema Marginal e seu “O Bandido da Luz Vermelha” (Rogério Sganzerla, 1968) desafiam a estética e linguagem cinemanovista.
“O Pagador de Promessas” (Anselmo Duarte, 1962), a partir de uma narrativa clássica aprimorada desde as produções da Vera Cruz, evoca o sincretismo religioso e a cultura popular. Produzido por Oswaldo Massaini, o filme conquistou a única Palma de Ouro no Festival de Cannes para o Brasil. Por sua vez, com suas produções independentes, José Mojica Marins cria seu icônico personagem Zé do Caixão em “À Meia-noite Levarei sua Alma” (1964).
“Macunaíma” (1969), de Joaquim Pedro de Andrade, cineasta associado ao Cinema Novo, se afasta das propostas do movimento para realizar um filme influenciado pelo tropicalismo, baseado na obra clássica de Mário de Andrade. Na década de 1970, “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (Bruno Barreto, 1979) adapta outro grande autor – Jorge Amado – e faz números de bilheteria impressionantes.
Também integram a seleção três títulos de grande impacto nos anos 1980: os documentários “Cabra Marcado para Morrer” (Eduardo Coutinho, 1984) e “Ilha das Flores” (Jorge Furtado, 1989); e a ficção “A Hora da Estrela” (Suzana Amaral, 1985), adaptação da obra homônima de Clarice Lispector que revelou o talento de Marcélia Cartaxo, vencedora do prêmio de Melhor Atriz no Festival de Berlim.
Uma das obras mais importantes da chamada retomada do cinema brasileiro, nos anos 1990, é “Central do Brasil” (Walter Salles, 1998), que venceu o Urso de Ouro e o prêmio de melhor atriz para Fernanda Montenegro no Festival de Berlim de 1998. Vencedor de dezenas de prêmios nacionais e internacionais e indicado ao Oscar em quatro categorias, “Cidade de Deus” (Fernando Meirelles e Katia Lund, 2002) é até hoje o filme brasileiro com maior número de indicações ao prêmio da Academia.
Dos mais recentes da seleção, “Bacurau” (Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Filho, 2019), prêmio do júri na competição oficial do Festival de Cannes, mistura crítica social e distopia para contar a história de um povoado nordestino que subitamente some do mapa; e “Marte Um” (Gabriel Martins, 2023), produzido na periferia de Contagem (MG), mostra o cotidiano de uma família negra de baixa renda e o sonho do filho caçula em viajar para Marte. O longa estreou no Festival de Sundance e foi o Melhor Filme, na escolha do público, do Festival de Gramado.
Sobre a Cinemateca Brasileira
A Cinemateca Brasileira é o maior acervo de filmes da América do Sul e membro pioneiro da Federação Internacional de Arquivo de Filmes – FIAF. Foi inaugurada em 1949 como Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo, tornando-se Cinemateca Brasileira em 1956, sob o comando do seu idealizador, conservador-chefe e diretor Paulo Emílio Sales Gomes. Compõem o cerne da sua missão a preservação das obras audiovisuais brasileiras e a difusão da cultura cinematográfica.
Desde 2022, a instituição é gerida pela Sociedade Amigos da Cinemateca, entidade criada em 1962, e que recentemente foi qualificada como Organização Social. O acervo da Cinemateca Brasileira compreende mais de 40 mil títulos e um vasto acervo documental (textuais, fotográficos e iconográficos) sobre a produção, difusão, exibição, crítica e preservação cinematográfica. Além disso, há um patrimônio informacional online dos 120 anos da produção nacional. Alguns recortes de suas coleções, como a Vera Cruz, a Atlântida, obras do período silencioso, além do acervo jornalístico e de telenovelas da TV Tupi de São Paulo, estão disponíveis no Banco de Conteúdos Culturais para acesso público.