"Meu Nome é Gal" (2023), de Dandara Ferreira e Lô Politi - Foto: Stella Carvalho/Divulgação
"Meu Nome é Gal" (2023), de Dandara Ferreira e Lô Politi - Foto: Stella Carvalho/Divulgação

“Meu Nome é Gal” mostra vida da cantora com beleza e superficialidade

Há artistas que são mais do que personalidades respeitadas e amadas pelo seu público. Existem nomes que são tão grandes e únicos, que até quem não acompanha seu trabalho, sabe quem é – e mais do que isso, essas pessoas têm o respeito e admiração de todos. E estes mesmos artistas são tão especiais, que a maioria das pessoas conhecem ao menos uma música deles e identificam suas vozes onde quer que seja, afinal, são cantores com características marcantes, sem igual, que trazem consigo força e personalidade.

Gal Costa é uma destas artistas.

Em  “Meu Nome é Gal”, Sophie Charlotte, que interpreta a cantora, consegue mostrar ao público a imponência da artista. A doçura, o brilho dos olhos, a paixão pelo o que é novo, a sensibilidade, o medo, a beleza… Tudo isso é retratado incrivelmente pela atriz, que também traz a força, a presença, o olhar marcante, a intensidade, a emoção, a tristeza e a sensualidade de Gal.



O nome do filme deixa claro sobre o que ele quer apresentar: a personalidade de uma das maiores cantoras do Brasil. E é isso que o longa faz ao narrar o início da carreira da artista e como ela é mais do que uma bela voz, mostrando a importância de suas relações de amizades, amorosas e, também, a relação consigo mesma. O roteiro de Lô Politi, Maíra Buhler e Mirna Nogueira mostra Maria da Graça Penna Burgos Costa ainda buscando encontrar Gal Costa, através de conflitos e questões internas.

Toda essa trajetória é apresentada na tela de uma forma muito cuidadosa e agradável. É bonito ver a amizade de Gal, Gilberto Gil e Caetano Veloso, tão conhecida pelo Brasil inteiro. Como não poderia ser diferente, o nascimento da Tropicália também é mostrado no filme e, novamente volto a dizer, de forma muito cuidadosa. Cuidadosa até demais.

"Meu Nome é Gal" (2023), de Dandara Ferreira e Lô Politi - Foto: Stella Carvalho/Divulgação
“Meu Nome é Gal” (2023), de Dandara Ferreira e Lô Politi – Foto: Stella Carvalho/Divulgação

A história do grupo tem relação próxima com o enfrentamento à ditadura militar que aconteceu no país, e qualquer pessoa que saiba o mínimo da história do Brasil sabe dos fatos. Porém, tudo o que é ligado a esse assunto é abordado de uma forma muito superficial, mesmo problema que o longa apresenta ao trazer os relacionamentos de Gal. Com exceção da relação com Gil e Caetano, todas as outras pessoas da vida da cantora são apresentadas sem profundidade. Falta mais desenvolvimento, mais diálogo, mais tempo de tela, problemas que talvez poderiam ser resolvidos com um filme de maior duração.

A impressão que fica é que o roteiro prefere fazer vista grossa em alguns temas e focar mais na beleza e na arte que faziam parte do dia a dia de Gal. Se essa foi a intenção, estes pontos realmente são apresentados de maneira 100% eficaz, porém, optar por não mostrar a profundidade das relações da cantora deixa o longa mais raso e simples – e se há adjetivos que não podem ser utilizados ao descrever a vida de Gal, são esses dois.

Mas, se o roteiro peca nesse quesito, as diretoras Dandara Ferreira e Lô Politi acertam em cheio na escolha dos profissionais responsáveis pela fotografia e trilha sonora. É fácil notar que houve uma ampla pesquisa de imagens sobre os fatos que aconteciam no período em que o filme se passa, e elas são inseridas no longa de um jeito capaz de prender o público e o deixar interessado e com vontade de ver mais daquilo.

A estética de “Meu Nome é Gal” também é um ponto positivo, sendo composta pelo rico figurino dos personagens e pelas imagens que mostram as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. O público pode sentir através da tela a beleza e as cores da capital fluminense e a melancolia e seriedade da cidade da garoa. É visível inclusive como a personalidade da cantora muda quando ela está nestes locais.

E a trilha sonora de Otávio de Moraes é muito bem construída e executada, além de ter sido muito interessante descobrir as histórias por trás de canções famosas da artista.

"Meu Nome é Gal" (2023), de Dandara Ferreira e Lô Politi - Foto: Stella Carvalho/Divulgação
“Meu Nome é Gal” (2023), de Dandara Ferreira e Lô Politi – Foto: Stella Carvalho/Divulgação

“Meu Nome é Gal” é uma bonita homenagem à cantora, que, infelizmente, não pôde assistir ao filme, pois faleceu no dia 9 de novembro de 2022 (inclusive acredito que, se fosse um longa póstumo, a abordagem seria diferente, com mais intensidade e emoção). Apesar da falta de profundidade, o longa cumpre o papel de apresentar a todos, fãs ou não, a potência de Gal Costa, e o público deverá sair dos cinemas envolto e encantado por este poderoso nome da música popular brasileira. ■

filme meu nome é gal

Nota:

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MEU NOME É GAL (2023, Brasil). Direção: Dandara Ferreira, Lô Politi; Roteiro: Lô Politi, Maíra Buhler, Mirna Nogueira; Produção:Marcio Fraccaroli, Lô Politi, André Fraccaroli, Veronica Stumpf; Fotografia: Pedro Sotero; Montagem: Eduardo Gripa, Eduardo Serrano; Música: Otavio de Moraes; Com: Sophie Charlotte, Rodrigo Lellis, Camila Mardila, Luis Lobianco, Dan Ferreira, Dandara Ferreira, Chica Carelli, George Sauma; Estúdio: Paris Entretenimento, Dramática Filmes; Distribuição: Paris Filmes; Duração: 1 h 30 min.

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